Com uma população de pouco mais de 17 mil habitantes, o município de Envira, situado no sudoeste do Amazonas a 1.200 km de Manaus, já sente os efeitos devastadores daquela que pode ser a maior seca dos últimos anos no estado, conforme alerta o governo estadual. Aproximadamente dez mil pessoas estão sendo impactadas pelo fenômeno, que tem isolado comunidades, encalhado embarcações e dificultado o abastecimento de insumos no município. A previsão é que essa situação crítica, já visível em Envira, se espalhe por todo o estado.
No ano passado, Envira também foi afetada pela seca, que isolou comunidades e causou problemas de abastecimento. No entanto, neste ano, a estiagem começou mais cedo. Em 16 de julho de 2023, o Rio Tarauacá, que banha a cidade, tinha uma profundidade de 8,55 metros. Um ano depois, a profundidade é de apenas 5,26 metros. A situação no Rio Jurupari é ainda mais alarmante: na sua foz, as águas estão tão baixas que é possível atravessar a pé entre as duas margens, com o nível de água caindo de 6,77 metros no ano passado para 1,22 metro atualmente.
A situação emergencial levou a prefeitura de Envira a decretar estado de emergência. Dados da Defesa Civil apontam que sete mil pessoas já foram afetadas pela seca dos rios Taraucá e Envira na sede do município, enquanto outras três mil sofrem com os efeitos na zona ribeirinha. A escassez de água tem causado não apenas dificuldades de transporte, mas também ameaça o abastecimento de itens essenciais para a população.
A localização remota de Envira agrava ainda mais a situação. Normalmente, é mais fácil acessar a cidade por Feijó, no Acre, utilizando barcos ou aviões. Porém, com a seca, esse trajeto se tornou extremamente complicado. “O normal é os barcos saírem de Feijó de manhã e chegarem aqui pela noite ou na manhã seguinte. Hoje, barcos com 10, 15 toneladas estão demorando dez dias para fazer esse trajeto”, relatou Ismael Dutra, chefe da Defesa Civil municipal.
A escassez de água afeta também a economia local. Elvis Melo, um barqueiro que transporta verduras de Feijó até Envira, teve que trocar para uma canoa menor para continuar trabalhando, aumentando o tempo de viagem de um para seis a sete dias. “A gente tem perdido muitas verduras por conta do tempo de viagem. Aí, o que fazemos é vender a preço de custo para não perder a mercadoria”, explicou Elvis.
A seca também acendeu alertas na área da saúde. Com o isolamento, Envira corre o risco de ficar sem oxigênio, conforme informou o secretário de saúde Maronilton Silva. “Hoje, a nossa logística se faz através do estado do Acre. Isso levava dois, três dias. Agora, são 11, 12 dias para o oxigênio chegar a Envira. Ainda não temos usina, ficamos no aguardo, vamos precisar tomar medidas para não ficarmos sem o insumo”, declarou.
O governo do Amazonas decretou estado de emergência em 20 dos 62 municípios do estado, incluindo Envira, devido à seca e às queimadas. Ações emergenciais estão sendo tomadas para garantir o abastecimento de água potável, insumos e medicamentos, além de medidas para manter o funcionamento da rede estadual de educação e realizar dragagens nos rios.
A situação em Envira é um alerta urgente para a necessidade de ações mais eficazes e preventivas contra os efeitos da seca. A população local enfrenta um desafio crescente e a resposta das autoridades será crucial para mitigar os impactos desta crise ambiental e humanitária.
Com informações do G1