A sexta-feira do Corinthians não foi nada fácil. Se o ambiente do clube paulista já era de crise antes de ontem, os acontecimentos que se sucederam no dia 7 de junho transformaram o noticiário da equipe em um verdadeiro furacão de notícias ruins.
O fim do contrato mais valioso da história do futebol brasileiro com a Vai de Bet, a provável saída do goleiro titular do time, as demissões de dois diretores do clube, salários atrasados e até mesmo falta de energia na Neo Química Arena tornaram o dia do Corinthians em um pesadelo que não parecia ter fim. Para piorar o cenário, a equipe se encontra no Z-4 do Brasileirão. O Estadão separou cinco pontos para você entender a crise que assola a equipe do Parque São Jorge.
A RESCISÃO DO CONTRATO COM A VAI DE BET
Divulgada como o “maior acordo de patrocínio do futebol brasileiro”, a parceria entre o Corinthians e a Vai de Bet foi encerrada de forma abrupta e unilateral por parte da casa de apostas após uma série de suspeitas de corrupção no repasse de parte do valor acordado. O anúncio do final do patrocínio ocorreu na manhã desta sexta-feira, mas já estava sendo ventilado pela casa de apostas há alguns dias.
A decisão ocorreu após os polêmicos pagamentos da Rede Media Social Ltda, intermediária do acordo, à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, suposta empresa “laranja” cujo CNPJ está no nome de Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, membro da equipe de comunicação do presidente Augusto Melo. Nesta semana, a Polícia Civil notificou o clube e pediu informações sobre a intermediação do contrato de patrocínio.
Em comunicado, a patrocinadora afirmou ter tomado a decisão com base em dispositivos contratuais. “A marca avalia que não se pode manter a parceria enquanto pairar sobre o acordo qualquer suspeita em relação a condutas que fujam à conformidade com a ética e os preceitos legais. Só a dúvida, no crivo ético da marca, já é suficiente para determinar a rescisão – que foi exercida pela Vai de Bet suscitando cláusulas do contrato que protegem direitos da marca nessa decisão”, diz trecho da nota divulgada à imprensa.
Ao todo, o patrocínio master previa um pagamento de R$ 360 milhões ao longo de três temporadas, ou 36 meses. O Corinthians recebeu R$ 60 milhões pela parceria antes da rescisão do contrato, mas deixou de ganhar R$ 300 milhões pelos próximos dois anos e meio.
A PROVÁVEL SAÍDA DE CARLOS MIGUEL
O baque com o fim do contrato com a Vai de Bet sequer tinha sido absorvido quando surgiu a notícia de que o goleiro Carlos Miguel, atual titular da equipe, estava negociando sua saída com dois clubes ingleses – West Ham e Nottingham Forest. A possível transferência pegou torcedores de surpresa, visto que após a despedida de Cássio, acreditava-se que a permanência de Carlos Miguel estivesse certa.
Até o ano passado, a multa do goleiro era alta – cerca de 50 milhões de euro (R$ 285 milhões) -, mas o valor diminuiu drasticamente para a atual temporada – somente 4 milhões de euro (R$ 22,8 milhões). Considerado uma promessa, as cifras baixas de Carlos Miguel chamaram a atenção do futebol inglês. O Corinthians até tenta uma proposta de um novo contrato, mas o goleiro parece decidido a sair do clube.
Nas redes sociais, corintianos inundaram o perfil do jovem de 25 anos e demonstraram sua insatisfação com a postura do atleta, xingando-o de “mercenário” e “traidor”. Muitos também criticam a diretoria, que permitiu a saída de Cássio sem a certeza de que Miguel ficaria em seu lugar.
A DEMISSÃO DE DOIS DIRETORES
Como se as notícias ruins não fossem o bastante, a diretoria alvinegra ainda sofreu duas baixas após o anúncio da rescisão do contrato com a Vai de Bet. Rozallah Santoro e Fernando Alba, diretor financeiro e diretor-adjunto de futebol, respectivamente, optaram por entregar os cargos.
Anteriormente, a polêmica do “laranja” envolvendo a intermediária do acordo com a patrocinadora já havia motivado a saída do diretor jurídico Yun Ki Lee e do diretor jurídico adjunto Fernando Perino.
Tanto Santoro quanto Alba fazem parte do grupo político Movimento Corinthians Grande, da tradicional Chapa 82, que apoiou Augusto Melo na eleição que tirou o grupo de Andrés Sanchez após 16 anos no poder. A ala entende que o mandatário não cumpriu promessas de campanha e está insatisfeita após as seguidas polêmicas envolvendo o clube.
SALÁRIOS ATRASADOS
Para completar o dia trágico do Corinthians, o clube atrasou o salário de todos os funcionários e jogadores referentes ao mês de maio. O pagamento dos vencimentos deveria ter sido feito na última quinta-feira, 6, mas não foi.
Procurado, o time alvinegro alegou que os atrasos se devem a “problemas operacionais no fluxo de caixa”. O clube afirmou que os funcionários e gestores foram avisados e que os pagamentos serão feitos na segunda-feira, 10.
O Estadão apurou que, internamente, havia há três meses a tensão e o temor de que os salários iriam atrasar. O clube faz os depósitos em todo quinto dia útil – os sábados são considerados dia útil – de cada mês aos seus colaboradores, incluindo os atletas, cujos contratos são submetidos a todas as regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
O pagamento está atrasado em um dia. Nesta sexta-feira, os responsáveis pelo departamento financeiro já deram expediente e indicaram que o dinheiro não irá cair antes do fim de semana. O comentário, internamente, é que o montante que estava reservado para os pagamentos dos colaboradores “sumiu”.
NEO QUÍMICA ARENA SEM ENERGIA
A cereja no topo do bolo da situação corintiana foi a falta de energia na Neo Química Arena. O estádio ficou mais de 24 horas sem luz, com a energia retornando somente no final da noite de sexta-feira.
Segundo a Enel, a “interrupção no fornecimento de energia, que teve início nesta quinta-feira, na Neo Química Arena, ocorreu em razão de um defeito interno nas instalações do estádio”.
Ao Estadão, a empresa confirmou que a luz foi reestabelecida no estádio às 20h54. “Equipes da Enel estiveram no local para restabelecer a energia após o recebimento de laudo técnico informando a realização dos reparos necessários por parte do cliente”, afirmou o órgão em comunicado.(AE)