A primeira Faculdade de Engenharia Civil do Pará surgiu em 1931, no bojo de uma campanha por sua criação desencadeada pelo jornalista Paulo Eleutério Sênior.
A Escola de Engenharia do Pará – EEP peregrinou por alguns endereços até se instalar na Rua Campos Sales, de onde só sairia muitos anos depois, para o campus da UFPA, no Guamá.
A faculdade já funcionava havia mais de cinco anos, quando Angenor Porto Penna de Carvalho, então com menos de 30 anos de idade, integrou-se a seu quadro de docentes.
A chegada de Angenor à EEP provocou grande impacto no processo de formação dos seus alunos.
Desde criança, Angenor estava ligado à Engenharia.
Dezenove anos antes de ele nascer, no final dos anos de 1800, seu avô, Felipe Augusto de Carvalho e alguns de seus tios tornaram-se sócios da Companhia Construtora Paraense.
A companhia levantou duas vilas operárias próximas da Avenida Gentil Bitencourt, em Belém, e fez outras obras.
Na empresa, os parentes de Angenor tinham mais um sócio: o maranhense Antônio Lemos, anos depois, introduzido na História de Belém, como o seu mais importante prefeito.
Outro antepassado de Angenor, seu tio João Ferreira Penna, formado engenheiro na Inglaterra, construiu talvez o primeiro elevador do Pará, numa propriedade de sua família, em Soure, chamada de Retiro Meu Sossego.
O próprio pai de Angenor, Filinésio Augusto, era uma personalidade da Engenharia do Pará, tendo ocupado o cargo de Secretário Estadual de Obras.
Aliás, foram Filinésio e João Penna os construtores das três belas casas com dois pavimentos de pés direitos elevados e porões que permanecem na Rua Quintino Bocaiúva, quase na esquina da Avenida Nazaré.
Angenor, ainda jovem mudou-se para o Rio de Janeiro em companhia de seu irmão, Edmar, onde os dois pretendiam estudar.
Ali, eles se hospedaram numa pensão próxima da Praia do Flamengo.
Edmar não perdeu tempo.
Matriculou-se no curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes, quando lá estudavam Oscar Niemeyer, o futuro construtor de Brasília, e, Burle Marx, o maior paisagista brasileiro.
Na sua escola, Edmar teve o privilégio de ouvir palestra de Le Corbusier, o famoso arquiteto francês que exerceria grande influência no surgimento da arquitetura modernista no Brasil.
Depois de se formar, Edmar projetou um prédio em Copacabana e diversos conjuntos habitacionais para uma extensa área do Rio de Janeiro.
Num destes conjuntos, surgiu a Escola de Samba de Padre Miguel.
Quando voltou a Belém, Edmar projetou o prédio do atual INPS, na Avenida Presidente Vargas, e o conjunto operário do Largo de São Braz, além de outras obras em Itacoatiara, Boa Vista e Rondônia.
Depois, Edmar se tornou professor da Faculdade de Arquitetura da UFPA e, até a sua morte, se manteve ligado àquela instituição.
Quanto a Angenor, ele conseguiu ser aceito na Politécnica do Rio de Janeiro, a mais importante escola da História do Ensino da Engenharia no Brasil.
E lá se tornou um aluno dileto do maior calculista da História da Engenharia do Brasil, Antônio Alves Noronha.
Noronha foi o responsável pelos cálculos das construções do Estádio do Maracanã, e, anos depois, da ponte Rio-Niterói.
As exposições que Noronha fazia em suas aulas Angenor e um colega seu, Alim Pedro (depois, prefeito do Rio de Janeiro), anotavam febrilmente.
Com aquelas anotações, os dois criaram a apostila que se tornou o primeiro material didático do ensino de Cálculo, no Brasil, adotada até pelos cursos das Forças Armadas.
Ao aprendizado que teve na Politécnica, Angenor pode acrescentar outro, muito rico, obtido no conceituado escritório de Cálculos de Noronha, onde trabalhou por cinco anos.
Noronha tornou-se mestre, patrão e amigo.
Na companhia dele, Angenor participou do grupo que elaborou a Norma Brasileira Número Um, relativa ao uso de cimento armado, para a Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Foi o conhecimento da técnica do uso do concreto armado – com a qual era possível construir prédios elevados – que Angenor trouxe para a Amazônia, ao retornar a Belém, em 1936.
Depois que ele se tornou professor da EEP, os engenheiros saídos da faculdade passaram a levantar, a partir de 1940, os primeiros edifícios de Belém, como o Piedade e o Renascença, ambos num trecho entre a Praça da República e a Avenida Presidente Vargas.
*Oswaldo Coimbra é escritor e jornalista
WHO TAUGHT PEOPLE FROM PARÁ TO BUILD TALL BUILDINGS
The School of Engineering of Pará (EEP) had been operating for over five years when Angenor Porto Penna de Carvalho, then under 30 years old, joined its faculty.
Angenor’s arrival at the EEP had a significant impact on the education of its students.
Since childhood, Angenor had been closely connected to engineering.
Nineteen years before he was born, in the late 1800s, his grandfather, Felipe Augusto de Carvalho, and some of his uncles became partners in the Companhia Construtora Paraense.
This company built two workers’ villages near Avenida Gentil Bittencourt in Belém and carried out other construction projects.
Among Angenor’s relatives in the company was another partner: the Maranhão-born Antônio Lemos, who years later would be recognized in the history of Belém as its most important mayor.
Another of Angenor’s ancestors, his uncle João Ferreira Penna, was an engineer trained in England. He built what was perhaps the first elevator in Pará, installed on his family’s property in Soure, called Retiro Meu Sossego.
Angenor’s father, Filinésio Augusto, was also a prominent figure in engineering in Pará, having held the position of State Secretary of Public Works.
In fact, it was Filinésio and João Penna who built the three beautiful two-story houses with high ceilings and basements that still stand on Rua Quintino Bocaiúva, near the corner of Avenida Nazaré.
As a young man, Angenor moved to Rio de Janeiro with his brother, Edmar, where both intended to study.
They stayed in a boarding house near Praia do Flamengo.
Edmar wasted no time.
He enrolled in the Architecture program at the Escola de Belas Artes, where he studied alongside Oscar Niemeyer, the future architect of Brasília, and Burle Marx, Brazil’s greatest landscape designer.
During his studies, Edmar had the privilege of attending a lecture by Le Corbusier, the renowned French architect who greatly influenced the rise of modernist architecture in Brazil.
After graduating, Edmar designed a building in Copacabana and several large housing complexes in Rio de Janeiro.
One of these complexes became home to the Padre Miguel Samba School.
When he returned to Belém, Edmar designed the current INPS building on Avenida Presidente Vargas and the workers’ housing complex in Largo de São Braz, along with projects in Itacoatiara, Boa Vista, and Rondônia.
Later, Edmar became a professor at the UFPA School of Architecture and remained connected to the institution until his death.
As for Angenor, he was accepted into the Polytechnic School of Rio de Janeiro, the most prestigious institution in Brazil’s engineering education history.
There, he became a favored student of Antônio Alves Noronha, the greatest structural engineer in Brazilian history.
Noronha was responsible for the structural calculations of the Maracanã Stadium and, years later, the Rio-Niterói Bridge.
Angenor and his classmate, Alim Pedro (who later became mayor of Rio de Janeiro), would feverishly take notes on Noronha’s lectures.
With these notes, they created a booklet that became the first official teaching material for Calculus in Brazil, even adopted by the Armed Forces.
Beyond his studies at the Polytechnic, Angenor gained invaluable experience working for five years at Noronha’s prestigious structural engineering office.
Noronha became his mentor, employer, and friend.
Alongside Noronha, Angenor was part of the team that developed Norma Brasileira Número Um (Brazilian Standard Number One), which set national guidelines for the use of reinforced concrete under the Brazilian Association of Technical Standards (ABNT).
It was this expertise in reinforced concrete—a technology that enabled the construction of tall buildings—that Angenor brought to the Amazon when he returned to Belém in 1936.
After becoming a professor at the EEP, engineers graduating from the school began constructing the first high-rise buildings in Belém, starting in the 1940s with Edifício Piedade and Edifício Renascença, both located between Praça da República and Avenida Presidente Vargas.
Oswaldo Coimbra is a writer and journalist.