A Polícia Federal cumpre na manhã desta quinta-feira 29 mandados de busca e apreensão no Rio e em São Paulo no bojo de uma investigação que mira suposta organização criminosa que “se utilizava de instituição de ensino e pesquisa de renome nacional”, no caso, a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Batizada Sofisma, a ofensiva apura um esquema de corrupção, fraudes a licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. De acordo com a PF, o nome da Operação faz “alusão à figura grega dos Sofistas”. “Filósofos que, através da argumentação, transvestiam de veracidade informações que sabiam ser falsas, com a intenção de manipular a população”, afirmou a corporação.
A etapa ostensiva do inquérito foi aberta pelo juízo da 3ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, que ainda deferiu ordens de sequestro e cautelares restritivas. Cerca de cem policiais participam das diligências, cumprindo 26 mandados na capital fluminense e três na capital paulista.
Segundo a Polícia Federal, as investigações tiveram início em 2019, após informações de que a FGV “era utilizada por órgãos federais e por vários outros órgãos estaduais para fabricar pareceres”. Os investigadores apontam que tais documentos “mascaravam o desvio de finalidade de diversos contratos que resultaram em pagamento de propinas” – “funcionando como um verdadeiro ‘biombo legal'”.
“Apurou-se que a entidade superfaturava contratos realizados por dispensa de licitação e era utilizada para fraudar processos licitatórios, encobrindo a contratação direta ilícita de empresas indicadas por agentes públicos, de empresas de fachada criadas por seus executivos e fornecendo, mediante pagamento de propina, vantagem a empresas que concorriam em licitações coordenadas por ela”, afirmou a PF em nota.
A corporação informou ainda que, para ‘lavar’ o dinheiro, executivos sob suspeita não só usavam empresas de fachada nacionais como titularizavam offshores em paraísos fiscais como Suíça, Ilhas Virgens e Bahamas, o que indica possíveis evasão de divisas e ilícitos fiscais.
COM A PALAVRA, A FGV
A reportagem entrou em contato com a instituição. O espaço está aberto para manifestações. (AE)
Embaraços
Segundo o repórter Rodrigo Rangel, do site Metrópoles, a operação deflagrada na manhã desta quinta-feira pela Polícia Federal contra a Fundação Getúlio Vargas, a FGV, “tem potencial para criar embaraços imensos para ministros de tribunais superiores de Brasília, como o Superior Tribunal de Justiça e até mesmo o Supremo Tribunal Federal. A investigação da PF mira suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraude em licitações que envolveriam a fundação”.
Diz Rangel que a FGV ” tem laços estreitos há tempos com magistrados de Cortes superiores. Nos últimos tempos a fundação passou, por exemplo, a participar da organização de eventos jurídicos que eram realizados por entidades ligadas a magistrados e que recebem patrocínios de empresas com interesses em tribunais.
A quebra dos sigilos da entidade no curso da investigação pode detalhar o caminho do dinheiro a partir dos repasses, com chances de escalar o caso para instâncias elevadas do Poder Judiciário. Integrantes da cúpula da FGV que são alvo dos mandados de busca e apreensão cumpridos nesta quinta são íntimos de importantes ministros das Cortes brasilienses.”