Ao contrário do que publica 99% da mídia do Pará, rasgando elogios e salamaleques ao governador Helder Barbalho a cada frase dele em Dubai, desconectada da realidade em que vivem os paraenses, nem tudo é unanimidade sobre as declarações do chefe do executivo regional. Há quem discorde e fundamente sua discordância, como Auricélia Arapiun, líder do povo Arapium e coordenadora do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (Cita).
Durante palestra na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), em Dubai, Auricélia não poupou o governador emedebista de contundentes críticas, afirmando que Helder “vende um Pará inexistente ” para quem o ouve em Dubai.
“Como o governador tem coragem de chegar em eventos internacionais e falar que o Estado do Pará é exemplo de políticas ambientais, se o Pará continua sendo o campeão de desmatamento e queimadas florestais? Esse Pará que o Helder descreve para o mundo não existe”, alfinetou a liderança de 14 povos indígenas da região do Baixo Tapajós. Na palestra, ela apontou as falhas que o governo paraense comete, destacando a “crise social e ambiental”, principalmente a seca que se abateu sobre a região oeste do estado.
Um fato público e notório destacado por Auricélia em Dubai, para aqueles que ouviam a palestra dela: Helder Barbalho não ouve, não dialoga com líderes indígenas, quilombolas e representantes de comunidades da floresta. Ele só ouve aliados políticos e quem elogia suas atitudes, irritando-se quando é criticado.
“A gente não consegue falar com o Helder no Pará. A gente tem que atravessar o mundo, vir para um evento internacional, para sentar em uma sala com ele e ter a oportunidade de ser ouvida. Então, quero aproveitar cada oportunidade que tiver aqui. Os povos indígenas do Pará querem participar dos preparativos da COP e das construções de políticas do Estado“, arrematou.
E destacou que os povos indígenas do Baixo Tapajós não são ouvidos, embora queiram participar das discussões e apresentar propostas. “Nossa região é esquecida pelo poder público. Sofremos com queimada, seca, garimpo, contaminação do rio, ameaça de hidrelétricas. Isso precisa mudar se o Estado quer ser exemplo“.
Outra palestra, no sábado, 9
Neste sábado, Auricélia fará palestra na mesa sobre “Monitoramento indígena: papel dos povos indígenas de mitigação às mudanças e emergência climática”. Além dela, fazem parte da mesa a coordenadora da Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam), Mariazinha Baré; a coordenadora-geral da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima), Marcilene Guajajara; e o coordenador-executivo da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (Apoianp), Demétrio Tiriyó.
Nota da Secom
A Secretaria de Comunicação do governo do Estado enviou ao Ver-o-Fato a seguinte nota:
” O Governador do Pará, Helder Barbalho, a Secretária de Estado dos Povos Indígenas, Puyr Tembé e a liderança do povo Arapium e coordenadora do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns, Auricélia Arapiun, dialogaram nesta terça-feira (05) com a Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (FEPIPA), durante agenda na Cop 28, em Dubai.
O objetivo do encontro foi discutir a participação ativa de todos na COP 30, que ocorrerá na capital paraense em novembro de 2025. Entre os temas discutidos, a garantia dos direitos indígenas na demarcação de territórios, mitigação das mudanças climáticas e a segurança alimentar em áreas vulneráveis, como a Etnoregião do Baixo Tapajós. Também foi abordada a importância da produção e comercialização de alimentos para a merenda escolar.Além disso, a reunião garantiu o apoio do Estado na logística da ação humanitária que ocorrerá nos próximos dias, com foco na redução dos efeitos da crise causada pela estiagem no Baixo Tapajós”.