Novo Progresso, Pará, 28 de março de 2025 – O que parecia ser um crime passional bem delineado desmoronou como um castelo de cartas, deixando a população local atônita e a justiça com mais perguntas do que respostas. Jeferson Costa Santos, apontado inicialmente como o mandante do assassinato de sua ex-mulher, Sandra Lima, de 41 anos, foi solto ontem após uma reviravolta que expôs manipulações, depoimentos falsos e a fragilidade de uma investigação que, por pouco, não condenou um inocente. Enquanto isso, o pistoleiro Matheus de Vargas assumiu a autoria do crime, jogando luz sobre um enredo digno de novela policial.
Tudo começou em novembro de 2024, quando Sandra Lima desapareceu. Seu corpo, encontrado às margens da BR-163, foi identificado em março de 2025 por exame de DNA, com 90% de certeza, segundo o delegado responsável pelo caso. A Polícia Civil, em janeiro, apontou Jeferson como o cérebro por trás do homicídio, acusando-o de contratar Matheus por R$ 2 mil para executar a ex-companheira.
Junto a ele, Kenis, ligado a uma rifa beneficente para o Lar dos Idosos, também foi implicado. Prisões temporárias foram decretadas pelo Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) em 15 de janeiro, e Jeferson foi detido dois dias depois, em 17 de janeiro. Kenis, por sua vez, permaneceu foragido.
A narrativa inicial parecia sólida: um ex-marido rancoroso, um pistoleiro contratado e um crime motivado por vingança. Mas o quebra-cabeça começou a se desfazer. Em entrevista ao Instagram nesta terça-feira, 25 de março, o delegado revelou que as provas que incriminavam Jeferson eram, na verdade, uma armadilha arquitetada por Matheus de Vargas e Adiel, ex-namorado de uma das filhas de Sandra.
Os dois usaram o celular e o chip da vítima para manipular depoimentos, incluindo os das filhas de Sandra, que serviram de base para a prisão de Jeferson. Adiel, inclusive, chegou a se passar pela própria Sandra em mensagens enviadas a Jeferson, forjando uma ameaça de morte contra ele – tudo isso após a vítima já estar morta, no dia 16 de novembro de 2024.
Novas pistas e provas
A reviravolta veio com a análise detalhada dos celulares e novos interrogatórios. Confrontados com as inconsistências, Matheus e Adiel confessaram não apenas o assassinato de Sandra, mas também de outras duas pessoas, Anderson e Maila, desmentindo a participação de Jeferson como mandante.
“Eles armaram tudo para incriminá-lo”, afirmou o delegado, destacando que a investigação inicial foi contaminada por falsas acusações. No dia 6 de março, a justiça determinou a soltura de Jeferson, que deixou a prisão afirmando ser vítima de uma trama para destruí-lo.
Fala, Jeferson
Em suas primeiras palavras à imprensa, Jeferson, emocionado, agradeceu a oportunidade de se explicar: “Nunca tive amizade com Adiel ou Matheus. Eles me envolveram porque tentaram me matar na minha chácara, e eu estava buscando provas contra eles”.
“No dia que Adiel foi preso, estava com o chip da minha esposa e a chave do apartamento dela. Fui acusado pra me prejudicar”. Ele também pediu desculpas à família de Sandra e aos que compraram a rifa beneficente, prometendo compensá-los com novos prêmios, como celulares, após o fracasso da iniciativa original.
Advogado de defesa
“O processo que apura a morte da senhora Sandra Lima corre em segredo de justiça, motivo pelo qual não podemos dar maiores detalhes. Quanto à soltura do Sr. Jefferson, o que se pode esclarecer, até que seja retirado o sigilo do processo, é que a justiça acatou o pedido da defesa para a prisão temporária fosse revogada, uma vez que as investigações demonstraram não haver participação do Sr. Jefferson (nem como mandante e nem como executor) no assassinato da Sra. Sandra. Além disso, as investigações já haviam avançado a ponto de ser desnecessária a manutenção de sua prisão cautelar.”
A população de Novo Progresso assiste a tudo perplexa. Nas redes sociais, o Jornal Folha do Progresso relata a mesma dúvida que ecoa entre os moradores: “Por que mataram Sandra Lima, afinal?” A vida pregressa de Jeferson, com processos em Cacoal (RO) e Sinop (MT), chegou a alimentar suspeitas, mas a justiça concluiu que, neste caso, ele era apenas um bode expiatório. Enquanto isso, Kenis segue foragido, e o processo contra Matheus e Adiel ganha novos contornos, com a confissão de crimes múltiplos.
O caso expõe as fragilidades do sistema investigativo e o risco de condenações precipitadas. Jeferson, que diz ter passado “pelo vale da sombra da morte”, agora tenta reconstruir sua vida, mas a sombra da dúvida permanece: quem mais foi vítima dessa rede de mentiras? Em Novo Progresso, a sensação é de que a verdade, como o corpo de Sandra, ainda está perdida na mata, à espera de ser encontrada.
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