A organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) é conhecida por sua implacável brutalidade, especialmente quando lida com aqueles que outrora eram parceiros e se tornam delatores. O recente assassinato do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, executado a tiros no aeroporto de Guarulhos nesta sexta-feira, trouxe à tona a sombria reputação da facção.
Um dos homens feridos durante a execução e que nada tinham a ver com os criminosos morreu neste sábado (9) . O motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, foi atingido por um tiro nas costas durante o ataque que matou Gritzbach,. A informação foi confirmada ao UOL na manhã deste domingo (10) pela família e pela Polícia Militar.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, declarou nas redes sociais que as circunstâncias do crime serão “rigorosamente investigadas”, destacando a necessidade de se chegar ao fundo dessa execução que tem todas as características de uma ação ligada ao crime organizado.
Gritzbach, uma figura chave nas investigações sobre o PCC, havia firmado um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em março deste ano. Considerado uma “peça importante” para desvendar os esquemas operacionais da facção, ele forneceu informações detalhadas e prometia revelar ainda mais segredos.
Desde então, sua vida estava sob ameaça, e o empresário era jurado de morte pelo PCC. No entanto, a polícia ainda não confirmou se o assassinato foi orquestrado pela facção. O governador afirmou que “tudo indica que a ação criminosa está associada ao crime organizado”, mas a identidade dos mandantes e executores permanece um mistério.
Os detalhes do ataque sugerem uma ação bem planejada. Investigadores acreditam que Gritzbach foi monitorado desde sua partida de Goiás, com os assassinos claramente cientes do momento exato de seu desembarque. A suspeita é de que a operação tenha contado com informantes que passaram detalhes precisos, permitindo que os matadores agissem assim que a vítima saísse do saguão.
O que motivou o crime?
Nos depoimentos ao MP, Gritzbach revelou esquemas do PCC e deu pistas sobre crimes cometidos pela organização, gerando a hipótese de que seu assassinato tenha sido uma retaliação brutal para evitar futuras revelações. A possibilidade de uma “queima de arquivo” motivada por vingança é atualmente a linha de investigação mais forte.
Outra linha investigativa do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) analisa a conduta dos seguranças do empresário. Há suspeitas de que possam ter facilitado o ataque ao falhar de forma proposital ou ter repassado informações sobre sua chegada. As autoridades apreenderam os celulares dos seguranças para rastrear possíveis conversas suspeitas que possam indicar envolvimento.
Segundo os relatos, o plano de segurança sofreu uma série de reveses. Os quatro seguranças teriam afirmado que o carro destinado a buscar Gritzbach no aeroporto quebrou no caminho. Como resultado, apenas um dos seguranças foi ao local usando um veículo improvisado, enquanto os outros três ficaram no local onde o carro teria parado. Um investigador, no entanto, questionou a decisão, dizendo que a ação mais lógica seria abandonar o veículo avariado e garantir a escolta da vítima com toda a equipe de proteção.
A namorada da vítima e o mistério de sua fuga
Outro ponto sem explicação é a fuga da namorada de Gritzbach, que deixou o aeroporto antes da chegada da polícia. Localizada posteriormente, ela já prestou depoimento e também teve o celular apreendido.
Antônio Vinícius Lopes Gritzbach era um corretor de imóveis da zona leste de São Paulo, que se envolveu em negócios lucrativos com Anselmo Bicheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta” – um dos principais operadores financeiros do PCC. Santa Fausta movimentava milhões de reais em operações de drogas e armas, e Gritzbach ajudava a lavar esse dinheiro comprando imóveis de alto padrão e usando “laranjas” para ocultar a identidade do verdadeiro comprador.
A parceria deu uma guinada quando Gritzbach convenceu Santa Fausta a investir cerca de R$ 200 milhões em criptomoedas. Em 2021, quando Santa Fausta pediu parte do dinheiro de volta para investir na construção de um prédio, Gritzbach teria dado desculpas, gerando uma forte discussão. Pouco depois, Santa Fausta e seu motorista foram emboscados e mortos no Tatuapé. O Ministério Público aponta Gritzbach como o mandante, acreditando que ele ordenou o assassinato para não devolver o dinheiro.
A trama complexa e a brutalidade do crime expõem a perigosa teia de alianças e traições que cercam a atuação do PCC. As autoridades seguem investigando cada detalhe, com muitas perguntas ainda sem resposta.