Mais uma vez, a população paraense tomou as ruas de Belém, com 2 milhões de fiéis – ou algo próximo disso – para demonstrar sua amazônica devoção à Nossa Senhora de Nazaré, a santa que está acima das hipocrisias políticas, da tentativa de apropriação de sua festa por governantes de plantão ou daqueles que confundem a fé dos humildes com suas próprias perversões mundanas.
Após dois anos de pandemia e numa carência de abraços, afetos e união em torno daquela que, na crença da ampla maioria, produz reconciliações, curas e milagres que a ciência não consegue explicar, os devotos deram mais uma demonstração da força que o Círio carrega, a de estar muito acima das adversidades e aflições cotidianas.
Um exemplo paraense de unidade em um país dividido por uma guerra política estúpida pelo poder, do “nós contra eles”, sem que se saiba ao certo quem somos nós e quem são eles. Nas ruas e outros espaços públicos da capital, pessoas de credos diferentes – claro que com maioria católica – reafirmaram que somos um só povo.
Neste domingo (9), aconteceu a 230ª edição do Círio de Nazaré, sob o tema “Maria, Mãe e Mestra”, uma reflexão sobre a evangelização. A romaria de 3,7 quilômetros e com duração de pouco mais de 5 horas, teve as cenas de fervor religioso que encantam o mundo há mais de dois séculos: pagadores de promessas seguravam uma corda em boa parte do percurso, o elo indissolúvel que liga os humildes à Virgem de Nazaré, impávida e bela na berlinda.
Era gente agradecendo por cura de doenças, a sobrevivência à covid 19 que devastou o planeta, além de orações por entes queridos que se foram. Não faltava quem também agradecesse pela conquista da casa própria ou do emprego que havia perdido durante a recessão econômica.
“Não peço mais nada, só tenho a agradecer pela família que tenho e por nossa saúde”, declarou o aposentado Cláudio Oliveira Santos, que estava acompanhado da esposa, filhos e netos, na avenida Presidente Vargas. O professor Elias Vargas, muito emocionado, disse ter perdido dois parentes para a Covid e que graças à fé na santa houve a proteção que evitou mais vítimas fatais.
Como já é tradição, o Círio transcorreu sem nenhum acidente e os poucos casos de devotos com problemas de saúde foram atendidos pelos voluntários da Cruz Vermelha e Defesa Civil, que estavam atentos aos pedidos de ajuda. A segurança, formada por policiais militares e Forças Armadas, também foi outro ponto alto, garantindo a marcha tranquila dos devotos.
E assim transcorreu mais um Círio. Um Círio de todos que têm fé, algo que transcende a compreensão humana e se conecta diretamente com a essência divina.
Que venha o próximo.