Uma organização criminosa, composta por brasileiros e outros estrangeiros, está prestes a enfrentar o julgamento na Argentina por um esquema ousado de tráfico de drogas. A quadrilha, liderada por Marisol Saavedra Chungara, conhecida como a “Rainha do Sul”, teria lançado cerca de 300 kg de cocaína de pequenos aviões em uma fazenda na província de Buenos Aires. O método, denominado “narcobombardeio”, é uma modalidade de contrabando que utiliza aeronaves para distribuir grandes quantidades de entorpecentes sobre áreas rurais de difícil acesso.
A “Rainha do Sul” e a Operação Internacional de Tráfico de Drogas
Marisol Saavedra Chungara, de 54 anos, é originária da Bolívia e foi presa em Buenos Aires, onde coordenava uma operação de tráfico internacional de drogas. Ela é acusada pela Justiça argentina de ser a “organizadora e financiadora de uma rede destinada ao tráfico ilícito de entorpecentes”. Chungara será julgada por seu papel no envio de 300 kg de cocaína, que foram largados em diversos voos sobre os campos de Pergamino, a cerca de 200 km da capital argentina. A operação foi desbaratada em janeiro de 2022.
A investigação conduzida pela Procuradoria-Geral da República da Argentina revelou o envolvimento de várias pessoas no esquema, incluindo os filhos de Chungara, Juliana e Mauricio Justiniano Saavedra, e dois brasileiros com cidadania paraguaia, Elves García de Olivera e Denicio Zacarías Reyes. Todos serão julgados pelo Tribunal Oral Federal (TOF) N°3 de Rosário, cujos juízes Osvaldo Facciano, Eugenio Martínez e Mario Gambacorta conduzirão o processo.
O Início das Investigações e o Plano do “Narcobombardeio”
As investigações começaram em agosto de 2021, quando autoridades notaram atividades suspeitas na região de Pergamino. Informações preliminares indicavam que pessoas da cidade de Buenos Aires estavam percorrendo a área rural em busca de propriedades adequadas para a recuperação de pacotes de drogas, que seriam lançados de aviões. Essas atividades foram monitoradas por escutas telefônicas, que ajudaram a polícia a prever a operação de narcobombardeio.
No dia 19 de janeiro de 2022, o esquema finalmente se desenrolou. Às 4h50 da manhã, um Volkswagen Amarok branco com quatro homens foi visto se aproximando do local onde o bombardeio estava planejado. Pouco depois, Marisol Saavedra Chungara, acompanhada de uma mulher e um homem, foi avistada nas proximidades. Um pequeno avião passou diversas vezes sobre a área rural, largando pacotes de cocaína, que foram rapidamente recolhidos pela quadrilha.
A Prisão e as Provas Coletadas
A polícia agiu rapidamente e conseguiu prender Chungara e seus filhos no local. García de Olivera, um dos brasileiros envolvidos, foi detido próximo ao campo onde aguardava a chegada da carga. Outros membros da quadrilha conseguiram fugir, mas abandonaram o veículo com parte da droga, que continha cerca de 130 kg de cocaína distribuídos em pacotes escondidos na carroceria do caminhão.
Além das prisões, a polícia encontrou evidências significativas no local. Três pedaços de tecido, medindo cerca de cinco metros de comprimento, foram colocados no campo para servir de referência ao piloto do avião. Esses marcadores permitiram que a droga fosse lançada com precisão sobre o local desejado. Outras evidências encontradas incluíam mais pacotes de drogas em uma segunda caminhonete abandonada, junto com documentos que ligavam Zacarías Reyes ao crime.
Quantidade Total de Drogas Apreendidas
A operação inicial resultou na apreensão de 130 kg de cocaína, mas as investigações não pararam por aí. Três meses após a primeira apreensão, trabalhadores rurais encontraram pacotes semelhantes nos arredores do campo. Em incursões realizadas nos dias 17 e 18 de abril de 2022, a polícia recuperou mais 160,4 kg de cocaína, totalizando 289,1 kg de cloridrato de cocaína vinculados à quadrilha. Além disso, outros 212 gramas da droga foram apreendidos em uma residência em Buenos Aires, pertencente a outro membro da quadrilha que permanece foragido.
O Papel de Marisol Saavedra Chungara e Seus Cúmplices
Saavedra Chungara, chamada de “Rainha do Sul”, é uma referência à protagonista do romance de Arturo Pérez Reverte, que conta a história de uma líder do tráfico de drogas. A promotoria, representada por Matías Di Lello, destacou o papel central que Chungara desempenhou no financiamento e coordenação da operação criminosa. De acordo com as investigações, em uma ocasião ela repreendeu seu filho por má administração de dinheiro, indicando seu envolvimento direto nas finanças do esquema.
“Todos os réus demonstraram pleno conhecimento do que estavam fazendo ao participar da operação de narcobombardeio, esperando a chegada da droga nas primeiras horas da manhã em um campo a 200 km de suas residências”, afirmou o promotor no pedido de julgamento.
O Caminho para o Julgamento
Com o fim da investigação decretado pelo juiz Carlos Villafuerte Ruzo, da Justiça Federal de San Nicolás, o julgamento promete ser um dos maiores processos de tráfico de drogas da região. A modalidade de narcobombardeio, embora incomum, mostra a audácia das quadrilhas na tentativa de contornar as autoridades, usando métodos inovadores e arriscados para mover grandes quantidades de cocaína através das fronteiras sul-americanas.
Agora, com o julgamento prestes a começar, a atenção está voltada para o Tribunal Oral Federal de Rosário, onde Chungara, seus filhos e seus cúmplices brasileiros enfrentarão a justiça pelos crimes de tráfico de drogas e contrabando, com penas que podem chegar a décadas de prisão.
Do Ver-o-Fato, com informações do oglobo.globo.com