Em um cenário de escalada alarmante da violência e do domínio crescente das organizações criminosas no Brasil, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), parece ter encontrado uma saída conveniente para justificar a ineficiência do governo Lula: culpar a polícia.
Em declaração feita nesta quarta-feira, 19 de março de 2025, durante a abertura da reunião do Conselho Deliberativo da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), em Brasília, Lewandowski afirmou que o Judiciário é “obrigado” a soltar detentos devido a prisões mal conduzidas pelas forças policiais. “A polícia tem que prender melhor”, disparou, em uma tentativa clara de transferir a responsabilidade pela crise de segurança pública para os ombros de quem está na linha de frente.
O ministro, com sua conhecida habilidade retórica de quem já integrou a mais alta corte do país, criticou o que chamou de “jargão” popular — “a polícia prende e o Judiciário solta” — para logo em seguida inverter a narrativa: “A polícia prende mal e o Judiciário é obrigado a soltar”.
Segundo Lewandowski, a falta de provas concretas ou de processos bem fundamentados seria o verdadeiro entrave para manter suspeitos atrás das grades. Ele ainda acrescentou que, com prisões bem-feitas e indícios probatórios sólidos, nenhum juiz “soltará um criminoso”. A declaração soa quase como uma aula teórica de direito penal, mas escancara uma desconexão gritante com a realidade das ruas, onde o crime organizado avança sem freios enquanto o governo patina em busca de soluções.
Incompetência
A crítica de Lewandowski à polícia, no entanto, é um soco na cara de agentes que arriscam suas vidas diariamente em um sistema sucateado, com recursos escassos e sob pressão constante. Em vez de assumir a incapacidade do governo federal de articular políticas públicas eficazes ou de enfrentar o fortalecimento das facções criminosas, o ministro prefere apontar o dedo para o elo mais frágil da cadeia.
É uma postura cômoda, mas reveladora: em dois anos de gestão Lula, a segurança pública segue como um calcanhar de Aquiles, e a resposta do Planalto parece ser empurrar o problema para baixo do tapete — ou, neste caso, para as delegacias.
No mesmo evento, Lewandowski defendeu a PEC da Segurança Pública, que ele vem chamando de “SUS da Segurança Pública”, como uma suposta panaceia para o combate à criminalidade. A proposta, que enfrenta resistência de governadores e parlamentares, parece mais um exercício de retórica do que uma solução prática, especialmente diante da falta de consenso político e da ausência de resultados concretos até agora.
Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso no mesmo dia, prometeu enviar a PEC ao Congresso para mostrar que “o Estado é mais forte que os bandidos”. Lula ainda dramatizou, afirmando que não permitirá que a “república de ladrões de celular” amedronte a população. Palavras bonitas, mas que soam vazias frente ao avanço desenfreado do crime e à falta de ações efetivas.
A verdade é que, enquanto o governo se perde em declarações grandiloquentes e troca de acusações, a população segue refém da violência. Culpar a polícia pode até render aplausos em eventos corporativos, mas não resolve o caos nas ruas.
Lewandowski, com sua experiência no STF, sabe bem que o sistema de justiça não funciona no vácuo — e que a segurança pública não se resume a “prender melhor”. Falta ao ministro, e ao governo que ele representa, a coragem de encarar o problema de frente, em vez de jogar a bomba no colo de quem já carrega um fardo pesado demais.