Hoje venho por meio desta coluna dar meu testemunho de superação de algo que me trancava no calabouço do adolescente com síndrome de vira-lata. Foi duro, mas venci.
No começo dos anos 2000, todo adolescente tinha ritual primário para ser considerado descolado: desprezar a música nacional, se fosse especificamente paraense, teria que ser com mais força ainda. Então, não entendíamos nada de inglês, mas música americana em primeiro lugar, série A, elite, tudo de bom.
Música nacional era série B. Paraense? Nem série tinha. Assim rezava a cartilha. O sucesso na periferia era o tecnomelody e o brega. Os menosprezei por inúmeras vezes. Mas o que eu exibia para sociedade, não era sincero com meu coração.
Por fora, revirava o olho quando começava um dos ritmos do Pará. Por dentro, minha alma cantava fortemente “O gererê a gente dança assim, se você fica coladinha em mim”, “São amores, pey, pey, amores que matam pey, pey” – com direito à mãozinha.
Um belo dia, um magnífico e libertador dia, saí do armário, botei tudo pra fora. Resolvi assumir minha identidade de quem não pode ouvir o Nelsinho Rodrigues ou Vivianne Batidão, que já começa a querer dançar – apesar de não saber. Ainda que tarde, tirei o peso de não poder cantar os bregas chicletes quando bem entendesse. Venci.
Hoje, aparentemente, os adolescentes já não tem problema com ser ou não descolados por causa de música. Talvez isso mostre que evoluímos um pouco, sei lá.
Se você ainda é um bregueiro encubado, a hora é agora, sai desse armário. Amém? Amém!
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