Por Ubiratan Brasil
A lista de livros infantojuvenis mais vendidos, preparada pelo jornal americano The New York Times a partir de dados do ano passado, não trouxe surpresa ao ser finalizada em 30 de dezembro: a saga Harry Potter ainda é a mais querida dos leitores, mas é seguida de perto pelas histórias de Greg Heffley, adorável garoto problemático da série Diário de um Banana. Criada pelo americano Jeff Kinney, está há 720 semanas na lista do Times e ganhou recentemente seu 17.º volume, Fräwda Megaxeia, lançado aqui pela VR Editora, assim como os demais livros da coleção.
Agora, Greg vai conhecer de perto o mundo dos famosos graças à banda de rock do irmão mais velho: a Fräwda Megaxeia. Mas, assim como a vida real, ele vai perceber que nem tudo é tão glamouroso quanto parece. Diferente do bruxinho Potter, que esbanja poderes com sua varinha mágica, Greg tem as características de um anti-herói: é tímido, comum, viciado em videogames, fã de junk food e aluno pouco exemplar, mas, ao mesmo tempo, demonstra humanidade, sensibilidade e cuidado com aqueles que ama.
“Greg é um personagem imperfeito e gosto de mantê-lo assim. Eu também tinha muitos problemas quando criança. Talvez isso explique parte de seu sucesso – as crianças podem se ver em Greg”, diz Kinney, em entrevista por e-mail. “Tento escrever sobre a experiência universal da infância. Eu me sinto muito feliz quando crianças de distintos países e culturas acham engraçado o mesmo tipo de coisa.”
SUCESSO
De fato, os números comprovam o sucesso planetário: apenas no Brasil foram vendidos mais de 12 milhões de exemplares da série Diário de um Banana, que começou a ser publicada em 2007 – o País só perde para Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha em termos de arrecadação. Agora, com o 17.º volume, os títulos somam 82 edições, traduzidas para 68 idiomas. E, no mundo, já foram comercializadas mais de 275 milhões de cópias.
E pensar que tudo nasceu por acaso – Greg começou a ser criado em 1998, quando o então desconhecido Jeff Kinney buscava se lançar como cartunista de jornal. Ele passou oito anos trabalhando no Diário de um Banana antes de mostrá-lo a uma editora. “Nunca pensei que seria publicado, pois acreditava que ninguém iria gostar uma vez que já estava havia três anos tentando virar cartunista de jornal.”
Até então, Kinney estava formado em ciência da computação, mas mudou radicalmente de rumo, trabalhando para a Justiça criminal onde conseguia mais tempo para trabalhar em seus quadrinhos – na faculdade, criou uma HQ, Igdoof, que se tornou popular no jornal estudantil, o que o incentivou a seguir essa carreira.
Greg Heffley, um estudante do ensino médio que ilustra sua vida em um diário, nasceu a partir das experiências de Kinney como aluno. O desencanto com a improvável publicação do cartum permitiu que seu autor não se importasse em também apresentar as falhas do garoto – afinal, Greg sofre bullying dos alunos mais velhos da escola assim como de seu irmão Rodrick. Greg compensa sendo rude com o melhor amigo, Rowley, que tudo aceita.
Foi justamente essa figura egocêntrica mas simpática que estreou na internet, em tirinhas online, pois Kinney não conseguia espaço no mercado editorial. Desenhos diários foram publicados entre setembro de 2004 e junho de 2005, conquistando inicialmente uma audiência estrangeira. “Logo comecei a receber e-mails de adultos que vivem na China, Paquistão e outros países, dizendo que gostavam de ler aquelas histórias de traços realmente simples”, contou ele ao NYT.
IMPRESSO
Os internautas começaram então a solicitar uma versão impressa e, diante do sucesso (a versão online recebeu quase 20 milhões de visualizações até 2009), Kinney assinou um contrato para vários livros com a editora Abrams Books. O primeiro volume foi lançado em abril de 2007 e logo bateu recordes de venda, a ponto de, em abril de 2009, a revista Time ter nomeado Kinney na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo.
A figura controversa de Greg Heffley logo provocou polêmicas. Em 2018, por exemplo, o estado do Texas chegou a estudar a possibilidade de banir a série por conta da moral duvidosa e da pessimista visão de mundo do personagem – para muitos, ele não aprendia com os próprios erros. Kinney defendeu-se dizendo que Greg é imperfeito como qualquer garoto de sua idade. “Eu me preocupo com os exemplos dado por Greg. Ele não é um personagem que inspire aspirações, mas também não é ruim – é apenas falho”, diz ao Estadão.
O fato é que Diário de um Banana já inspirou quatro filmes live-action e dois de animação, que ajudaram a melhorar a recepção do personagem. “Tenho certeza de que muitas pessoas zombam da qualidade literária de meus livros, mas Greg é um personagem reconhecível porque impactou a vida das pessoas”, conta ele, que primeiro cria as piadas para então desenvolver a história. E, em todo esse tempo, só teve dificuldade para criar o décimo volume, Bons Tempos (2015). “Um avião caiu na casa ao lado da minha. Foi difícil escrever material engraçado depois disso.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.