O clima voltou a ficar tenso na região do Vale do Acará, nordeste paraense, onde cerca de 95 famílias tradicionais de quilombolas e ribeirinhos reocuparam a Fazenda Roda de Fogo, que a empresa Agropalma diz ser dona, mas que nunca apresentou documentação idônea. A questão se arrasta na Vara Agrária de Castanhal, sem uma decisão final à vista.
A Agropalma pediu reintegração de posse da fazenda, mesmo sem documentação da área, mas o juiz agrário decidiu marcar uma audiência de conciliação para esta quinta-feira (15), na Câmara Municipal do Acará para tentar mais um acordo entre as partes. Mesmo sem decisão judicial, a Polícia Militar foi acionada pela empresa para tentar intimidar os ocupantes da área e obrigar as famílias a saírem.
Os moradores da região filmaram o momento em que homens da PM, arnados, tentam intimidar os ocupantes.É estranho que, sem ordem judicial, uma força armada a serviço do Estado seja utilizada em favor de uma empresa particular, que já mantém seguranças fortemente armados na área.
De acordo com o presidente da Associação dos Quilombolas e Ribeirinhos do Vale do Acará, Joaquim Pimenta, a reocupação da Roda de Fogo ocorreu porque a empresa Agropalma quebrou o acordo feito na Justiça e impediu as famílias de terem acesso ao cemitério para visitarem os túmulos de seus parentes.
O mais grave, segundo o líder, foi que a empresa também bloqueou a passagem dos pescadores, que não puderam mais ter acesso ao Rio Acará e ao Igarapé Turi-Açu, ficando impedidos de tirar o sustento de suas famílias.
O motivo de a empresa ter impedido o acesso de pescadores ao rio e ao igarapé, conforme denúncias, foi o despejo de produtos químicos que provocou grande mortandade de peixes.
“Nós fizemos denúncia à Semas (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade) sobre o despejo de produtos químicos no rio e no igarapé, mas a Agropalma não permitiu a entrada dos técnicos da secretaria na área, o que deixou a nossa comunidade indignada”, afirmou Joaquim Pimenta.
O líder quilombola e ribeirinho registrou um boletim de ocorrência sobre o crime ambiental na Delegacia da Polícia Civil de Tailândia, mas até ó momento nenhuma investigação foi iniciada.
Tudo dominado?
Várias ações desenvolvidas pela Vara Agrária apontaram falsificação de documentos públicos por parte da empresa, em relação à área em conflito, inclusive o cancelamento de mais de 50 mil hectares de áreas cujos registros foram declarados como falsos pela justiça – incluindo a fazenda Roda de Fogo -, mas a Agropalma sempre leva vantagem na disputa.
Moradores da região ouviram notícias de que a Agropalma tem forte poder sobre o governo do Estado, devido ao fato de uma pessoa próxima ao governador Helder Barbalho (MDB) ter interesse nas atividades da empresa.
“Já fizemos denúncias à Semas, Ministério Público, Defensoria Pública etc. e até hoje, por incrível que pareça, ninguém deu uma solução para o caso”, desabafou Pimenta. Ele completou que diante de toda essa situação de injustiça, a comunidade resolveu reocupar a fazenda Roda de Fogo e expulsar a Agropalma das terras dos povos tradicionais.
“Por que a comunidade fez Isso? Porque o povo está com fome, não pode pescar e a empresa faz o que quer, fica matando peixes a torto e a direito e ninguém faz nada”, finalizou.
VÍDEOS
A imagem mostra a ação da PN na área, sem exibir nenhum mandado judicial, intimidando os quilombolas e ribeirinhos.