Uma postagem feita nas redes sociais por uma estudante de medicina da Universidade Federal do Acre (UFAC) gerou intensa polêmica nesta semana e resultou na abertura de investigação pelo Ministério Público do Estado do Acre (MP-AC). Em uma das declarações, Assúria Nascimento de Mesquita, de 20 anos, escreveu:
“Odeio tanto essa roça, quando me formar vou estudar tanto pra passar numa residência que seja bem longe desse umbral e poder ser feliz sem ter acreanos estragando meu dia.”
A frase, publicada na plataforma X (antigo Twitter), foi considerada ofensiva e xenofóbica por internautas. Em outras mensagens, a jovem se referiu aos acreanos como “povo seboso” e demonstrou repulsa ao estado.
Foto: Reprodução/X
“A coisa que mais amo no meu namorado é que ele não é acreano pois tenho asco de acreanos, se Deus quiser eu nunca mais vou precisar ter que olhar pra esse povo tão seboso”, escreveu ela em outra publicação.
Foto: Reprodução/X
Repercussão nas redes e ações judiciais
A fala gerou ampla indignação entre os usuários da rede social e repercutiu em diversas plataformas. A jovem, que ingressou no curso de medicina em 2022 por meio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU) utilizando o bônus regional — política pública voltada para alunos que cursaram o ensino médio no Acre —, teve sua conduta criticada especialmente por utilizar esse benefício enquanto expressava desdém pela própria população local.
Diante da repercussão, o Ministério Público do Acre instaurou uma notícia de fato criminal e solicitou a abertura de inquérito policial para apurar possível crime de xenofobia.
Estudante se retrata: “Estou profundamente arrependida”
Após a polêmica, Assúria publicou uma nota de retratação em suas redes sociais, onde reconhece o erro e afirma estar refletindo sobre a gravidade de suas palavras:
“Confesso que estou profundamente arrependida e refletindo com seriedade sobre o impacto disso. Admito que me expressei de forma profundamente imatura e desrespeitosa.”
A estudante ainda declarou gratidão pelo apoio que recebeu da família e amigos acreanos e pediu desculpas públicas:
“As palavras têm poder, e eu falhei no uso desse poder. Portanto, peço desculpas sinceras à minha família, amigos e a todas as demais pessoas que feri.”
Secretário do Acre, pai da estudante, também se manifesta
Assurbanípal Mesquita, pai de Assúria e atual secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia do Acre, também se posicionou nas redes sociais. Ele afirmou não compactuar com as falas da filha e reforçou o arrependimento da jovem:
“Conversamos longamente com a nossa filha, que está verdadeiramente arrependida. Ela reconheceu o erro, está refletindo sobre o impacto de suas atitudes e buscando formas de se retratar e aprender com essa péssima experiência.”
O secretário ainda se solidarizou com os ofendidos:
“Aos que se sentiram ofendidos, deixo minha mais profunda solidariedade. Estamos juntos na busca por um diálogo construtivo e pela promoção de um ambiente onde todos possam ser respeitados e valorizados.”
Atlética do curso de Medicina repudia as declarações
A Atlética Sinistra, entidade representativa dos estudantes de Medicina da UFAC, publicou uma nota oficial repudiando o comportamento da acadêmica e reforçando o compromisso da instituição com a diversidade e o respeito:
“Não compactuamos com manifestações que desrespeitam a dignidade humana, promovem a exclusão ou discriminam qualquer indivíduo ou grupo com base em sua origem, etnia, condição social, cultural ou qualquer outro marcador.”
A nota também destaca o papel social dos futuros médicos:
“Como futuros profissionais da saúde, temos o dever ético de zelar pelo bem-estar coletivo e combater todas as formas de preconceito, dentro e fora da universidade.”
Reações do público
Enquanto muitas críticas foram feitas nas redes sociais, algumas pessoas saíram em defesa da jovem. Em comentário feito na postagem do secretário, um internauta afirmou:
“Quem não tem pecado que atire a primeira pedra! Assúria é uma jovem do coração gigantesco, essa falha não define ela.”
Por outro lado, outros comentários levantaram preocupações éticas:
“Já pensou se esse ser se forma e for atender um paciente que porventura seja acreano, o que ele seria capaz de fazer? Melhor não pagar pra ver.”
Investigação em andamento
Com o inquérito requisitado pelo MP-AC, o caso agora está sob apuração das autoridades. A repercussão nas redes também reacende o debate sobre o uso responsável das plataformas digitais por estudantes e futuros profissionais da saúde, bem como a importância da empatia, respeito e responsabilidade social no ambiente universitário.