As eleições municipais de 2024 trouxeram um sinal de alerta claro para o Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tradicionalmente, o PT e seus aliados de esquerda sempre dominaram os cenários políticos nos estados do Nordeste, uma região que historicamente tem sido um dos principais bastiões eleitorais do partido.
No entanto, os resultados das eleições deste ano revelam um quadro preocupante e apontam para um enfraquecimento significativo da legenda, que não conseguiu vencer nas 27 maiores cidades nordestinas no primeiro turno.
Lula acusou o golpe nas urnas. E deixou um aviso claro ao PT para a necessidade de o partido se reinventar e disse que, para isso, precisa rever seu relacionamento com os aliados. Em entrevista à rádio O Povo/CBN em Fortaleza na manhã de sexta-feira, 11, Lula disse que é preciso “rediscutir o papel do PT na disputa pelas prefeituras”.
O presidente se mostrou preocupado com o desempenho do partido nas eleições municipais, especialmente no estado de São Paulo,
Dos 27 municípios mais importantes, 20 resolveram suas disputas já no primeiro turno. Desses, 16 elegeram prefeitos de partidos de direita, enquanto apenas três ficaram com legendas centristas (MDB e Solidariedade). A esquerda venceu em apenas uma cidade: Recife, onde João Campos, do PSB, foi reeleito. Nos demais colégios eleitorais, o PT sequer conseguiu avançar.
A situação é ainda mais dramática ao se analisar as disputas de segundo turno. O PT tem a chance de reverter o cenário nas duas maiores cidades do Ceará — Fortaleza e Caucaia — além de Natal, no Rio Grande do Norte. No entanto, a presença de dois candidatos de direita em outras disputas estratégicas, como João Pessoa e Imperatriz (MA), já indica que a derrota do partido é ampla e profunda. A esquerda ainda disputa em Aracaju pelo PDT e em Campina Grande pelo PSB, mas a hegemonia do PT no Nordeste parece ter sido abalada de maneira irreversível.
Para o cientista político Murilo Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), esses resultados mostram um declínio preocupante para o PT, inclusive dentro da própria ala ideológica de esquerda. “O cenário é difícil para o PT na região. O PSB começa a emergir como uma força predominante, pelo menos no número de prefeituras conquistadas. O enfraquecimento do PT é evidente, mesmo em redutos onde o partido sempre teve uma posição forte”, afirmou Medeiros.
Essa mudança de maré tem raízes profundas. Segundo ele, há um desgaste natural do PT após décadas de predomínio nas últimas quatro eleições gerais no Brasil. Mais que isso, o partido perdeu conexão com pautas essenciais para a sociedade nordestina, como a segurança pública — um tema que se tornou cada vez mais urgente diante dos desafios enfrentados por várias capitais da região. “O desgaste é visível. Partidos de direita conseguiram capturar o sentimento de insatisfação popular, prometendo soluções para questões que o PT pareceu negligenciar”, explicou.
A análise dos resultados nas principais cidades do Nordeste confirma essa tendência. O União Brasil, por exemplo, consolidou sua posição como uma das principais forças políticas na região, vencendo em cidades-chave como Salvador, Feira de Santana e Maceió. Em cidades como Natal, Mossoró e Teresina, partidos como o PP e o MDB também mostraram força, enquanto o PSB emergiu como o principal representante da esquerda, com João Campos mantendo o controle de Recife.
Essa mudança no cenário político do Nordeste é uma má notícia para Lula e seus aliados, que sempre contaram com a região como uma base eleitoral sólida. A perda de influência nos governos municipais é preocupante, pois eles têm um papel crucial na mobilização de apoio em eleições gerais. Além disso, partidos de centro-direita e direita têm explorado questões sensíveis como segurança, infraestrutura e economia local, conquistando eleitores que tradicionalmente votavam no PT.
A situação atual revela um cenário novo e incerto. O enfraquecimento do PT no Nordeste, que até então era visto como um bastião inabalável da esquerda brasileira, demonstra que a confiança do eleitorado na legenda já não é a mesma. As vitórias da direita e do centro em tantas cidades importantes indicam uma mudança no sentimento popular, que pode ter repercussões significativas para as eleições nacionais de 2026.
Se o PT pretende reverter essa maré, precisará fazer uma profunda reflexão e reconectar-se com as demandas dos eleitores nordestinos. Promover uma agenda que realmente dialogue com os anseios por segurança, desenvolvimento e melhoria de serviços públicos será essencial. Do contrário, o partido corre o risco de assistir a um declínio contínuo, com outras forças políticas ocupando o espaço que um dia foi seu.
VEJA O ESTRAGO NOS REDUTOS DO PT
A análise das eleições municipais de 2024 nos principais colégios eleitorais do Nordeste revela uma mudança significativa no cenário político da região, tradicionalmente dominada pela esquerda e pelo Partido dos Trabalhadores (PT). As vitórias da direita e do centro em diversas cidades estratégicas acendem um alerta para o futuro do partido de Lula no Nordeste. Confira abaixo o resultado das eleições nas capitais e grandes cidades de cada estado:
Sergipe
- Aracaju: Disputa de segundo turno entre Emília Corrêa (PL) e Luiz Roberto (PDT).
- Nossa Senhora do Socorro: Dr. Samuel (Cidadania) foi eleito no primeiro turno.
- Itabaiana: Valmir de Francisquinho (PL) venceu no primeiro turno.
Bahia
- Salvador: Bruno Reis (União Brasil) reeleito no primeiro turno, consolidando o domínio da direita na capital baiana.
- Feira de Santana: José Ronaldo (União Brasil) voltou à prefeitura, vencendo também no primeiro turno.
- Vitória da Conquista: Sheila Lemos (União Brasil) reeleita, confirmando o predomínio do partido na região.
Alagoas
- Maceió: João Henrique Caldas (PL) foi eleito no primeiro turno, representando mais uma vitória da direita.
- Arapiraca: Luciano Barbosa (MDB) reeleito no primeiro turno.
- Rio Largo: Carlos Gonçalves (PP) venceu a disputa no primeiro turno.
Pernambuco
- Recife: João Campos (PSB) foi reeleito no primeiro turno, única vitória de peso para a esquerda em toda a região.
- Jaboatão dos Guararapes: Mano Medeiros (PL) eleito, reafirmando o avanço da direita.
- Petrolina: Simão Durando (União Brasil) reeleito no primeiro turno.
Paraíba
- João Pessoa: Disputa de segundo turno entre Cícero Lucena (PP) e Marcelo Queiroga (PL), ambos de direita.
- Campina Grande: Disputa acirrada no segundo turno entre Bruno Cunha (União Brasil) e Dr. Jhony (PSB), sendo o PSB a única força de esquerda na disputa.
- Santa Rita: Jackson (PP) foi eleito no primeiro turno.
Rio Grande do Norte
- Natal: Paulinho Freire (União Brasil) e Natália Bonavides (PT) disputam o segundo turno, uma das poucas esperanças do PT na região.
- Mossoró: Allyson (União Brasil) reeleito no primeiro turno.
- Parnamirim: Professora Nilda (Solidariedade) foi eleita.
Ceará
- Fortaleza: André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) disputam o segundo turno, onde o PT tenta manter alguma relevância.
- Caucaia: Naumi Amorim (PSD) e Catanho (PT) disputam o segundo turno, outra chance para o PT.
- Juazeiro do Norte: Gledson Bezerra (Podemos) venceu no primeiro turno.
Piauí
- Teresina: Silvio Mendes (União Brasil) foi reeleito, consolidando o avanço da direita.
- Parnaíba: Novo Francisco (PP) eleito no primeiro turno.
- Picos: Dr. Pablo Santos (MDB) venceu no primeiro turno.
Maranhão
- São Luís: Eduardo Braide (PSD) foi reeleito no primeiro turno, confirmando o domínio de partidos de centro-direita.
- Imperatriz: Disputa no segundo turno entre Rildo Amaral (PP) e Mariana Carvalho (Republicanos), ambos de direita.
- São José de Ribamar: Dr. Julinho (Podemos) foi eleito no primeiro turno.
Resumo do cenário
O resultado destas eleições revela que, dos nove estados do Nordeste, o PT não conseguiu vencer em nenhuma capital no primeiro turno e só mantém esperanças reais de sucesso em três cidades no segundo turno: Fortaleza, Caucaia e Natal. A direita, especialmente partidos como União Brasil e PL, ampliou seu domínio, conquistando vitórias importantes em cidades grandes e estratégicas, sinalizando uma forte reconfiguração política na região.
A hegemonia histórica do PT e de seus aliados de esquerda no Nordeste foi duramente abalada, e a capacidade do partido de reconquistar o eleitorado regional dependerá de estratégias e reconexões profundas com as demandas locais. O futuro político do PT na região parece incerto e desafiador.