No começo dos anos 2000 eu era um pré-adolescente que, junto dos amigos, imaginava as maravilhas que a humanidade inventaria e descobriria no novo milênio. Era quase certo que lá por 2020 já teríamos carros voadores, colonizado Marte e o Remo teria uma participação na Libertadores.
Agora estamos aqui, ano 20, com essas coisas ainda parecendo estarem bem longe de acontecer. No lugar, algo inimaginável até para o maior dos teóricos da conspiração: uma PANdemia.
Demoramos a crer. Aliás, parece que ainda nem acreditamos direito. As ruas vazias, as notícias, tudo de alguma maneira relacionado com um vírus capaz de tirar muitas vidas e que é preciso ficar preso em casa pra ver se menos pessoas morrem.
A primeira vez que vi uma pessoa de máscara na rua, tive vontade de rir. Agora, que já são muitas, fico com a sensação de que estou me protegendo pouco. O trânsito na Augusto Montenegro reflete a preocupação da maioria. Aliás, o pouco trânsito serviu para aguçar os instintos mais profundos de desobediência contra leis de transito. Terra sem lei, mesmo para a avenida que vans e mototáxi disputam por pontos na habilitação. Apocalíptico.
Na Feira do Cordeiro, aparentemente, o Corona ainda não assusta tanto. No máximo um feirante com sacola nas mãos (servindo como luva) e um ou outro engraçadinho anunciando que na banca dele é sem corona, mas na vizinha já infectaram três clientes. Marketing.
Lá a aglomeração está como a de dias normais. Uma vendedora mata a galinha, enquanto grita que tem cheiro verde e atende um cliente que compra banana. Outro anuncia suas frutas com mais carinho para mulher que ele julga bonita, aliás, ele a chamará de morena, independente de sua cor, só por ser bonita.
Tudo normal. Confusão por causa de troco, DVD pirata, mulheres guardando dinheiro no sutiã, choro de cliente e mosca. Tudo do jeito que amamos. Alí é uma fuga para nosso passado recente que nos dava liberdade para caminhar nas ruas.
Fato é que essa quarentena mexeu de várias maneiras com nossa vida no sentido mais amplo da palavra. Nos mostrou o quanto acelerada e atarefada é nossa vida. Que apesar disso, gostamos dela mesmo assim, ainda que precise de muitos ajustes, como mais tempo para passar com nossa família, que geralmente é roubado pela correria que é nosso dia a dia.
Esse período até me fez lembrar da época do começo desse texto, quando tínhamos tempo pra tudo, os dias pareciam mais longos e a gente passava mais momentos com os parentes de casa. Aliás, será que em 2040 já teremos o Remo com pelo menos um título de série B? É mais certo colonizar Marte e dar uma volta no Ver-o-Rio de carro voador.
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