Muitas famílias brasileiras consideram a catapora uma doença simples e até preferem que as crianças tenham contato com o vírus da varicela ainda na infância, já que a condição raramente é grave. Porém, além de a catapora aumentar o risco de herpes-zóster no futuro, ela pode ter complicações raras e sérias mesmo em crianças.
Foi o que aconteceu com o inglês Freddie Rushton, de 5 anos. Em maio de 2023, o menino sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) , o quadro foi uma complicação da catapora que ele teve 11 meses antes de apresentar os sintomas do derrame.
Repentinamente, Freddy ficou com o lado esquerdo do corpo paralisado. Ele não conseguia falar e os médicos disseram à família que o menino talvez nunca mais voltasse a andar, o que, felizmente, não ocorreu.
Os médicos que o atenderam suspeitaram que o vírus da varicela tivesse causado o derrame. Freddie foi submetido a uma punção lombar, que encontrou o vírus presente em seu líquido espinhal e confirmou o diagnóstico.
A mãe, Sarah Kilgariff, de 43 anos, não tinha ideia de que o AVC poderia ocorrer em crianças e menos ainda que poderia ser desencadeado pela catapora.
As complicações da catapora em crianças ocorrem quando o vírus infecta os pulmões, o cérebro, o coração ou o fígado e costumam aparecer até seis meses após a infecção, o que torna o caso de Freddie ainda mais raro.
O vírus levou a uma restrição dos vasos sanguíneos no cérebro do menino, o que acabou progredindo para o AVC. Freddie passou por um tratamento para resolver a infecção residual da catapora e usou medicações para aliviar a pressão no crânio.
Mesmo tendo se recuperado do derrame, ele precisou reaprender a comer e engolir, funções que foram prejudicadas pela paralisia – durante a internação, o menino teve de usar um tubo de alimentação por semanas.
Freddie também precisou fazer fisioterapia para recuperar o movimento da perna esquerda, mas ainda sofre com as consequências do AVC.
“Ele ainda tem alguma fraqueza residual no lado esquerdo e tropeça um pouco, mas espero que ele melhore com o tempo. O AVC nos abalou muito psicologicamente e a ele também. Meu filho voltou a usar fraldas e ainda tem dificuldades para falar”, lamenta a mãe.
A vacina contra a catapora é distribuída pelo SUS desde 2013, e o esquema vacinal deve ser completado antes dos 7 anos, que é a idade máxima de efetividade da fórmula.
O imunizante é administrado em primeira dose aos 15 meses de idade (tríplice viral + varicela monovalente, ou tetra viral, quando disponível), e a segunda dose, de varicela monovalente, deve ser aplicada aos 4 anos de idade.
Pessoas imunocomprometidas, com doenças dermatológicas graves, pacientes renais crônicos e profissionais da saúde podem receber a vacina independentemente da idade.
Se a criança apresentar sintomas de catapora, é importante que fique em casa, isolada de outras pessoas, por pelo menos sete dias, ou até que as lesões estejam bem secas.