Enquanto dez embarcações e um helicóptero realizam buscas para encontrar desaparecidos no naufrágio da lancha Dona Lourdes II, que afundou com um número até agora indeterminado de passageiros, deixando 11 mortos e 63 sobreviventes, a polícia investiga o que está por detrás de mais uma tragédia nos rios amazônicos.
Uma coisa – aliás, comum na região – todos já sabiam: a lancha fazia uma viagem clandestina e sem qualquer fiscalização para interceptá-la durante o trajeto até Belém, possivelmente com número de passageiros além de sua capacidade. Segundo sobreviventes, a embarcação deixou a cidade de Cachoeira do Arari, no Marajó, partindo de um trapiche irregular e iria atracar em outro trapiche, também irregular, na capital paraense.
Durante a viagem, a lancha começou a apresentar problemas, deixando apreensivos e depois em pânico, as dezenas de passageiros. Isso ocorreu às proximidades da praia da Saudade, em Cotijuba. As informações que circulavam eram de que a lancha, que logo depois afundaria, bateu em uma pedra no fundo do rio. Em um vídeo divulgado ontem pelo Ver-o-Fato, um tripulante avisa que a água estava entrando na embarcação, durante manobras sobre o rio agitado.
A lancha afundada pode ter corpos dentro dela, mas essa suspeita só poderá ser confirmada após o trabalho de mergulhadores. As buscas dentro da embarcação serão retomadas hoje, porque ontem, devido à maré alta e escuridão, foram suspensas.
Donos foragidos
Os proprietários da lancha Dona Lourdes II já possuem antecedentes junto às autoridades navais por operações clandestinas e tiveram duas embarcações apreendidas. De acordo com a Polícia Civil, que abriu inquérito para apurar o naufrágio, Meire Ferreira Oliveira e o filho dela Marcos de Souza Oliveira poderão ser indiciados por homicídio culposo – sem intenção de matar -, omissão de socorro e outros crimes ainda não tipificados.
Pelo que foi apurado até agora, Marcos Oliveira seria o responsável pela lancha que afundou, pois estava na embarcação, mas teria fugido após a tragédia. Meire, por sua vez, estaria em Cachoeira do Arari, mas essa informação não foi confirmada.
Um fato, revelado pela polícia, é sintomático sobre tragédias anunciadas nos rios do Pará: mãe e filho, donos da lancha, teriam sido notificados por supostas irregularidades no transporte de passageiros. Não se sabe que irregularidades foram essas. Só uma coisa é certa: é mais um caso desenhado a se repetir no futuro próximo.
Prevenção de acidentes dessa natureza é coisa rara por aqui, diante da inoperância da fiscalização.
Prefeito visita sobreviventes
O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, visitou ontem as vítimas do naufrágio. A prefeitura montou um ponto de apoio às vítimas na Unidade Pedagógica da Faveira, localizada em Cotijuba. Durante a visita à unidade educacional, o prefeito Edmilson conversou, se solidarizou com as vítimas e colocou toda a estrutura da Prefeitura à disposição para ajudar no que for necessário.
“Primeiramente, a nossa solidariedade às pessoas que perderam seus entes queridos. Estamos disponibilizando as embarcações que servem às escolas municipais, as equipes médicas de Outeiro e Cotijuba já estão aqui. Todo o apoio está sendo disponibilizado, nossos carros da Escola Bosque já estão deixando algumas vítimas, que, apesar de tudo, já têm condições de ir para casa”, explicou.
A escola municipal que serve de apoio para as vítimas do naufrágio fica na ilha de Cotijuba e está disponibilizando alimentação, atendimento básico como aferição de pressão, além de doação de roupas. Além do espaço cedido, a prefeitura está atuando por meio de ações da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma), Fundação Escola Bosque (Funbosque), Fundação Papa João XXIII (Funpapa), Guarda Municipal e Comissão de Defesa Civil, com os dois últimos órgãos integrando à Sala de Situação montada pelo Sistema de Segurança Pública do Estado (Segup).
A Sesma conta com o Serviço Atendimento Móvel Urgência (Samu) na área, por meio da ambulancha e das ambulâncias, ajudando no resgate das vítimas do acidente. As vítimas estão sendo direcionadas para a Unidade Básica de Saúde (UBS) de Cotijuba, para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Icoaraci e para a UBS Marambaia. A Sesma ainda não tem informações sobre a quantidade de vítimas deste acidente.
A Funbosque disponibilizou a Unidade Pedagógica da Faveira/Cotijuba para ponto de apoio às vítimas do acidente. O órgão também colocou à disposição das famílias um ônibus e uma embarcação para qualquer deslocamento eventual. A Guarda Municipal de Belém está atuando nas ações de apoio integrando à Sala de Situação. Além disso, o trapiche de Icoaraci recebeu reforço com a presença de guardas municipais para auxiliar no ordenamento de fluxo e evitar tumultos.
Assim que a Funpapa foi acionada pela Defesa Civil de Belém, direcionou sua equipe técnica para dar o apoio psicossocial às famílias das vítimas do naufrágio. As famílias também receberão todo o suporte necessário para a realização do funeral e sepultamento, com todos os trâmites sendo realizados com celeridade, em regime de prioridade pelo Serviço de Proteção em Situação de Calamidade Pública e de Emergência (Sicape), administrado pela Funpapa.