O CINE CURAU é uma iniciativa de cineclubismo amazônida e foi concebido inicialmente como um programa para a rede municipal de educação. Tem inspiração na pedagogia freireana e tem caráter educativo e social.
O CINE CURAU nasceu em 2021, dentro do Núcleo de Arte, Cultura e Educação (NACE), na Secretaria Municipal de Educação de Belém (SEMEC). Idealizado por Mateus Moura, a partir de sua trajetória cineclubista de 15 anos em Belém, o CINE CURAU foi concebido como um programa de cineclubismo para a rede do município.
Sob os princípios de uma alfabetização crítica do olhar como prática de liberdade, o programa articula ações culturais em 4 eixos complementares: sessões cineclubistas, oficinas de criação cinematográfica, oficinas de formação cineclubista e cursos de formação crítica.
Em 2023, encerrado o contrato com a prefeitura, Mateus ingressou no doutoramento do Programa de Pós-Graduação em Artes (PPGARTES/UFPA), na linha de Memória, História e Educação em Artes para pesquisar o compromisso da práxis cineclubista com abordagens pedagógicas decoloniais em relação ao território amazônico e suas representações no imaginário.
No mesmo ano, o CINE CURAU foi contemplado pela SECULT (Edital Paulo Gustavo – Apoio a cineclubes) para dar continuidade às suas ações e sonhar novos voos no ano de 2024.
SOBRE O CURSO
Em pouco mais de uma década (do final dos 1970 até a segunda metade dos anos 80) floresceu, firmou-se e entrou declínio um gesto cinematográfico eminentemente popular e independente que logo assumiu características próprias e bem brasileiras: o cinema de invenção. Na origem, era uma oportunista tentativa de emular as comédias italianas e saciar o desejo do público pela diversão mais maliciosa e quase apelativa. Porém, ao longo dos anos, à medida que essas produções aumentavam sua popularidade, ousava-se cada vez mais, transcendendo o viés “explotation” para registrar, sem meias tintas, o imaginário mais recôndito e reprimido da alma nacional.
O curso, ministrado pelo cineclubista e crítico de cinema Adolfo Gomes, pretende analisar criticamente a evolução do gênero no Brasil e sua contribuição para a afirmação de uma identidade nacional no cinema, traçando paralelo com o chamado “cinema underground” em desenvolvimento na Europa e EUA naquele período.
Outra vertente a ser abordada é o exílio temático e físico dos cinemanovistas, a reação do cinema marginal e os pontos de contato e de tensão entre essas gerações. Apesar do caráter autoditada e intuitivo da maioria dos realizadores e técnicos envolvidos na produção desses filmes inventivos também emergiram de tal ambiente alguns cineastas de perfil mais autoral, como Jean Garret e Ody Fraga. Ao mesmo tempo jovens, com sólida formação cinéfila e acadêmica encontravam no viés do cinema independente a chance de iniciar a prática cinematográfica. Caso, por exemplo, de Inácio Araújo, Carlos Reichenbach, Luiz Sergio Person, João Silveiro Trevisan, João Batista de Andrade, entre outros.
O curso problematizará essas e outras questões, contrapondo a sofisticação intelectual e cinéfila desse grupo ao vigor e liberdade formal dos demais realizadores, as influências, as possíveis vantagens, mas também a vampirização estilística decorrente dessa troca de experiências.
Para ilustrar o conteúdo teórico, o curso prevê a exibição de trechos de filmes representativos do gênero e de diversas obras relacionadas para exemplificar os temas e abordagens das aulas, além da troca de ideias e debates com os alunos sobre os modelos de produção do cinema no Brasil.
ADOLFO GOMES
Jornalista (graduado em Comunicação Social/UFPA), crítico de cinema filiado à Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) e cineclubista. Fundou a Associação Amigos do Cinema em Belém. No campo do jornalismo foi repórter e colunista do Jornal “Diário do Pará” (1995-1998), editor do caderno de cultura do Jornal “A Província do Pará” (1999-2001), assessor de imprensa da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Pará (2002-2007). De 2007 a 2020, coordenou o Núcleo de Difusão da Diretoria de Audiovisual, da Fundação Cultural da Bahia, onde também desenvolvia ações de produção e jornalismo cultural. Desde 2020 vive entre Belém/PA e Salvador/BA e vem se dedicando a curadorias, assessorias, projetos especiais, participações em debates/palestras e instrução de cursos e oficinas, virtuais e presenciais. Em Belém, foi responsável pela coordenação geral e edição do e-book do projeto “Rotas Amazônicas, um acervo de imagens históricas”, contemplado no edital de Artes Visuais (categoria acervo e memória), realizado pela Fotoativa/Lei Aldir Blanc/Secult-PA, 2021. Atualmente é co-curador do Cineclube Glauber Rocha e programador da Sessão Tabu, ambos também na capital baiana.
Cine Curau: novos voosCurso “Retratos Brasileiros: cinema popular e transgressão nos anos 1980”
Ministrante: Adolfo Gomes
Datas: 04, 11, 18 e 25/05 (sábados)
Horário: 10h às 13h
Inscrições gratuitas na Central de Atendimento do Sesc Ver-o-Peso