Afastada por ordem da Justiça Militar do Pará desde o dia 26 de julho passado do Comando de Polícia Ambiental (CPA) de Santarém, após se envolver em um escândalo de venda de vagas naquela corporação, a coronel Andréa Keyla Leal Rocha acaba de assumir o comando de nova unidade da Polícia Militar, agora em Belém.
Por determinação do comandante-geral da PM, coronel José Dilson Melo Júnior, que assinou portaria com data de ontem, 11, Keyla vai dirigir o Comando de Policiamento Especializado de Belém. Na mesma portaria, o comandante-geral exonerou a coronel Keila do Comando de Policiamento Ambiental, em Belém, de onde ela havia saído, transferida para Santarém. O novo comandante do CPA de Belém é o coronel Antônio Rodrigues Cavalcante.
A decisão de Dilson Junior causou desagrado na corporação e críticas a ele, inclusive de fontes do Ver-o-Fato na PM. Pelos corredores e gabinetes do Comando-Geral, segundo as informações, alguns oficiais não estranharam a portaria lavrada pelo coronel em “premiar” Keyla Rocha com um novo comando. A alegação é de que ela seria amiga e protegida do comandante-geral, que não teria gostado do afastamento de Keyla de Santarém.
Vale lembrar que ao afastar a coronel Keyla do CPA de Santarém, a Justiça Militar também determinou a prisão preventiva do sargento Gildson dos Santos Soares. O trabalho de investigação que resultou no pedido de afastamento foi realizado pelo promotor militar, Armando Brasil, e promotora de Santarém, Dully Araújo. A acusação do MP contra ambos, após acolher denúncias de policiais militares, é de corrupção passiva, peculato, abuso de autoridade e ameaça. O afastamento e a prisão foram determinados pelo juiz militar Lucas do Carmo de Jesus.
Segundo o procedimento investigatório criminal, instaurado pela 2ª Promotoria de Justiça Militar e 3ª Promotoria de Justiça de Santarém, as denúncias foram feitas por policiais militares da 1ª Companhia de Policiamento Ambiental (Cipamb), no município de Santarém. As denúncias foram realizadas por meio de depoimentos gravados em vídeo. Os militares relataram que foram transferidos para outros comandos da Polícia Militar, sob a “alegação” de que eles estariam envolvidos em vendas de informações de barreira de fiscalização pela 1ª Cipamb.
Ocorre, afirma o relatório dos MPs, que “diante dos elementos trazidos, de forma unânime pelos militares inquiridos, tais transferências, na verdade, eram para criar vagas na 1ª Cipamb, uma vez que todas já estavam preenchidas”. Ainda de acordo com os fiscais da lei, dos depoimentos prestados, verifica-se que tal situação veio a ocorrer com o intuito de que outros policiais militares, mediante pagamentos efetuados ao 2º sargento Gildson, pudessem vir a ocupar as vagas que teriam sido abertas com as transferências e para que o referido militar efetuasse a mudança nas escalas de serviço da 1ª Cipamb”.
Aprofundando as investigações, com a oitiva de outros policiais militares, enfatiza o relatório, “verificou-se também que tais fatos, gravíssimos, contavam com a chancela da comandante, a coronel Keyla, que, utilizando-se de maneira indevida do seu cargo de comando, chancela as decisões do 2º sargento Gildson, com a decisão final na escolha de quem serão os policiais militares para fazerem parte do seu comandado, em especial a lotação na 1ª Cipamb, o que demonstra o seu elevado grau de relevância no “esquema de venda de vagas”.
Em um depoimento muito relevante para corroborar as denúncias formuladas pelos MPs, o cabo Elias Ferreira de Araújo Júnior afirmou que a coronel Keyla “costuma agir de forma muito autoritária e, para sustentar sua autoridade, bem como as ordens ilegais perpetradas, afirma em público para a Companhia que é amiga do Comandante Geral da PM (coronel Dilson Júnior)” e que, ainda, na Companhia “só fica quem ela quer e quem ela não quer ela transfere”.
Durante ainda o depoimento dele, foi-lhe perguntado se com a chegada do 2º sargento Gildson teriam ocorrido muitas mudanças dentro da 1ª Cipamb, tendo ele respondido de forma afirmativa e que as mudanças se deram a partir do momento que a coronel Keyla foi para Santarém e ela e o sargento se conheceram. Em outro momento, também lhe foi perguntado se ele já tinha presenciado/ouvido o sargento Gildson se valer dessa “intimidade” com a coronel Keyla, vindo o declarante a dizer que sim, em relação às transferências.
E mais: ” a coronel Keyla se aconselhava com o sargentos Gildson e todos da Companhia que, porventura, tivessem algum problema de relação com o mesmo eram
transferidos”. Em relação à suposta “venda de vagas” na 1ª Cipamb, foi-lhe perguntado se ele tinha conhecimento sobre tais fatos, sendo afirmado pelo depoente que são constantes os comentários de que o sargento Gildson está diretamente ligado à prática em questão”.
O Ver-o-Fato não conseguiu falar com o coronel Dilson Junior para ele esclarecer sobre as razões da nomeação da coronel Keyla Rocha para o comando do Policiamento Especializado de Belém. O espaço está aberto à manifestação do coronel.
A portaria do comandante-geral da PM:
