Tudo começou com o fim do “lockdown”. As pessoas que, na medida do possível, ficaram em casa para conter o vírus, agora poderiam liberar toda sua vontade acumulada de curtir nas ruas, ou como dizem aqui, fazer um “Roock doido”.
Então, de primeira o local escolhido foi um posto de gasolina localizado na Augusto Montenegro, próximo da entrada para o Tapanã e o Satélite. Por alguns dias tudo ocorria sem entraves, mas logo os carros com sons automotivos e a mediana aglomeração de pessoas fez com que o posto começasse a dificultar o acesso ao local com grades e placas que alertavam para proibição de som muito alto. Logo os frequentadores tiveram que escolher um novo espaço para o “rock”.
Calhou de, no começo das atitudes do posto, abrir um bar novo, logo do outro lado da pista, no sentido Icoaraci e na frente do conjunto Jardim Sevilha. O local já era movimentado por conta de uma conveniência, o bar só fez atrair ainda mais pessoas, inclusive aquelas do posto.
As coisas começaram a ficar maiores. Era final de julho e o ímpeto de sair das pessoas estava a mil. Se no começo as pessoas no posto desfilavam seus carrões, agora chegavam cada vez mais pessoas de ônibus, uber, moto-táxi e andando. O novo bar teve que construir um cercado, pois o que ocupava apenas um lado da calçada, começou a ocupar o outro…e outro…e mais outro, depois foi para o BRT, depois para o outro lado da Augusto, dentro do Sevilha, na frente do Orlando Lobato, na frente do Sevilha, enfim, onde pudesse haver gente.
Começou a ficar conhecido e logo foi batizado de Baile do Sevilha. Pessoas de bairros do outro lado da cidade e de Ananindeua começaram a comparecer. Virou uma das maiores festas a céu aberto na pós quarentena. Com o grande público, começaram os problemas.
As manhãs pós baile viraram um tormento para uma parte dos moradores e comerciantes do Sevilha. Muito lixo e histórias de assalto. Logo a polícia começou a ser chamada para desmobilizar a grande concentração e terminar com o som. Quando dava por volta das 2 horas da madrugada a polícia começava a agir. Parava o som, desfazia parte da aglomeração, mas com 30 minutos tudo parecia estar do mesmo jeito. Logo os policiais começaram a dar tiro de borracha (para cima) na tentativa de terminar com tudo. E assim seguia o baile…
Na madrugada de sábado para este domingo (23), o anúncio de uma tragédia. Um policial foi brutalmente assassinado no Jaderlândia. Quem mora em bairros mais periféricos sabe que, quando isso acontece, não é recomendável pisar na rua, nem que seja na frente de casa. Mas o Baile do Sevilha acontecia, talvez com recorde de público.
PM, Rotam, Civil, Detran, todos mobilizados pela cidade. Cotidianamente o baile já seria um alvo. Foi, mas dessa vez com mais agressividade. Não passava nada, foi fechado os dois lados da via, deixando pouca alternativa de fuga sem que se tomasse spray de pimenta ou uma cacetada, fora as balas de borracha.
O caos se instalou. Gente passando mal, outras pulando muro, polícia quebrando isopor com cervejas dos participantes, correria, cavalaria, carros sendo rebocados, grito, por sorte não houve vítimas mais graves.
Pela manhã restaram as histórias. Todo canto tem alguém dando uma versão do acontecido. Muito lixo, coisas quebradas. Cenário pós guerra. Depois de tudo isso, será que segue o baile? Permanecerá vivo o, agora famoso, Baile do Sevilha? Já é sabido que parte do público, com medo da repressão policial, migrou para a Arterial e para um posto no início do Conjunto Maguari.
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