Profissionais da comunicação, psicólogos, autistas e familiares relatam como o conhecimento pode gerar inclusão ou reforçar o preconceito
A temática do autismo tem sido cada vez mais objeto de discussão da mídia. A divulgação das narrativas que envolvem o tema sobre o Transtorno do Espectro Autista nos mais variados canais de comunicação, sendo eles a imprensa, redes sociais, sites, vídeos, séries, blogs, dentre outros, resultam em contextos e informações que refletem diretamente no dia a dia das pessoas com autismo e familiares que convivem com esses indivíduos.
A mídia, os meios de comunicação e, nos últimos anos, as redes sociais e os chamados “influenciadores”, assumem um papel importante nas concepções compartilhadas sobre o autismo no país. Seja através das informações de caráter científico, ou não, disseminação de conhecimento ou mera opinião. E, por muitas vezes, quando a informação não é embasada em fatos, ciência e na realidade do indivíduo autista, a legitimação do conteúdo sofre um descrédito, um ruído, podendo gerar o contrário do que se espera: atitudes e pensamentos preconceituosos que podem distanciar ainda mais a sociedade da realidade das pessoas com TEA.
E será que realmente a informação disseminada pela mídia tem gerado a inclusão de pessoas com autismo? O conhecimento relatado representa, de fato, a maneira pela qual um indivíduo com TEA (Transtorno do Espectro Autista) deseja ser visto e tratado? Como esse conhecimento transmitido tem impactado a vida de pessoas com autismo e familiares?
Informação que não gera inclusão: na voz de quem vivencia
A construção midiática sobre o autismo precisa estar pautada na participação do próprio indivíduo com TEA, somente assim é possível criar a legitimidade da informação. A visibilidade a partir desse viés gera a representatividade e a identificação do autismo, que vai se entender como parte de um grupo. Assim como explica a psicóloga analista do comportamento e diretora técnica do Grupo Conduzir – clínica multidisciplinar que visa auxiliar indivíduos que necessitam de Intervenção Comportamental para o desenvolvimento de habilidades:
“A questão do pertencimento é essencial para qualquer ser humano. E a forma como a gente constrói essa representação é que temos que tomar cuidado. A mídia precisa dar voz a essas pessoas que estão sendo representadas. Elas precisam ter cara, porque uma das formas de se desmistificar o autismo, é mostrando que essa pessoa tem um rosto. Quando você dá voz, você humaniza a pessoa, e assim, é possível aproximar o interlocutor.
Flávia Poppe é economista, tem 62 anos, e é mãe de Nicolas Poppe, estudante, de 30 anos, diagnosticado com autismo.
Ela comenta que a informação disseminada muitas vezes tem gerado certa confusão. E que a oferta infinita de informações, que não vem acompanhada de critérios para discernimento, pode levar pessoas com pouca instrução e crítica para caminhos não desejáveis e, pior, que comprometem o futuro das pessoas com autismo:
“Acho que há muito romantismo. Sinto que há uma parte boa que informa e outra ruim que desinforma. Isso porque precisamos falar realmente de inclusão, e a base da inclusão para mim é tolerância, observação para aprender e mudar, se for preciso, para que qualquer pessoa possa ter uma vida digna, plena e em sociedade. Para mim a luta passa pela desmistificação da deficiência como fator impeditivo ao convívio. No fundo, é simples se observarmos pelo lado da pessoa e não da deficiência. Informação de qualidade e convivência com as pessoas ‘diferentes’: nas ruas, nos bares, no comércio, nas escolas, no trabalho, nos prédios, nos clubes etc. Isso realmente iria trazer mais empatia, amor e suporte às pessoas com autismo.”
Intervenção e Terapia ABA: uma forma de inclusão
A melhor forma de intervenção é aquela que dá resultado de forma eficaz e consistente, ou seja, a longo prazo. Para que se atinja esse objetivo, é preciso buscar intervenções que tenham práticas baseadas em evidência. A terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada) é conhecida como a mais eficaz no desenvolvimento de indivíduos atípicos. Tem sido utilizada em diferentes populações e áreas, incluindo autismo, transtornos do neurodesenvolvimento, educação, organizações, saúde mental. Por mais de 50 anos, indivíduos de todas as idades vêm recebendo intervenções que foram eficazes. Além disso, mais de 1000 artigos sobre autismo confirmam o sucesso da ABA.
No caso do autismo, isso quer dizer que para qualquer estratégia, procedimento, programa terapêutico que o profissional propor, é necessário ter base em análises científicas, e então, adequar-se ao contexto do indivíduo. Júlia continua:
“Isso não pode ser baseado em achismo ou mesmo na tentativa de aplicar um ‘método’ para enquadrar a pessoa com autismo. O movimento é contrário e co-participativo, ou seja, profissional e família, em casos que o autista é uma criança pequena, e para adultos, diretamente entre profissional e indivíduo. A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) contempla todos esses pontos. A intervenção em ABA é a mais recomendada para o desenvolvimento dos autistas, por ter sua eficácia comprovada cientificamente.”