A caboquice é um fenômeno da identidade belemense que me enche de orgulho. Acho bonito nossa capacidade de ser caboco. Se você reparar, é o povo super feliz com o pouco que tem. Isso é romântico, emocionalmente saudável, divertido e faz muito bem. Eu sou um caboco “doente”.
Veja, é preciso fazer uma distinção: fazer aglomeração no shopping ou entrar de carro na areia de Salinas, apesar de um leve tempero de caboquice, é galassequice, não tem nada de caboquice! Bem como quando uma mãe briga com seu filho e o repreende dizendo “tu vai já parar com tua caboquice”.
Ela está sendo conceitualmente equivocada, a criança está só infernizando mesmo, não tem nada a ver com nosso patrimônio imaterial do povão. Se você entende isso, prossiga no texto.
Algum tempo atrás fomos agraciados com dois megas eventos para cabocagem popular. O primeiro foi a inauguração das lojas do Magazine Luiza, aqui na capital. Foi um sucesso caboquiano. Lotou mesmo antes de as portas abrirem.
Meus pais marcaram presença. Levaram algo? Tinham dinheiro ou crédito para adquirir algo? Pois é, não. A caboquice sugere a inclusão social aos espaços simbólicos de satisfação material e imaterial.
Em outras palavras, é importante poder dizer “eu fui, eu tava lá”. Poder contar, é melhor do que poder comprar.
Outro mega evento da mais célebre filosofia hegemônica cabocaniense: a apresentadora do jornal local vai apresentar o Jornal Nacional. Para não restar duvidas que o acontecimento atendeu aos pré requisitos da instituição caboca, basta lembrar que houve um telão em um shopping que transmitiu ao vivo este big ben de energia cabocã.
O jornal anunciou dois meses antes o feito, só não foi feriado porque era sábado. Os bares ficaram lotados, não se falava de outra coisa, até fizeram esquecer que haveria um RExPA no outro dia.
Era moralmente um pecado marcar qualquer coisa para o horário ou querer ver outro canal. Eis um dia de celebração da caboquice. Fomos felizes!
Aliás, como fomos ao botar 80 mil no mangueirão pra ver o treino da seleção, marcar presença na lama no DVD do Calcinha Preta ou mesmo andar de BRT só pra ver como é (meu caso).
Viva a caboquice!
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