Em livro, o cientista israelense Avi Loeb defende que o objeto de formato peculiar que passou pelo sistema solar em 2017 é artificial
Becky Ferreira*, Especial para o The Washington Post
Avi Loeb passou muito tempo refletindo de que maneira explorar as desérticas regiões interestelares. Astrofísico na Universidade de Harvard e presidente do comitê consultivo do projeto Breakthrough Starshot, cuja finalidade é enviar sondas especiais para o sistema estelar mais próximo, Loeb sonha em disparar lasers poderosos em plataformas na nuvem – naves minúsculas, reflexivas similares a espelhos – para acelerá-las usando uma técnica chamada Star-hopping, usada por astrônomos para localizar objetos pouco luminosos.
Assim, quando um objeto bizarro vindo do espaço interestelar atravessou nosso sistema solar em 2017, Loeb afirma que de imediato viu ali um vislumbre de tecnologia alienígena – uma plataforma extraterrestre, mais do que uma rocha espacial errante.
Em seu livro Extraterrestrial: The First Signo of Intelligent Life Beyond Earth (Extraterrestre: o primeiro sinal de vida inteligente fora da terra) ele expõe sua tese de que o viajante inusitado, chamado Oumuamua, com base na palavra havaiana para “explorador”, era um objeto artificial criado por alienígenas inteligentes. Embora esta explicação exótica seja a espinha dorsal do livro, os argumentos mais amplos do astrônomo são apresentados a partir da sua perplexidade com a forte reação contrária à hipótese que levantou, que considera um prenúncio da decadência imaginativa e do preconceito contra alienígenas no âmbito da comunidade científica.
“A busca de vida extraterrestre nunca foi considerada mais do que uma excentricidade para a maioria dos cientistas. Para eles é um tema que, no melhor dos casos, deve ser examinado de relance, e no pior merece total desdém”, afirma o astrônomo.
Aqueles céticos que se enquadram nessa descrição deveriam levar a sério a meticulosa defesa da história da origem dos aliens oferecida por ele em Extraterrestrial. Para reforçar sua tese, Loeb aponta para as propriedades inexplicadas do primeiro visitante interestelar: suas dimensões extremas, sua luminosidade desconcertante e o impulso da aceleração de velocidade que o levou a desaparecer dos nossos telescópios.
Os proponentes de uma origem natural do Oumuamua sugeriram que se tratava de um fragmento planetário elíptico ou uma nuvem solta de grãos de areia. Loeb pergunta se uma origem alienígena é algo mais rebuscado do que essas explicações, uma vez que os cientistas nunca viram fragmentos ou nuvens dessa natureza dentro do sistema solar.
Além disso, os cientistas também especularam que o repentino fenômeno de aceleração do Oumuamua no sistema solar havia sido causado por explosões de gelo em evaporação, um fenômeno conhecido como desgaseificação. Loeb contra-argumenta apontando para a falta de evidências obtidas por telescópios de um evento de desgaseificação.
Como um Sherlock Holmes astrônomo, um personagem citado com frequência no livro, Loeb conclui que “a explicação mais simples dessas peculiaridades é que o objeto foi criado por uma civilização inteligente que não é desta Terra”.
Loeb tem menos sucesso para demonstrar a controvérsia que provocou como um sinal de relutância míope dentro dos círculos acadêmicos a admitirem que os humanos podem não ser os únicos seres dotados de sentidos e exploradores do espaço sideral no universo. O tempo todo no livro ele repete o refrão “e contudo ele se desviou”, para descrever Oumuamua: uma alusão ao “e contudo ela se movimenta”, frase de Galileu referindo-se à Terra, em resposta à sua retratação forçada do modelo do sistema solar tendo o sol como centro.
Loeb deixa claro que não se considera um neo-Galileu. Mas vê paralelos entre os críticos de Galileu e os seus próprios. “Lembre os cientistas que se recusaram a olhar pelo telescópio de Galileu”, ele escreve. “O preconceito ou as mentes fechadas da comunidade científica constituem algo particularmente generalizado e poderoso no que se refere à busca de vida extraterrestre, especialmente vida inteligente. Muitos pesquisadores se recusam até a considerar a possibilidade de que um objeto ou fenômeno bizarro possa ser evidência de uma civilização avançada”.
A busca de inteligência extraterrestre há décadas tem ficado à margem da ciência, em parte por causa da falta relativa, durante o século 20, de métodos empíricos disponíveis que ajudem a reduzir as dúvidas sobre alienígenas. Nas duas últimas décadas, porém, uma explosão de técnicas de observação e descobertas, muitas delas descritas por Loeb, revolucionaram a astrobiologia e essas buscas de vida extraterrestre (ou SETI em inglês).
Milhares de exoplanetas (mundos que orbitam em torno de outras estrelas) foram detectados desde a década de 1990; alguns telescópios agora têm a tarefa explícita de avaliar sua habitabilidade. Uma missão importante do veículo especial Perserverance da Nasa, que deve aterrissar em Marte em fevereiro, é buscar sinais de vida nesse planeta. A China construiu o maior telescópio do mundo para investigar os céus em busca de evidências de inteligência extraterrestre.
Em Vênus, a possível detecção de um elemento químico ligado à vida fomentou ideias de micróbios aéreos nos céus venusianos. No sistema estelar Alpha Centauri – o objetivo do projeto Breakthrough Starshot – em um exoplaneta recentemente descoberto foram detectados sinais de rádio, alimentando especulações sobre “tecnoassinaturas” alienígenas.
Esses avanços e observações ajudaram na prática a aguçar a busca por vida extraterrestre nas mentes de cientistas estritamente empíricos que reagiram bruscamente à acusação de Loeb de que a “comunidade científica conservadora” considera o campo uma “perda de tempo”.
Loeb há anos está no centro das discussões da mídia e reações negativas dos seus pares, alimentando suas preocupações de que o pensamento de grupo institucional está limitando o escopo da investigação cientificando e deixando a sociedade mal preparada para lidar com uma possível detecção inequívoca de um E.T.
A fascinação pelo cosmos e as reações contrárias que inspiraram Extraterrestrial têm raiz na juventude de Loeb. Tendo crescido na fazenda da sua família em Beit Hanan, Israel, que fica ao sul de Telavive, ele teve uma infância idílica. Adora lembrar do seu pai verificando atentamente a antena de TV no telhado da casa de modo a garantir que a família assistisse à aterrissagem da Apolo 11 na Lua. Descreve sua formação na infância em que ponderava quanto a agir de acordo com outras crianças, e sugere um instinto permanente de rejeitar as convenções. “A ciência que faço tem uma linha direta com minha infância. Foi um tempo inocente de refletir sobre grandes questões da vida, desfrutar da beleza da natureza e, entre os pomares e os vizinhos de Beit Hanan não me preocupar com status ou prestígio”.
Com uma paixão por filosofia e um currículo interdisciplinar, Loeb se descreve como “um astrofísico de algum modo acidental”.
Embora seja tentador imaginar que Oumuamua foi o primeiro elemento alienígena com que nos deparamos, Loeb escreve sobre colecionar conchas na praia com as irmãs, compartilhar novos estudos com seus muitos pupilos e a busca de tranquilidade na visão do céu noturno do nosso planeta solitário. No final, a parte melhor de Extraterrestrial é quando está com os pés na terra. / Tradução de Terezinha Martino
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