Como em todo lugar, existem os funcionários públicos bons e ruins. Os ruins, geralmente, fazem uma atividade de um único expediente durar 1 mês. Os bons, o trabalho equivalente ao de 5 ruins. O ruim chega 10 horas, sendo que deveria ser às 8. Vai embora 3:40, reclamando que ainda é segunda-feira. O bom nem sempre cumpre o horário certo, mas faz a diferença, é produtivo e costuma ser solícito.
Quem é concursado, não gosta de DAS. Quem é de cargo comissionado, não suporta o concursado. Mas até que as vezes pinta o clima e eles se dão bem.
Uma vez fui contratado para trabalhar em um núcleo em que a maioria dos funcionários estavam brigados. Se não estivessem brigados, já tinham tido algum tipo de confusão no passado. Aliás, não dá pra esperar menos de 20 anos de convivência.
Lá, a dinâmica era assim: ao falar com A, saberia os podres de B e C, assim sucessivamente e em forma de ciclo interminável de confusão. Uma vez fui pedir para C preparar um relatório, mas ele se negou, pois era para A fazer. Então, fui até ele que, por sua vez, disse que não faria porque deveria ser coisa de B e este não teria participado da coleta da cafeteira. Surreal.
Mas uma cena inesquecível se deu quando R era chefe. S não gostava dele, pelos menos não por trás, porque pela frente era um chamego…enfim. Um dia R estava preenchendo seu imposto de renda. S foi por trás e, sigilosamente, bateu uma foto do documento que estava visível no notebook. Porém, C, melhor amigo de R, entrou na sala na mesma hora e acabou flagrando a cena.
C ficou calado, esperou o outro dia pela manhã e finalmente contou o que viu. R entrou transtornado pela sala, ameaçando processo e PAD. S se encolheu de vergonha, suplicando para R, seu chefe, não tirar sua gratificação do salário. Sim, a cena de um homem de 44 anos, ajoelhado, pego em flagrante, envergonhado e em desespero, se deu diante dos meus olhos.
Vergonha alheia forte. R ficou com pena e, apesar de P da vida, apenas botou o bisbilhoteiro para outro núcleo. S teve seu castigo, talvez, depois dessa, nunca mais fique memorizando os vencimentos dos seus parceiros. Sim, era nesse naipe.
As confusões ocorriam por causa de tudo, desde o cheiro da comida até o colega que tecla barulhento demais. Deveria haver um estudo verificando se a estabilidade atua na configuração cerebral que indica os níveis de “rabujentice”.
Mas depois das brigas, às vezes parecendo que iam para as vias de fato ou tribunais, ou mesmo que ficariam apenas como uma guerra fria, depois de tudo isso, estavam todos juntos, rindo e relembrando momentos nas confraternizações. Felizes, tristes, entediados, jurando morte à segunda-feira e amor para sexta, sempre na procura do café, ensinando, aprendendo, atendendo e fazendo acontecer.
Era um lugar feliz, apesar dos pesares.
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