O Ver-o-Fato recebeu e publica o desabafo da promotora de Justiça do Pará, Suely Aguiar Catete, que foi diagnosticada com Covid-19, e foi mal atendida no Hospital de Base de São José do Rio Preto, cidade do interior de São Paulo. Suely faz tratamento para outros problemas de saúde e denuncia que o Hospital de Base negligenciou esses detalhes, tratando-a com descaso. O relato a seguir, seguindo informa a própria promotora, já é do conhecimento da direção daquele hospital. Leia, abaixo:
“Sou SUELY REGINA FERREIRA AGUIAR CATETE, brasileira, casada, idosa (61ª – 05/03/1959), trabalhadora, com todos os meus impostos em dia, aliás não poderia ser diferente, sou concursada do Ministério Público do Estado do Pará, desde 1991, exercendo, parece brincadeira, mas a função de promotor de justiça de Saúde Pública, em Belém-Pa (1988) e jamais vi ou passei por coisa semelhante.
Sou portadora de duas doenças raras nos olhos DISTROFIA de FUCHS e SÍNDROME DE COGAN. Infelizmente em minha cidade não há especialistas, para nenhuma delas. Para completar na terça-feira após o Dia das Mães acordei com dor muito intensa no olho do lado direito e pela parte da tarde, sequer abria o olho. Fui atendida na Urgência Oftalmológica com minha médica, Dra. Angela Queiroz, da equipe de transplantes do CACON HOL (Hospital Ophir Loyola). Após raspagem e realização de exames laboratoriais, fui diagnosticada com uma bactéria pseudômonas. Foram dias horríveis, onde o risco de perder o olho foi intenso.
Após dois meses de tratamento e com a ulceração quase fechada consegui me deslocar para SJRP – São José do Rio Preto -, cidade escolhida por meu genro e filha para residirem; e a quem peço desculpas pelo meu relato, mas não posso ficar calada.
Mais um pouquinho de mim, que poucos conhecem, possuo mais de 18 protusões na coluna (da cervical ao cóccix), sofrendo de fibromialgia na região do pescoço, ombro e braço direito. Perguntem a um neurocirurgião, a um anestesiologista e/ou a um especialista em dor, que talvez consigam entender, que teimo em viver e trabalhar; aliás acresça-se a isso os dias frios, como ocorreu no último dia 02/08/2020, em SJRP.
Trabalhei o dia todo, estou em trabalho remoto, inclusive ingressando com ação civil pública para garantir tratamento de Artroplastia Total de Quadril, com prótese de cerâmica, pelo SUS, a pacientes jovens do meu Estado (ATQ).
Contudo as dores no ombro estavam intensas e como sei que a quentura alivia, decidi ir para debaixo de um chuveiro, muito quente, onde permaneci por mais de 30 minutos. Ocorre que na saída do banho, com o vento frio, tonteei, cai e bati a cabeça na maçaneta da porta, ficando alguns minutos desacordada. A cabeça continua a doer e está ferida, mas isso não teve a menor importância para os médicos, pois eu, como cidadã honesta fui dizer que estava com resultado positivo para covid19, desde o dia 29/07. Minha filha havia ido a uma consulta ginecológica em 15/07, em SJRP e na segunda-feira acordou com dificuldades respiratórias.
No dia 23/07, após receber o resultado positivo para a doença e como possuo 03 cachorros, dentro de casa, decidi fazer uma faxina na mesma. Na sexta acordei com uma pequena irritação no nariz e garganta, a que atribui a sinusite. Não senti absolutamente mais nada, mas como mãe e avó decidi, ir na segunda (27/07), até a unimed e realizar a testagem, que infelizmente, foi positiva aqui ressalto a presteza dos profissionais da unimed e da SMS de SJRP, que me ligaram, orientaram e se colocaram a minha disposição.
Retornando ao fatídico dia 02/08, 17h00. Como cai e minha saturação oscilava em 90%, minhas filhas decidiram me levar ao HB. Apesar de relatar a intensa dor no lugar do baque, minhas queixas parecem que sequer foram registradas, pela médica, sendo completamente ignorada e internada por covid19. Isto sem contar que para realizarem um exame e darem uma medicação me furaram 05 vezes, estourando 04 veias. A última furada foi na minha veia de doação, que também conseguiram estourar pela manhã.
Aquela mulher forte, trabalhadora foi simplesmente do dia 03/08, as 02h00, colocada em um leito gélido, sem direito a reclamações. Fiz um RX, ainda na triagem e uma TC de pulmão as 02h00, a cabeça não importava, Fui recebida pela enfermeira Júlia, que juntamente com um técnico estudante de enfermagem, auscultaram meus pulmões e peito e me disseram estar tudo limpo.
Pela manhã como disse, por volta das 09h30, tentaram aplicar uma dexametasona, mas estouraram como já disse, minha veia de doação. Fiquei até às 12h com o frasco pendurado no braço, horário em que uma técnica tentou me ajudar, estourando mais uma veia e me deixando com o skalp enfiado, tendo minha mão sangrado bastante. Somente às 15h30 após mais 05 furadas e 03 novas veias estouradas consegui tomar a medicação da manhã.
Aqui destaco que minhas veias são muito finas e sensíveis e não adiantaram meus reclamos, informando que deveriam utilizar skalps finos, até chegaram a avaliar e verificar que deveria ser usado o de nº 24, mas o protocolo do hospital para pacientes covid19 é o uso de skalps 18 ou 20. DANEM-SE OS IDOSOS!
Resumindo minha trajetória de pouco mais de; e ao mesmo tempo, eternas 36 hs, naquele inferno: somente consegui realizar a TC de Crânio as 17h20 do dia 03/08, isto porque minha filha conseguiu falar com a médica pelo telefone, pois repito não fui ouvida. Em nenhum momento da segunda-feira recebi visita médica, a exceção da Dra. Mariana no início da tarde, para me convidar para um estudo de pesquisa do hospital, com pacientes covid, idosos e hipertensos. Sai com tosse, febre, pneumonia e 08 (OITO) veias estouradas.
Ao lado do leito 388-B, em que me encontrava estava a Sra. Maria, uma senhorinha bem pequena, cheia de manchas roxas pelos braços, pernas e tórax, decorrentes de quedas, por tentarem fazê-la caminhar até o banheiro. Em uso de fraldas geriátricas, trocadas uma única vez ao dia. Com uma das hastes de apoio da cama desconectada/quebrada. Não sei porque, mas a cama da Sra. Maria estava na posição de sentada e ela já havia dormido, pelo menos no domingo naquela posição. Ao final da tarde, ela chamou uma técnica e ou enfermeira, negra e alta (sem nenhum racismo) não estão identificados e solicitou que crescesse a cama, para minha surpresa e que ainda irritou-me mais ainda, que disse-lhe que cama não crescia e que ela, a D. Maria se puxasse para cima. Virou de costa e foi embora.
Esperei mais de 02 horas, para acabarem com o tratamento altamente diferenciado, dado a vozinha de uma das enfermeiras, que chegara no meio da manhã e reclamei, solicitando que auxiliasse aquela senhorinha, não fui bem olhada, mas ganhou assim a D. Maria o direito de ter tido sua fralda trocada e a cama endireitada.
Em leito a frente, próximo a parede/janela, está uma senhora de 91 anos, que ingressou no hospital para operar a perna, após uma queda no banheiro e, contraiu covid19 dentro do hospital. Esta senhora urra todas as vezes que vão furá-la, e são várias, pelos mesmos motivos que eu – Skalps desproporcionais as veias, também está com várias estouradas. Cheia de manchas roxas, coitada!
Em compensação a vozinha da enfermeira, que também tem direito a atendimento, no máximo de 02x02h tinha alguém para movimentá-la na cama. Fraldas trocadas pelo menos 03 vezes. Todo carinho e atenção.
Quando eles decidem que o paciente será internado, fazem trocar toda a roupa na triagem, somente permitindo ingresso de celular, carregador, pasta de dente e escova. Depois começam os problemas. A sra. não vai tomar banho? Com o que vai se enxugar? O que vai vestir? Ah São mais de 50/70 leitos e dois únicos banheiros, um masculino e outro feminino, que vivem alagados, no feminino, a ducha está sem a mangueirinha, que por via de consequência joga a água para a parede. Como banhar-se? Tomei um banho e fui mais ou menos enxuta com um capote de enfermagem. As 04 horas da manhã começa a feira, luzes são acessas para todos os lados e surgem os técnicos, para verificarem sinais, darem remédios, pois cedo trocarão plantão. Mas o café da manhã este só chegará entre 09h30 e 10h00, constando de um leite frio e doce e um pão de chá, que na etiqueta diz que contém margarina, nem partido é. O aparelho do oxigênio do leito que me encontrava, estava com problemas e passou a noite/madrugada inteira apitando na minha cabeça, consegui que umas 03x, que a técnica fosse até lá, e ainda me dissesse que o problema era só com o meu. Pela manhã, do dia de ontem, 04/08, após eu ter estourado toda minha paciência e bom humor, a Sra. Ana, enfermeira, compareceu junto a meu leito e na maior cara dura disse desconhecer o problema do oxigênio, inclusive, ainda ouvi piadinhas de que minhas companheiras de sofrimento haviam dormido, pois haviam tomado seus remedinhos.
Faço uso de remédio termolabel para glaucoma (latanaprosta-xalatan) usei por volta das 22h00, do dia 03 e este só retornou a geladeira depois das 08h30 da manhã, de ontem e quase não o encontraram na hora da minha saída, aliás sequer me orientaram por onde sair.
Outros detalhes interessantes: (i) quando disse que não ficaria mais naquele lugar, que ninguém iria mais tocar em minhas mãos e braços para furar, recebi visita de 03 médicos; (ii) Virei a sogra de um médico, a mãe de minha filha, (iii) recebi resultado (falado) das TCs pulmão que na segunda não tinha nada e ontem havia pneumonia e da cabeça que afirmo continuar a me incomodar, no local do baque; (iiii) eles congelam o ambiente, as ventainhas direcionadas sobre os leitos (tadinha de mim) e a depender da boa vontade colocam 02, 03 e até 04 mantas sobre as idosas; como não suporto peso sobre meu corpo lucrei dizendo eles uma pneumonia; (iiiii) pedi papel e caneta pois iria relatar tudo isso ao hospital e me foi negado; (iiiiii) somente através da presente missiva estou me identificando como promotora, pois acima de tudo sou uma cidadã, em plena capacidade mental e laboral.
Algo precisa ser feito! Os direitos aos idosos precisam ser respeitados! Os idosos têm direito a voz e o dever de serem ouvidos!“
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