A história envolve o autor de “Menino do Engenho”, “Doidinho”, “Banguê”, “O Moleque Ricardo”, “Riacho Doce”, e “Fogo Morto”.
E foi contada pelo poeta amazonense Thiago de Mello.
José Lins, paraibano, estava no Rio de Janeiro, em tratamento, num hospital.
No seu leito, ele soube que uma menina pobre, daquela cidade, a pedido de sua mãe, tinha penetrado num prédio para tentar roubar a garrafa de leite que o porteiro costumava deixar na porta de um apartamento, num dos andares elevados.
A criança, porém, foi surpreendida pela moradora do imóvel, uma senhora.
Ela, irritada, obrigou a menina a entrar no apartamento.
E a reteve ali.
Em seguida, telefonou para a Polícia.
A criança ficou desesperada.
Sem saber como fugir, se jogou pela janela da sala.
José Lins ficou chocado com esta tragédia.
Quando Thiago de Mello chegou para visitá-lo, ele revelou que havia conseguido identificar o número do telefone daquela senhora.
E disse que queria contar com o poeta para fazer algo que tinha planejado.
De acordo com seu plano, Mello deveria decorar algumas frases que ele havia escrito.
E repeti-las àquela senhora numa ligação telefônica que ele ia fazer.
E fez.
Lins ouviu o telefone tocar, e, antes que alguém o atendesse, ele entregou o aparelho a Mello.
As primeiras frases que ele havia escrito eram mais ou menos assim:
– Estou telefonando para parabenizar a senhora pela atitude que tomou. E quero dizer que estou pronto para dar à senhora todo o apoio de que vier a precisar. Sinta-se à vontade, comigo.
Mello as repetiu, quando percebeu que era a senhora quem estava do outro lado da ligação.
Havia ainda uma última frase que Mello deveria dizer com raiva, de modo bem incisivo, quando a senhora quisesse perguntasse quem ele era.
Assim aconteceu.
Quando, por fim, a senhora quis saber:
– Mas, quem é o senhor?
Mello, antes de desligar o telefone abruptamente, respondeu:
– É o Satanás, sua desgraçada!
Aquele desfecho o próprio Lins havia programado.
Mas ao ouvi-lo, ele riu tanto, a ponto de rolar de um lado para outro, em sua cama de hospital, contou Mello.
- Oswaldo Coimbra é escritor e jornalista