A tragédia que chocou Guarujá segue sendo investigada pela polícia, que continua a reunir provas e colher depoimentos para esclarecer os detalhes do caso. A apreensão de quatro celulares, um notebook e outros dispositivos eletrônicos na residência de Thiago Felipe de Souza Avanci pode trazer novos elementos sobre o histórico de abusos e o estado mental do advogado nos dias que antecederam o crime.
Os investigadores também buscam entender se havia algum sinal de que Thiago planejava os assassinatos e o suicídio, ou se a situação foi desencadeada de forma abrupta após a descoberta dos abusos.
A Polícia Civil está cruzando informações sobre os arquivos do pen-drive, onde foram encontrados os vídeos que incriminavam Thiago, com os dados dos dispositivos apreendidos, para verificar se existem outros materiais que possam revelar mais vítimas ou a extensão dos crimes cometidos. A principal linha de investigação ainda é o abuso prolongado do sobrinho autista, que durava pelo menos um ano.
A TV Tribuna, afiliada da Globo, apurou que Thiago Avanci foi encontrado morto com a mãe, Sueli Nastri De Souza Avanci, de 72 anos, e o cachorro. Todos estavam no quarto da idosa, sendo que ela tinha uma marca de tiro na cabeça, assim como o filho. O animal não tinha lesões aparentes.
O autor do crime morava em uma edícula no terreno de Sueli, que vivia na casa à frente com o neto vítima dos estupros, no Balneário Praia de Pernambuco, em Guarujá. A morte da mãe, do cachorro e do próprio Thiago aconteceram no mesmo dia em que um mandado de busca e apreensão foi realizado na casa dele, em decorrência de um boletim de ocorrência (BO) registrado pelo irmão e a cunhada.
A equipe de reportagem apurou que há aproximadamente 15 dias o adolescente, vítima dos estupros, relatou à psicóloga que sentia dores na região do ânus, o que chamou a atenção da profissional e dos pais do adolescente. Passados alguns dias, Thiago entregou ao irmão e pai do menino um envelope com alguns documentos passando o carro para o nome do parente.
Junto, foi enviado um pen-drive, que foi pedido de volta, mas não sem antes a cunhada ter acessar o conteúdo. Felipe Avanci matou a mãe Sueli Avanci depois que a família descobriu que ele estuprava o sobrinho autista em Guarujá, Entre os arquivos foram encontrados vídeos do autor do crime estuprando o sobrinho, o que, com base nas datas dos registros, já acontecia há pelo menos um ano.
O caso também levantou preocupações na comunidade local, que ficou abalada com a violência dos crimes. Vizinhos relataram choque com a tragédia e afirmaram que a família de Thiago era bastante reservada. Embora ele tivesse uma posição de destaque como professor de Direito e ex-secretário do município, os detalhes de sua vida pessoal eram desconhecidos pela maioria das pessoas da região.
Em meio à investigação, a Prefeitura de Guarujá ainda não se manifestou oficialmente sobre o ex-secretário, que foi exonerado no mesmo dia em que os crimes ocorreram. O silêncio das autoridades tem gerado questionamentos sobre o tempo de resposta e a atuação preventiva em casos de abuso, sobretudo quando envolvem figuras públicas ou pessoas em posição de poder.
Violência e saúde mental em destaque
Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que o caso de Thiago Avanci traz à tona discussões urgentes sobre saúde mental, violência familiar e o abuso sexual de pessoas vulneráveis. O fato de o autor dos crimes ser um professor de Direito e ex-secretário municipal levanta questões sobre como esses abusos podem ser ocultados até mesmo em ambientes de prestígio e como sinais de alerta podem passar despercebidos por amigos e familiares.
Casos como este reforçam a importância de fortalecer mecanismos de apoio psicológico e social, tanto para as vítimas quanto para as famílias, e de aprimorar a vigilância em relação a comportamentos suspeitos ou mudanças drásticas de atitude. A sociedade, junto com as autoridades, precisa estar mais atenta para evitar que tragédias como essa voltem a ocorrer.
Conclusão do inquérito
Com o avanço das investigações, a polícia busca concluir o inquérito nos próximos dias. O Ministério Público também deve se envolver no caso para avaliar se há outras providências a serem tomadas, inclusive em relação à proteção do sobrinho, que agora ficará sob a tutela dos pais. A justiça e as autoridades de proteção à criança e ao adolescente terão um papel fundamental para garantir que a vítima receba o apoio necessário após os traumas.
A tragédia em Guarujá evidencia o quão devastador pode ser o impacto do abuso e do silêncio em torno de crimes familiares, deixando lições dolorosas sobre a urgência de enfrentar esses problemas com firmeza e transparência.