O mundo dos esportes está repleto de histórias incríveis. Na maioria das vezes, são casos de superação dentro das quadras e campos. Mas a história de John Urschel é um pouco diferente. Ele realizou o sonho de milhares de meninos de conseguir jogar na NFL, principal liga de futebol americano do planeta, mas decidiu por seguir uma carreira acadêmica em uma das maiores instituições do mundo.
Nos Estados Unidos, o mais comum é ver jogadores que ingressam nas universidades em busca de uma oportunidade, seja na NFL, na NBA ou em outras organizações esportivas. Mas Urschel fez o caminho inverso. Trocou a bola oval pelas lousas.
O atacante anunciou sua aposentadoria em 2017, aos 26 anos. Ele defendeu o Baltimore Ravens por apenas três temporadas. Sua decisão pegou todo mundo de surpresa. Afinal, por ser um esporte violento, o futebol americano muitas vezes traz consequências como lesões sérias e problemas cognitivos, que abreviam carreiras. Mas não foi o caso de Urschel. O coração bateu mais forte pela vida acadêmica e ele optou, ainda cedo, por encerrar sua carreira de esportista.
Ele optou por uma aposentadoria precoce para seguir seu sonho de conquistar um doutorado em matemática aplicada. Urschel, que é negro, tinha como sonho também encorajar crianças negras a seguirem caminhos similares nas ciências exatas, bem como áreas de tecnologia, engenharia e a própria matemática. “É muito difícil sonhar em começar uma carreira se você não pode se inspirar em ninguém que atualmente está neste campo”, disse Urschel à ESPN americana.
Hoje, o ex-jogador conquistou seu doutorado e se tornou professor no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), uma das principais e mais influentes instituições de ensino desta área. Contrariando aqueles que disseram que seu adeus aos campos tinha sido por medo de se contundir, John responde com o simples fato de educar e incentivar jovens que pensam que não podem seguir a carreira acadêmica e esportiva ao mesmo tempo. Não existe um ou outro. É possível tomar as duas direções.
Sua história é tão chamativa que Urschel tem uma série de vídeos no renomado site The PLayers Tribune, onde ele traz luz para a importância da vida aos estudos numa plataforma voltada em contar histórias pessoais de atletas. Os depoimentos do site geralmente são bem impactantes e diversas celebridades do mundo esportivo já escreveram por lá. John Urschel está neste panteão. Além das aulas, na plataforma estão disponíveis também algumas publicações que o professor fazia quando ainda era atleta. Sua história já despertava interesse desde quando a bola oval era sua principal ferramenta de trabalho.
CAUSA NOBRE
Em parceria com a coordenação do Museu Nacional dos Matemáticos, em Manhattan, nos Estados Unidos, Urschel foi anfitrião de um painel online chamado “Dobrando o Arco” (em tradução livre), que contou com cinco afrodescendentes americanos para falar sobre suas experiências e amor pela matemática enquanto são inspirações para uma geração mais jovem.
“Agora, mais do que nunca, é muito importante que a gente evidencie algumas das diversas áreas da matemática que não são comuns de ver no dia a dia”, disse o ex-atleta. Sua história de vida vai de encontro ao seu propósito. Visto como uma exceção numa sociedade que não dá oportunidade a todos, a aquisição de conhecimento de Urschel não enfrentou muitos obstáculos como outros matemáticos afrodescendentes, pois ele recebeu ajuda e apoio de muitos dos seus colegas de times.
Urschel conta que recebeu muitos depoimentos de pessoas sobre como a minoria dos estudantes conseguiu achar grupos de estudos para resolução de problemas. É estimado que existam apenas uma dúzia de matemáticos negros entre quase 2.000 professores efetivos nos 50 principais departamentos de matemática dos Estados Unidos, de acordo com um artigo do New York Times de 2019. Menos de 1% dos doutorados em matemática são concedidos a afro-americanos.
Urschel recebeu um e-mail de um estudante que ouviu uma de suas palestras por volta de 2016. O aluno fez questão que o ex-jogador soubesse que ele está estudando na Penn State e se formando em engenharia.
“Essas são as coisas que você espera, e acho que essas coisas fazem a diferença”, disse Urschel. “Eu sei que não estaria onde estou hoje como matemático se não fosse por muitas pessoas específicas, muitos matemáticos diferentes decidindo que eu valia a pena.”
(AE)