Por Marcos Antomil
O fantasma do rebaixamento persegue Ronaldo Fenômeno. Seja na Espanha ou no Brasil, os clubes geridos pelo ex-atacante vivem de tropeços e solavancos, pressão dos torcedores e críticas ao comando do futebol. O Cruzeiro está cada vez mais ameaçado no Campeonato Brasileiro, enquanto o Real Valladolid tem pela frente uma intensa disputa para deixar a Segunda Divisão e regressar à elite do Espanhol.
Ronaldo saiu de uma semana de comemorações pelo casamento com a modelo Celina Locks, em Ibiza, para mergulhar em uma maré de contestações no Cruzeiro e no Valladolid. A equipe celeste, que enfrenta neste sábado, às 21h, o Cuiabá, na Arena Pantanal, está se aproximando perigosamente da zona de rebaixamento do Brasileirão. O time de Belo Horizonte soma 30 pontos, apenas três a mais que o Vasco, equipe que abre a degola.
Apesar de ser o único time da segunda parte da tabela com saldo de gols positivo (+2), o Cruzeiro detém o segundo pior ataque do Brasileirão. Os cruzeirenses só puderam comemorar 24 gols em 25 jogos. Em contrapartida, o time sofreu 22 gols e só perde para Botafogo (16) e Atlético-MG (21) neste quesito. Nitidamente, o setor ofensivo tem sido o problema celeste em 2023, justamente o setor em que Ronaldo, enquanto jogador, foi Fenômeno.
O atacante Gilberto, de 34 anos, é o principal alvo de reclamações da torcida do Cruzeiro. Em 32 jogos nesta temporada, ele marcou apenas seis gols. Outrora elogiado pelo técnico Zé Ricardo por seu “faro de gol”, Gilberto não foi relacionado para o jogo desta noite. A última vez em que o centroavante balançou as redes foi na goleada sobre o rival América em 14 de maio. Assim, o comandante pode apostar na juventude de Ruan Índio, de 17 anos, e João Pedro, de 20.
CRÍTICAS NA ESPANHA
Na Espanha, Ronaldo não é prestigiado. Desde que chegou ao Valladolid, o Fenômeno tem ouvido cada vez mais ofensas e pedidos para que deixe de ser sócio majoritário da equipe de Castilla y León. Na vitória da equipe por 3 a 2 sobre o Mirandés, no dia 8, torcedores do Pucela – outra forma de chamar o Valladolid – entoaram um cântico com a frase “los brasileños se tienen que marchar” (“os brasileiros têm de ir embora”, em português).
Logo após o triunfo do Valladolid, o quinto consecutivo na Segunda Divisão, Ronaldo usou as redes sociais para expressar seu descontentamento com a frase. “Sinto um profundo repúdio aos gritos que uma pequena minoria tem proferido contra uma nacionalidade específica e que não têm lugar no nosso futebol. Não só pelos danos que causam à sociedade, mas porque afetam fortemente os jogadores e colaboradores do nosso clube. O Real Valladolid colaborará ativamente com LaLiga e as autoridades para identificar os responsáveis, para que deixem de manchar a imagem dos nossos torcedores”, publicou o Fenômeno.
O post, no entanto, foi inundado de novos comentários contra a presença de Ronaldo no clube. Alguns torcedores apontaram que os gritos são direcionados exclusivamente ao ex-atacante e seus colegas dirigentes brasileiros e não a atletas do País. Cinco brasileiros compõem o elenco do Valladolid: goleiro John, zagueiro Gustavo Henrique, o lateral-direito Lucas Rosa, o meia Robert Kenedy e o atacante Marcos André.
Quem também saiu em defesa dos brasileiros foi o técnico uruguaio Paulo Pezzolano, ex-Cruzeiro e atualmente no Valladolid “Não gostei, eu me senti envergonhado. Cada torcedor, jogador, trabalhador e o dono está dando o máximo pelo Real Valladolid. Fico triste que cantem ‘fora, brasileiros’, porque somos todos parte disso e causa um dano interno muito grande. Esse canto não é nada produtivo. Desde que chegamos geramos uma união interna e todos suam a camisa do primeiro ao último minuto”, afirmou.
PERSPECTIVAS DIFERENTES
O Real Valladolid também entra em campo neste sábado. Às 16h (de Brasília), a equipe visita, em Barcelona o Espanyol, concorrente direto por uma vaga na elite espanhola. O clube de Ronaldo aparece na sexta posição, com 19 pontos, dois a menos que o líder Tenerife. Após 10 rodadas, a disputa é bastante intensa, sem um time se desgarrar do pelotão. Outros concorrentes são: Leganés, Levante, Real Zaragoza, Eibar e Sporting Gijón. Ao término das 42 rodadas, os dois primeiros garantem o acesso direto, enquanto os times que ficarem do terceiro ao sexto lugar disputam um playoff em busca da última vaga.
Time médio da Espanha, o Valladolid não é um contínuo frequentador da elite espanhola e vive de acessos e rebaixamentos. Desde 2018, quando Ronaldo assumiu a equipe, foram quatro temporadas na Primeira Divisão e duas na Segunda. Entre todas as suas participações na elite, a melhor colocação que já terminou foi um quarto lugar na temporada 1962-63. Num recorte menor, dos últimos 20 anos, o time teve como melhor resultado um 13º lugar na temporada 2019-20.
Conforme apurou o Estadão, está nos planos de Ronaldo a venda dos 72% das ações do Valladolid que detém. Ele adquiriu originalmente 51% das ações em 2018 por 30 milhões de euros. No clube espanhol, o retorno à elite em 2024 pode ser o ponto final de sua trajetória.
Tanto os torcedores alvivioletas quanto os celestes contestam a pouca assiduidade de Ronaldo aos jogos, uma vez que o ex-atacante se divide entre outras obrigações comerciais e diversas viagens. Na equipe de Belo Horizonte, porém, o pavio não é tão curto. O Fenômeno assumiu o Cruzeiro visando a temporada de 2022 pela bagatela de R$ 400 milhões por 90% das ações da SAF. Logo na primeira temporada, conseguiu ganhar a Série B e devolver o time à Série A depois de três temporadas.
A dimensão dos clubes, no entanto, é antagônica histórica e financeiramente. Se na Espanha, os cofres estão em dia, em Minas, foram os problemas graves de caixa que fizeram de Ronaldo seu dono. A história, porém, fez do Cruzeiro um dos maiores clubes do Brasil. Dono de duas Libertadores, quatro Brasileiros e seis Copas do Brasil, não há brecha para tornar rebaixamentos e longas permanências na Série B comuns. E o Fenômeno conhece o peso da camisa celeste. Foi com ela que revelou seu potencial ao mundo do futebol, enquanto o Valladolid foi apenas um adversário nos seus tempos de Real Madrid e Barcelona.
(AE)