Marcelo Gallardo é um dos treinadores mais bem-sucedidos da América do Sul no século. Desde que saiu do River Plate em 2022, com duas taças da Copa Libertadores na bagagem, se especula sobre qual será seu futuro. Se seguir a linha de outros argentinos de destaque, como Diego Simeone, Marcelo Bielsa e Tata Martino, o destino mais provável é a Europa, lugar que admira pela longevidade dada aos comandantes, mas ele enfatiza que não aceitará “qualquer clube”.
Em entrevista ao site The Athletic, o técnico e ex-jogador revelou que considera alguns “requisitos” antes de assinar um contrato. Para ele, é necessária uma estreita conexão com o time e sua administração, que o elenco tenha qualidade e motivação para trabalhar os métodos que acredita funcionar e, principalmente, identificação. Gallardo não disse se já recebeu alguma proposta, mas, por suas declarações, é improvável que comece de baixo no Velho Continente.
“Estou visualizando qual pode ser o próximo passo em minha carreira”, comentou o argentino. “Você tem que encontrar o lugar onde possa transmitir suas ideias. Não sou o tipo de pessoa que simplesmente se junta a qualquer clube porque quer treinar na Europa”. Segundo afirmou, “não haveria qualquer problema” em não dar esse passo rumo ao futebol mais poderoso do mundo caso não alcance esse cenário ideal.
Gallardo também preza pelo trabalho de longo prazo. Não à toa, ficou oito anos no River Plate, entre 2014 e 2022. Logo no primeiro ano, já conquistou a Copa Sul-Americana, para ganhar a Libertadores no ano seguinte, mas não quer dizer que foi fácil. Ele assumiu um clube ainda em reconstrução que, duas temporadas antes, estava na segunda divisão da liga nacional. O sucesso se deve a tudo ter se alinhado como ele sonhava: jogadores na mesma página e confiança da diretoria e torcedores, algo que é raro na Argentina e América do Sul.
“A paixão pelo futebol (no continente) dura muito pouco, a torcida quer vencer (no próximo jogo)”, disse, acrescentando que essa é a “única coisa” com qual os adeptos se importam. “Essa forma de pensar é repassada”. E para ter essa sobrevida, é preciso um elenco forte, que raramente se mantém junto por muito tempo. “Nosso clubes produzem talento para o mundo, entendemos que não teremos nossos melhores jogadores por muito tempo. Você precisa encontrar substitutos constantemente”, ressaltou.
“Eles (Europa) podem manter o núcleo de uma equipe por quatro, cinco anos”, comparou Gallardo. Casos do tipo não faltam, inclusive de argentinos: Simeone, seu compatriota, é atualmente o técnico mais longevo no cargo, com impressionantes 12 temporadas à frente do Atlético de Madrid. Mesmo dois vice-campeonatos da Liga dos Campeões para o Real Madrid, seu maior rival, não foram suficientes para ele cair. Sua base de atletas também não sofre várias mudanças a cada janela.
No River Plate, ele prezou por trabalhar a estrutura do clube e reforçar sua organização, visto que é um celeiro de talentos. “Não quero dizer que essas coisas já não existiam, mas tínhamos de melhorar, dar um empurrão”, relembrou. E deu certo, pois além dos títulos, foram revelados nomes como Enzo Fernández e Julián Álvarez, hoje no Chelsea e Manchester City, respectivamente, que foram fundamentais na conquista da Copa do Mundo de 2022 pela seleção argentina.
(AE)