Por Rodrigo Fonseca
O cinema francês está travando uma luta árdua contra a mais grave sequela da pandemia na cultura – o esvaziamento das salas de exibição -, apoiando-se vorazmente em estrelas e astros cujo histórico, nas últimas décadas, foi de lotação esgotada e elogios da crítica, como é o caso de Sandrine Kiberlain.
A atriz, 55 anos, participou de três dos mais bem-sucedidos títulos comerciais de seu país em 2022, mas, no meio de uma maratona de trabalho, ela conseguiu emplacar seu primeiro longa como realizadora: A Garota Radiante. Em cartaz no Brasil, o filme é uma ode à arte de atuar – e de se reinventar – em tempos de violência extrema: no caso, a Segunda Guerra.
“François Truffaut acreditava que existe ‘uma imagem doce’, um signo plástico que desse conta sensorialmente das inquietudes de um tempo. Por isso, eu resolvi olhar para o passado com uma narrativa de cores primárias em sua força total. Tudo é vermelho, azul, amarelo, com um toquezinho de paletas terrosas aqui e ali. É um filme sobre a afirmação da vida numa era de medo”, disse Sandrine. “Nós ouvimos muito sobre as atrocidades da guerra, sobretudo com os judeus, como é o caso da protagonista Irene. Mas queria que o público conhecesse a coragem dela de forma menos crua.”
JUVENTUDE
O filme é carregado de exótica contemporaneidade ao retratar a juventude da França ocupada, em 1942, sem realçar o tônus da época.
“Se você não conhecer nada da sinopse e entrar numa sala para ver o meu filme, vai demorar uns 20 minutos para entender que está em 1942 e, mesmo assim, tudo é dito com sutileza. Um diretor que admiro muito, Maurice Pialat, costumava dizer que o maior pecado do cinema era o anacronismo. Todo excesso de informação é limitador. Eu queria evitar isso. Queria deixar parecer pelos figurinos e até pelas bicicletas que seria a França de hoje. A razão para isso vai além de uma escolha estética, pois há um vetor histórico forte: o recrudescimento das extremas direitas no mundo”, diz.
Na trama A Garota Radiante, Irene é uma aspirante a atriz que tenta a sorte no Conservatório de Teatro, no fim da adolescência, em meio ao turbilhão de descobertas afetivas e sexuais. Mas tudo isso se passa sob o jugo nazista, que impacta a vida de famílias judias como a sua, colocando seus sonhos artísticos em perigo e ameaçando suas amizades.
“O fato de ter uma protagonista jovem dá contemporaneidade ao filme, que foi pensado como um diário íntimo do cotidiano de uma garota que está abrindo os olhos para o que este mundo tem de pior. Só não queria que os dissabores e as revelações que ela tem ganhassem um ar trágico caricato. É um filme sobre vivências”, conclui Sandrine.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.