Gente doente, aflita e abandonada. Um crime ambiental e social que não dá para esconder. A norueguesa Norks Hydro bem que tenta, mas não consegue. A poluição de suas indústrias está por toda parte. Não é de hoje, verdade seja dita, mas se agrava cada vez mais. Impunemente.
Os rejeitos, brancos ou vermelhos, estão pelos rios,
igarapés, matas e poços artesianos. As dezenas de comunidades vizinhas
às bacias de rejeitos minerais, que a 30 metros de altura armazenam a lama vermelha e seu coquetel químico da morte, clamam por socorro e justiça.
O que contamina o ar, o solo e as águas também atormenta a alma dos moradores. Ninguém dorme desde sábado passado, contabilizando prejuízos financeiros e de saúde.
Reclamações e denúncias surgem a toda hora. As autoridades, omissas mas hipócritas, só aparecem quando as tragédias – comuns numa Barcarena sitiada pelas multinacionais e sua enorme ganância por lucros financeiros – ganham dimensões de escândalo. Nessas horas, se faltam providências concretas, sobram acusações torpes.
Uma delas é chamar de “sensacionalistas” e “inverídicas” as denúncias das famílias atingidas pela contaminação. Ou dos veículos da mídia independente, como o Ver-o-Fato, que mostram indícios e provas naquilo que publicam.
Chegam a ser ousadas as ameaças de morte, as intimidações e a tentativa de desqualificar, até moralmente, os líderes comunitários e quilombolas que não se dobram ao poder avassalador e criminoso de multinacionais como a Norsk Hydro.
Nas últimas 48 horas, contudo, iniciativas como as da Câmara Federal e da OAB Pará – interessadas em apurar a fundo as ocorrências denunciadas – devem constituir-se como alento para uma população que não acredita mais em nada e em ninguém. Daí a responsabilidade de ambas em produzir um trabalho que satisfaça às expectativas e não gerem mais frustrações.
Relatos da realidade
O repórter fotográfico Raimundo Paccó, um profissional de reconhecida competência e credibilidade, pelo trabalho de alcance nacional que realiza para veículos como a “Folha de São Paulo”, está colaborando com o Ver-o-Fato, cobrindo os fatos em Barcarena.
Ele esteve em várias comunidades do município, documentando com suas lentes aquilo que, muitas vezes, milhares de palavras não conseguem traduzir. Eis o relato de Paccó:
“A Comunidade Vila Nova que fica nos fundos da empresa Hydro tem sofrido
com os efeitos dos resíduos que foram jogados nos igarapés e rios
próximos a comunidade” diz Maria Lúcia Marques, moradora do local
há mais de 20 anos. Ela conta que, cerca de vinte aves, entre frangos e
patos, morreram desde sábado, quando aconteceu o vazamento.
Pior que
suas galinhas morrerem, é as crianças que por brincarem nas águas, estão
cheias de feridas pelo corpo. Dona Maria Lúcia afirma que tudo é
responsabilidade da empresa rica da Noruega, que tem como garotos-
propaganda uma das maiores bandas de rock da história, o A-HA.”
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