O Partido dos Trabalhadores (PT), liderado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que detém o controle da máquina federal e conta com cargos estratégicos, ministérios e nomeações em órgãos públicos por todo o Brasil, sofreu uma derrota contundente nas eleições municipais de 2024. Ao lado de outras legendas de esquerda, o PT foi amplamente superado por partidos de centro e direita, inclusive em regiões tradicionalmente fiéis à sigla, como o Nordeste.
Esse desempenho desastroso sinaliza sobre o futuro do partido, indicando uma decadência visível a olhos nus. Nas cidades que costumavam ser redutos petistas, a resposta das urnas foi um recado claro: a insatisfação popular com as políticas do partido parece ter se ampliado para além das críticas usuais, alcançando até seus redutos mais seguros.
Em 2012, no primeiro mandato de governo de Dilma Rousseff, o partido conseguiu seu melhor resultado no primeiro turno: mais de 620 prefeituras. Já em 2016, sofreu um tombo de quase 60% e ficou com só 245 cidades. Em 2020, caiu mais 30%, chegando a menos de 180 prefeituras.
Neste 2024 foram eleitos 248 prefeitos petistas no primeiro turno, colocando a sigla em nono no ranking de partidos. As vitórias mais importantes da sigla foram em Contagem e Juiz de Fora, ambas em Minas. O PT também vai disputar 13 segundos turnos — o segundo maior número, só atrás do PL. Entre as cidades, Fortaleza, Porto Alegre, Natal e Cuiabá.
O que poderia ter levado a essa fragorosa derrota?
Alguns fatores podem ter contribuído para esse cenário. A crescente desilusão com promessas não cumpridas, somada a escândalos de corrupção que, embora antigos, ainda reverberam na opinião pública, pode ter corroído a base eleitoral. Além disso, o desgaste de figuras históricas do partido, que não souberam se renovar ou adaptar suas propostas a um eleitorado cada vez mais demandante de soluções concretas, contribuiu para o afastamento de uma parcela significativa de eleitores.
Outro ponto de análise é o crescimento das forças de centro e direita, que conseguiram capitalizar o descontentamento popular, oferecendo alternativas mais conectadas com a realidade econômica e social do país. A polarização política, que antes beneficiava o PT ao opor-se diretamente à direita, perdeu força, à medida que partidos de centro começaram a ocupar espaços estratégicos no discurso público.
A fragorosa derrota do PT e de seus aliados reflete não apenas uma rejeição momentânea, mas pode ser o início de um declínio profundo das agremiações de esquerda, que terão de reavaliar suas estratégias e reconectar-se com o eleitorado se quiserem evitar um colapso definitivo nas próximas eleições.
Centrão domina metade das cidades; PL e Republicanos sobem
O PSD, o MDB, o PP e o União Brasil, que compõem o Centrão, dominaram as eleições municipais, conquistando juntos mais da metade das prefeituras do país. O PL e o Republicanos tiveram os maiores crescimentos e ficaram em quinto e sexto. O PT, minguado, cresceu pouco, mas terminou em nono.
Juntos, PSD, MDB, PP e União Brasil elegeram 3.534 prefeitos no primeiro turno. Isso corresponde a 54% das cidades do país. Os dados estão atualizados até 1h desta segunda-feira (7) e ainda podem mudar, mas não o suficiente para alterar os rankings partidários.
Os quatro principais partidos do Centrão cresceram em número de prefeituras. O maior aumento foi do PSD, de 35%. O MDB e o PP subiram 8%. Já o União Brasil disputou sua primeira eleição este ano. Foi criado em 2021 pela junção do DEM com o PSL. Considerando o resultado desses dois partidos nas eleições 2020, a alta do União Brasil em 2024 foi de 4%.
Em alguns estados do país, a presença do Centrão passa de 80% das cidades. Em Alagoas, chega a 90%. Só o MDB venceu em 65 das 102 prefeituras alagoanas.
PSD se torna principal força municipal
O destaque no Centrão é o PSD, que elegeu o maior número de prefeitos no país e desbancou o MDB pela primeira vez em mais de duas décadas. De 2000 a 2020, o MDB (antes PMDB) ocupou a liderança. Este ano, lançou o maior número de candidatos a prefeito. Mas não conseguiu manter o posto e caiu para o segundo lugar.
O partido de Kassab está crescendo de forma contínua desde sua fundação, em 2011. Nas suas primeiras eleições municipais, em 2012, elegeu quase 500 prefeitos. Nas eleições seguintes cresceu 8%, chegando a quase 540 prefeituras. Em 2020, subiu mais 18% e fechou em cerca de 650 prefeituras. Em 2024, subiu ainda mais, 35%, atingindo 878 prefeituras — até 1h desta segunda-feira.
A alta do PSD tem uma particularidade: 70% das prefeituras estão em só quatro estados: SP, PR, MG e BA. O PSD é hoje o principal partido de São Paulo, desbancando o PSDB. Também é o principal partido de Minas, superando o MDB. Já no Paraná e na Bahia, o PSD já tinha se sagrado líder em 2020 e manteve o posto este ano. O MDB e o PP, por outro lado, têm uma presença mais distribuída pelos estados brasileiros.
PL e Republicanos são os que mais cresceram
O PL, partido de Jair Bolsonaro, cresceu 49% em número de prefeitos. Este ano, elegeu 510 prefeitos para o comando das prefeituras. Em 2020, pouco mais de 340. Apesar do crescimento, a sigla passou longe da meta que tinha estabelecido para si própria, de eleger mil prefeitos. Era um plano ambicioso. O partido lançou 1.400 candidatos. Seria preciso que sete de cada dez vencessem.
O resultado colocou o PL como a quinta maior força municipal do país. Seu melhor resultado no primeiro turno foi a reeleição do prefeito de Maceió. O partido também é o que mais vai disputar o segundo turno, em 23 cidades. Entre elas: Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Belém, Goiânia, Cuiabá, Aracaju, João Pessoa e Palmas.
São Paulo e Santa Catarina são os principais redutos do PL. Em São Paulo, o partido conseguiu 102 prefeituras. Em Santa Catarina, 90.
O crescimento do PL nos municípios ocorre após a ida de Bolsonaro para a sigla. O ex-presidente se filiou ao partido em 2021, levando consigo outros candidatos bolsonaristas. Em 2022, concorreu à reeleição pelo partido e foi derrotado.
Mas naquele ano o PL elegeu a maior bancada para a Câmara dos Deputados. Isso rendeu ao partido a maior fatia do Fundo Eleitoral para as eleições deste ano.
Já o Republicanos dobrou de tamanho (alta de 106%) e se tornou o sexto principal partido municipal. Elegeu 430 prefeitos no primeiro turno, contra pouco mais de 200 em 2020. De cada dez eleitos pelo Republicanos este ano, seis estão em quatro estados: São Paulo, Minas Gerais, Tocantins e Paraíba.
Ligado à Igreja Universal, o Republicanos já tinha dobrado de tamanho em 2020. Em 2022, o partido filiou Tarcísio de Freitas, eleito governador de São Paulo nas eleições daquele ano.
PSDB tem seu pior resultado
O PSDB perdeu 48% das cadeiras e elegeu prefeito em apenas 276 cidades. É o pior número do partido. De 2004 a 2016, o PSDB foi a segunda maior sigla do país em número de prefeitos. Seu auge foi em 2016, com quase 790 vagas no primeiro turno — cerca de 240 delas só em São Paulo.
Foi em 2020 que o partido começou a afundar, mas ainda encontrou sobrevida em São Paulo. Metade dos votos tucanos naquele ano foram no estado. O partido conseguiu colocar Bruno Covas no segundo turno da capital e eleger quase 180 prefeitos em outras cidades paulistas.
Já 2024 marcou a derrocada do PSDB também em São Paulo: passou de primeiro para oitavo lugar no estado. Além do resultado pífio na capital (1,84% de José Luiz Datena), elegeu apenas 21 prefeitos nas demais cidades paulistas. Viu a liderança paulista ser assumida pelo PSD, seguida pelo PL. Juntos, os dois partidos tem 50% das prefeituras do estado. Em seguida, está o Republicanos. Depois, MDB, PP, União, Podemos. E só então o PSDB.
PDT é o partido que mais caiu
O PDT teve uma queda ainda maior que a do PSDB, reduzindo sua presença municipal pela metade. Em 2020, elegeu cerca de 310 prefeitos. Em 2024, 148. Foi a maior queda entre os dez maiores partidos.
A derrocada do PDT ocorre após o rompimento entre os irmãos Ciro e Cid Gomes. A briga, ocorrida no ano passado, fez o partido implodir no seu principal reduto, o Ceará. Cid saiu do partido e levou consigo um grupo de prefeitos. Este ano, se filiou ao PSB.
O principal símbolo da derrota do PDT é o resultado da eleição em Fortaleza. O prefeito José Sarto (PDT), apoiado por Ciro, ficou em terceiro lugar. Teve menos de 12% dos votos. Foram para o segundo turno os candidatos do PL e do PT.
Também no interior do Ceará, o PDT minguou: só elegeu 5 prefeitos. Em 2020, foram 65, o que fez do partido o principal do estado. O espaço perdido pelo PDT foi ocupado neste ano pelo PSB — passou de 8 para 65 prefeituras cearenses no primeiro turno. (Do Ver-o-Fato, com balanço eleitoral do UOL)
O DESEMPENHO DOS PARTIDOS E SUAS PREFEITURAS
Aqui está a lista de partidos e o número de prefeitos eleitos em 2024, ordenados de acordo com o número de votos:
- PSD: 877
- MDB: 846
- PP: 743
- UNIÃO: 578
- PL: 509
- REPUB.: 430
- PSB: 307
- PSDB: 269
- PT: 248
- PDT: 148
- AVANTE: 135
- PODE: 122
- PRD: 76
- SOLID.: 62
- CIDADANIA: 33
- MOBILIZA: 20
- PCdoB: 19
- NOVO: 18
- PV: 14
- REDE: 4
- AGIR: 3
- DC: 2
- PMB: 2
- PRTB: 1
- PSOL: 0
- PCB: 0
- PCO: 0
- PSTU: 0
- UP: 0