O prefeito de Antônio João (MS), Agnaldo Marcelo da Silva Oliveira (PSDB), determinou a suspensão do evento “Cabelo Maluco” nas escolas e creches da rede municipal. A atividade, bastante popular em instituições de ensino de todo o país, costuma marcar as comemorações do Dia das Crianças, quando os alunos comparecem às aulas com penteados criativos, coloridos e divertidos.
A decisão da prefeitura, anunciada por meio das redes sociais, baseou-se no argumento de que a ação “não tem valor pedagógico” e poderia gerar custos extras às famílias, além de situações que expusessem as crianças. Segundo Oliveira, a administração municipal pretende concentrar esforços em iniciativas que reforcem “valores familiares, disciplina e o desenvolvimento integral dos alunos”.
O prefeito foi além: associou o “Cabelo Maluco” a uma suposta forma de “erotização infantil disfarçada”, afirmando que práticas aparentemente inocentes podem “abrir brechas” para comportamentos que considera inadequados. “É mais uma forma sutil de levar nossas crianças, dali a pouco, à erotização”, declarou.
Enquanto estiver à frente da gestão, garantiu, o evento não voltará a ser realizado. Em substituição, a prefeitura promove outras ações recreativas, como atividades esportivas — futebol, vôlei, futsal e judô — e eventos especiais no Dia das Crianças, incluindo brinquedos infláveis e passeios ciclísticos.
A medida dividiu opiniões no município de cerca de 9 mil habitantes. Parte dos pais e moradores apoiou o prefeito, argumentando que a escola deve priorizar atividades com conteúdo educativo. Outros, porém, classificaram a decisão como exagerada e moralista, defendendo que o “Cabelo Maluco” é apenas uma expressão lúdica e inofensiva de criatividade infantil.
Em um país onde o debate sobre o papel da escola na formação moral das crianças tem ganhado força, a decisão reacende discussões sobre limites entre educação, cultura e liberdade de expressão. O “Cabelo Maluco”, antes visto como uma simples brincadeira, tornou-se agora símbolo de uma disputa de valores e percepções sociais.
Restrição ou educação?
A postura do prefeito expõe um dilema recorrente na educação pública brasileira: até que ponto o Estado deve interferir nas manifestações culturais e simbólicas do cotidiano escolar? O argumento da “erotização infantil” soa desproporcional para muitos educadores e psicólogos, que defendem que o “Cabelo Maluco” estimula a imaginação, a autonomia e o senso de pertencimento das crianças — valores essenciais à formação pedagógica e emocional.
Por outro lado, a preocupação do gestor em evitar excessos e proteger famílias em vulnerabilidade financeira tem fundamento administrativo, ainda que a solução — o cancelamento — pareça mais restritiva do que educativa.
A polêmica revela, em última instância, uma tensão entre gestão pública, conservadorismo e infância, um terreno onde o bom senso deveria prevalecer sobre a moralização.
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