A personal trainer e fisiculturista Kely Moraes, de 45 anos, foi alvo de agressões verbais e constrangimento na manhã da última segunda-feira (26), dentro de uma academia da rede Selfit, localizada no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. A profissional, mulher cisgênero, foi confundida com uma mulher trans ao sair do banheiro feminino e acabou impedida de entrar no local por uma aluna e, em seguida, por um homem que também confrontou a vítima.
Segundo Kely, o episódio aconteceu logo após ela ter ido ao banheiro se limpar, após uma queda de moto no caminho para o trabalho. Na saída, foi abordada por uma frequentadora da academia que afirmou que o banheiro “não era lugar” para ela, insinuando que se tratava de um homem trans. A discussão foi filmada pela própria vítima e compartilhada nas redes sociais.
“Ela disse que o banheiro de homem era embaixo, que eu era trans e, por isso, não podia usar aquele espaço. Um homem se juntou à discussão e tentou me barrar fisicamente”, relatou. No vídeo, é possível ouvir o homem dizer que havia um banheiro “inclusivo” no andar inferior, sugerindo que Kely deveria utilizá-lo.
Kely, que tem 1,75 m de altura e um porte físico robusto devido à prática de fisiculturismo há mais de 15 anos, contou que essa não foi a primeira vez em que teve sua identidade de gênero questionada. “Nosso corpo é diferenciado, e isso já me causou olhares e até convites para me retirar de lugares. Mas nada tão violento como agora”, desabafou.
Mãe e avó, moradora do bairro Roda de Fogo, na periferia do Recife, ela também é criadora de conteúdo digital, onde compartilha sua rotina de treinos e temas como autoestima e saúde mental. Após o episódio, disse que ficou abalada emocionalmente. “Não consegui sair de casa no dia seguinte. É uma dor que fica, mas não vão me calar. Eu sei quem eu sou”, afirmou.
A personal registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Boa Viagem, acompanhada de uma aluna que testemunhou o ocorrido. A Polícia Civil de Pernambuco informou que o caso foi registrado como constrangimento ilegal, vias de fato e ameaça, e que as investigações seguem em andamento.
Procurada, a academia Selfit declarou, por meio de nota, que “repudia qualquer ato de preconceito ou violência”, lamentou o ocorrido e informou que está colaborando com as autoridades e conduzindo uma apuração interna. “Nosso compromisso é proporcionar um ambiente seguro, acolhedor e respeitoso para todos que frequentam nossas unidades”, afirmou a empresa.
Os dois envolvidos na agressão ainda não foram identificados oficialmente.
Com informações de G1 e CNN