O Papa Francisco fez uma declaração polêmica durante uma conversa com o presidente da Indonésia, Joko Widodo, nesta quarta-feira (04), ao criticar o que chamou de “pais de pets” – pessoas que preferem ter animais de estimação em vez de filhos. “No seu país, as pessoas têm três, quatro ou cinco filhos, esse é um exemplo para todos os países, enquanto alguns preferem ter apenas um gato ou um cachorrinho. Isso não pode dar certo”, afirmou o pontífice em tom de brincadeira, provocando risos no presidente indonésio.
Nas redes sociais, a fala do Papa gerou uma série de reações. Alguns internautas destacaram que a taxa de natalidade na Indonésia, assim como em outras partes do mundo, está em declínio. Segundo o Banco Mundial, a taxa de natalidade no país caiu mais de 50% desde a década de 1960. “O papa não sabe que muitas pessoas na Indonésia já estão decidindo não ter filhos”, comentou um usuário. Outro internauta comparou o futuro do país com o Japão, que enfrenta uma grave crise demográfica. “Em alguns anos, a Indonésia será como o Japão”, disse. Outros também ressaltaram o custo elevado de criar filhos: “Porque você não precisa pagar a mensalidade dos cães até eles completarem 20 anos”, ironizou um usuário.
Além das declarações sobre natalidade, o Papa Francisco também abordou temas sensíveis, como o extremismo e a intolerância religiosa. Durante o segundo dia de sua visita à Indonésia, ele defendeu um maior “diálogo inter-religioso” como forma de combater o extremismo. “A Igreja Católica deseja incrementar o diálogo inter-religioso. Desta forma, pode eliminar-se preconceitos e pode desenvolver-se um clima de respeito e confiança mútuos, indispensável para enfrentar desafios comuns; entre os quais a contraposição ao extremismo e à intolerância que, distorcendo a religião, tentam impor-se através do engano e da violência”, declarou o pontífice.
O combate ao extremismo é um tema importante na Indonésia, que luta há décadas contra o radicalismo islâmico. O país foi palco de um dos piores ataques terroristas de sua história, em outubro de 2002, quando um atentado na ilha turística de Bali deixou 202 mortos.
Ainda durante sua visita, o Papa também falou sobre os conflitos internacionais, ressaltando que muitos deles são fruto da falta de respeito mútuo e do desejo intolerante de impor narrativas. “Os conflitos violentos muitas vezes são o resultado da falta de respeito mútuo, do desejo intolerante de fazer prevalecer a todo o custo os próprios interesses, a própria posição ou narrativa histórica parcial, mesmo quando isso implica sofrimentos intermináveis para comunidades inteiras e resulta em verdadeiras guerras sangrentas”, disse Francisco.
Em um discurso na Catedral de Nossa Senhora da Assunção, o Papa falou diretamente aos 1,3 bilhão de católicos no mundo e incentivou o clero local a promover a fraternidade, pedindo que permaneçam “abertos e amigos de todos”.
Francisco é o terceiro Papa a visitar a Indonésia, depois de Paulo VI em 1970 e João Paulo II em 1989. O país, que abriga a maior população muçulmana do mundo – com 242 milhões de habitantes, 87% deles muçulmanos –, é uma das etapas da atual viagem do pontífice pela Ásia. Na sexta-feira (06), ele seguirá para Papua-Nova Guiné, antes de visitar Timor Leste e concluir sua jornada em Singapura. A maratona de viagens, que deveria ter ocorrido em 2020, foi adiada devido à pandemia de Covid-19.
Esta é a 45ª viagem internacional de Francisco, e o trajeto, que totaliza 32 mil quilômetros, é o mais longo desde o início de seu pontificado em 2013. A agenda do pontífice tem sido um desafio físico, especialmente após vários problemas de saúde que o jesuíta argentino enfrentou nos últimos anos.
Do ver-o-fato, com informações go G1