O Brasil está em uma encruzilhada fiscal perigosa. Os sinais de alerta se multiplicam no mercado, onde cresce o receio de que o governo federal possa não conseguir equilibrar as contas públicas. Um dos principais indicativos dessa preocupação é o salto recente do dólar, que na sexta-feira (1º) fechou cotado a R$ 5,86 – maior valor desde março de 2020.
Esse movimento de alta começou a semana com as incertezas que pairam sobre o pacote de ajustes fiscais prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, ao que tudo indica, ainda está longe de se concretizar.
Sem uma data clara para a apresentação das medidas e com o ministro se preparando para compromissos na Europa na próxima terça-feira (5), o mercado reage negativamente. Além da disparada do dólar, outro termômetro da insatisfação do mercado é a curva de juros futuros, que voltou a patamares de 13%, indicando que investidores veem riscos crescentes para a estabilidade financeira do país.
Veja os principais sinais de risco para as contas públicas do Brasil e os impactos de uma trajetória sem um ajuste fiscal efetivo:
1 – Dólar em disparada
O dólar atingiu o maior patamar em quatro anos, refletindo a incerteza com o ajuste fiscal do governo. A demora no anúncio das medidas de contenção de gastos vem gerando desconforto, conforme explica Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo Corretora. Segundo ele, “a falta de certezas com as contas públicas prejudica a situação do país”. Sem ações concretas, o real fica ainda mais vulnerável à pressão externa e à volatilidade, tornando o país menos atrativo para investidores internacionais.
2 – Queda acentuada da Bolsa brasileira
A Bolsa de Valores brasileira tem sofrido uma das maiores desvalorizações em dólar, caindo 19% ao longo do ano – atrás apenas da bolsa mexicana. Para Rodrigo Moliterno, da Veedha Investimentos, a deterioração macroeconômica interna, impulsionada pela incerteza fiscal e juros elevados, afasta o fluxo de capital, colocando o Brasil em uma posição desvantajosa no cenário global.
3 – Juros em 13%
A instabilidade nas contas públicas está impactando a curva de juros futuros. Com as taxas superando os 13%, o custo da dívida pública e o encarecimento do crédito ameaçam não apenas a sustentabilidade financeira do governo, mas também a atividade econômica. Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais, observa que “a incerteza fiscal e a preocupação com a credibilidade do governo em implementar cortes robustos alimentam a pressão sobre os juros”.
4 – Crescimento das despesas públicas
A nova regra fiscal, que substituiu o antigo teto de gastos, permite que as despesas cresçam até 2,5% acima da inflação em momentos de expansão. No entanto, a pressão sobre o orçamento cresce com despesas obrigatórias, que não estão sob controle. O economista-chefe Gino Olivares alerta que, sem uma contenção efetiva, “essas despesas vão acabar com o espaço do orçamento, e assim você perdeu o controle sobre a máquina pública”.
5 – Aumento da dívida pública
A dívida pública brasileira já alcança 78,5% do PIB, e a tendência é de crescimento. O Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado projeta que a dívida bruta pode chegar a 80% ao final do ano. Segundo o relatório do IFI, a trajetória de endividamento coloca em risco o espaço fiscal, elevando a possibilidade de uma crise de confiança ou a necessidade de ajustes fiscais drásticos no futuro.
A situação fiscal do Brasil exige medidas imediatas. Se o governo continuar adiando ações robustas para controlar o gasto público, o país pode enfrentar um ciclo de inflação persistente, juros elevados e desvalorização cambial. O impacto para a população será inevitável, com aumento no custo de vida e desaceleração econômica, prejudicando o desenvolvimento do país e corroendo a confiança de investidores internos e externos. Do Ver-o-Fato, com informações da CNN Brasil.