O Ver-o-Fato retifica a lista a ele enviada com o número de mortos: são 16 e não 17. É que o nome Gilberto Nascimento, o “Bigodinho”, do Tenoné, aparece duas vezes na lista, ainda em atualização. A correção já está na manchete.
Impressiona — e preocupa as forças de segurança — o crescente número de criminosos paraenses que migraram para o Rio de Janeiro e hoje ocupam posições estratégicas na hierarquia do Comando Vermelho (CV). Levantamento da Subsecretaria de Inteligência da Polícia Civil fluminense identificou 78 traficantes do Pará abrigados em favelas cariocas, principalmente nos complexos da Penha e do Alemão, onde a recente megaoperação policial resultou em mais de 120 mortos, entre eles 17 paraenses citados em uma lista. Outros seis foram presos.
De dentro dos morros, esses criminosos comandavam ações no Pará, emitindo ordens para subordinados em Belém, Ananindeua, Marituba, Castanhal, Abaetetuba e Tucuruí, numa rede de comando que atravessava fronteiras estaduais. O fenômeno revela como o crime se tornou nacionalizado, com facções replicando o modelo de “franquias” do Comando Vermelho em diversos estados.
Segundo o subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil do Rio, Carlos Antônio Luiz de Oliveira, trata-se de um fenômeno de alta periculosidade: “Não se trata apenas das disputas no Rio. Hoje, o Comando Vermelho disputa o Brasil com o PCC. Em pouco tempo, não estaremos mais discutindo apenas segurança pública, mas soberania nacional e quem manda no país”, afirmou.
Mapa da infiltração interestadual
O relatório da Polícia Civil do Rio mostra 152 traficantes de outros estados abrigados em favelas fluminenses. O Pará lidera o ranking, com 78, seguido por Amazonas (21), Bahia (18), Ceará (10), Alagoas (8), Acre (7), Amapá (5), Mato Grosso do Sul (2), Paraná (2) e Rio Grande do Norte (1).
Para especialistas, a migração cria um sistema de “ganha-ganha”: os foragidos ganham refúgio e treinamento tático nos morros cariocas, enquanto o Comando Vermelho amplia seu domínio sobre rotas amazônicas de drogas e armas, aproveitando a malha fluvial e portuária do Norte.
As penitenciárias federais e a atuação de advogados ligados ao crime — que transmitem recados entre líderes presos e seus subordinados — consolidaram o que as polícias chamam de “sintonia nacional”. O resultado foi a criação de uma estrutura descentralizada do Comando Vermelho, hoje presente em 25 estados e no Distrito Federal, com o Rio servindo de quartel-general para criminosos de todo o país.
Paraenses na mata da Penha
Moradores da região da Serra da Misericórdia, conhecida como “Vacaria”, no Complexo da Penha, confirmaram a presença de forasteiros do Norte do país entre os combatentes do CV. Um pastor evangélico, sob anonimato, relatou ao jornal carioca Extra:
“Quem fica na região da mata é o pessoal do Pará, da Bahia e do Amazonas. Eles não conhecem bem o terreno e acabam virando alvos fáceis quando a polícia sobe.”
A identificação dos corpos segue em andamento, mas os registros já apontam que boa parte dos mortos na megaoperação é de traficantes oriundos do Norte, especialmente do Pará. É um trabalho demoradonj
De Belém ao Rio: 35 mandados de prisão
O secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Pará, Ualame Machado, confirmou que a Operação Contenção — deflagrada em parceria com as forças fluminenses — tinha como alvo 32 paraenses suspeitos de comandar o crime no estado a partir do Rio.
“Esses líderes fugiram do Pará porque sabem que aqui seriam alcançados. No Rio, tentam coordenar execuções, tráfico e cobranças. Mas estamos chegando até eles com apoio da polícia fluminense”, disse Machado.
Até agora, dez foram localizados, com quatro presos e seis mortos —, segundo dizia ontem o secretário, embora a lista oficial obtida pelo Ver-o-Fato indique um número maior de vítimas.
Lista oficial dos paraenses mortos e presos na megaoperação do Rio
Fonte: Polícia Municipal 153 (PA)
Mortos (17)
- Lucas da Silva Lima (“LK”) – Tucuruí
- Jhonata de Lima Albuquerque (“Turista”) – Guamá
- Gilberto Nascimento (“Bigodinho”) – Tenoné
- Nailson Miranda (“Mujuzinho”) – Outeiro
- Ednelson da Silva Abreu (“Caboco”) – Condor
- Wesley Martins e Silva – Sacramenta
- Rafael Corrêa da Costa (“Rafinha”) – Abaetetuba
- Ednilson Martins Maia – Ipixuna do Pará
- Bruno Corrêa da Costa (“Bruno Sorriso”) – Abaetetuba
- Luan Carlos Dias Pastana (“Luan Castanhal”) – Castanhal
- Arlen João Almeida (“Terrorista”) – 40 Horas (Ananindeua)
- Robson da Silva Monteiro – Guamá
- Walace Barata Pimentel (“Pizza”) – Benguí
- José Monteiro dos Santos (“Nego Osmar”) – Guamá
- Gilberto Nascimento (“Bigodinho”) – Tenoné
- Vitor Martins – São Miguel do Guamá
- Jon Jon (vulgo) – Irituia (filho de “Charle Louco”; a mãe dele, “Cruella”, presa em setembro no Rio)
Presos (6)
- Rodrigo de Jesus Coelho (“RD”) – Tucuruí
- Joelson de Jesus Barbosa (“Fuzuê”) – Tucuruí
- Damilson Lopes (“DAM”) – Cametá
- Helison Cauã Oliveira – Icoaraci
- Flávio Henrique dos Santos – 40 Horas (Ananindeua)
- Charle Louco (vulgo) – Irituia
O poder paralelo que desafia o Estado
A presença maciça de criminosos paraenses na estrutura do Comando Vermelho confirma que o crime organizado brasileiro atingiu escala nacional e integração logística, usando o Rio de Janeiro como base de operações e a Amazônia como corredor estratégico.
Mais do que um fenômeno policial, essa fusão entre facções representa um desafio à soberania nacional, como alertam autoridades de segurança. “Hoje, o crime tem fronteiras, rotas e liderança. E parte desse poder fala com sotaque paraense”, resume um delegado que participa das investigações.
É em vista disso que deputados de direita, liberais e conservadores querem votar projeto de lei no Congresso Nacional para equiparar as ações desses criminosos ao terrorismo. Os partidos de esquerda e extrema esquerda rejeitam a proposta.















