O complexo de fazendas Santa Maria e Três Marias, em Parauapebas, no sudeste do Pará, foi invadido na madrugada de hoje por mais de mil famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O clima é extremamente tenso na região, porque pecuaristas e fazendeiros pediram que a Polícia Militar atue para evitar não apenas que outras fazendas sejam invadidas, evitando também vandalismo e destruição de reservas legais das propriedades.
Segundo o MST, as duas fazendas nada mais são do que “latifúndios improdutivos e terras griladas”. O movimento diz ainda que os títulos das terras estão sob posse do “grileiro de Marabá, Hitalo Toddy”, acrescentando que esses títulos “foram trocados por dívidas em negociação duvidosas com a família Miranda, latifundiários conhecidos por seu extenso patrimônio de terras públicas e por praticar crimes contra a natureza e seus trabalhadores”.
A mineradora Vale também entrou na linha de tiro do MST, que a acusa de ser “a maior latifundiária da região Norte e responsável pelos impactos ambientais e sociais que assolam milhares de famílias na região devido às suas atividades”. Para o movimento, a Vale deveria atender as demandas das famílias da região.
“A ocupação faz parte da jornada de lutas, terra e liberdade organizada pelo MST. O direito à terra e melhores condições de vida e trabalho tem sido historicamente negados à população negra no Brasil”, argumenta a entidade. De acordo com ela, A ocupação marca o dia 20 de novembro, dia da consciência negra.” Rememoramos o legado de lutadores e lutadoras negras que nos inspiram na construção de um país livre da violência, da opressão e com garantia de direitos”.
As família, alega o movimento, reivindicam o direito ao acesso à terra, que para ele tem historicamente sido negado à população pobre e negra no Brasil. “É preciso avançarmos nas lutas em defesa da terra para produção de alimentos saudáveis e garantir a floresta e o povo vivo”. Para o MST, o estado do Pará tem um alto índice de concentração fundiária, grilagem de terras e aparece nas estatísticas entre os estados campeão em assassinatos de lideranças e defensores de direitos humanos.
Após garantir que não pretende deixar as duas fazendas, o movimento convoca os governos federal e estadual para que seja feita de imediato a vistoria na terra, e comprovado que ela é terra pública, seja destinada para reforma agrária.
PM mobiliza tropa
Homens da Polícia Militar montaram barreira na estrada de acesso ao acampamento “Terra e Liberdade”, em Parauapebas, mas o MST acusa a PM de usar seus agentes públicos para” infringir as leis que deveriam garantir a segurança de todos e não para constrangimento e obstrução do direito de ir e vir dos trabalhadores e trabalhadora”s.
Poe sua vez, os ruralistas da região querem uma desocupação forçada da área e contam com apoio da polícia que realizou um cerco com bloqueio de entrada e saída da área. As famílias estão impedidas de sair ou entrar no acampamento. “Acompanhamos a situação e denunciamos a forma arbitrária dos agentes”, resume o MST.
O Ver-o-Fato tentou sem sucesso localizar o fazendeiro Hitalo Toddy para ele se manifestar sobre a ocupação das terras pelo MST. O espaço está aberto à versão do empresário.
Vídeos obtidos pelo Ver-o-Fato registram a aglomeração dos integrantes do movimento nas duas fazendas e aquilo que eles chamam de “truculência policial na manhã desta segunda-feira”.
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