O Ultimate Fighting Championship (UFC) fechou um acordo histórico em um processo antitruste coletivo, movido por atletas que denunciaram práticas anticompetitivas da organização entre 2010 e 2017. O valor global da indenização chega a US$ 375 milhões, consolidando um dos maiores acordos já registrados no esporte de combate.
Entre os principais beneficiados está o brasileiro Anderson Silva, ex-campeão mundial e um dos maiores ícones da história do MMA, que receberá sozinho US$ 10,3 milhões (cerca de R$ 55 milhões). A revelação foi feita pelo jornalista John S. Nash.
O acordo prevê ainda que cerca de 35 lutadores recebam quantias superiores a US$ 1 milhão (R$ 5,4 milhões). A maioria dos contemplados ficará na faixa de US$ 250 mil (R$ 1,3 milhão), enquanto a menor indenização será de US$ 16 mil (R$ 86 mil). No total, 1.067 atletas serão beneficiados. Do montante, US$ 251 milhões vão diretamente para os lutadores, e o restante cobre honorários advocatícios e despesas legais.
As práticas abusivas
De acordo com a advogada Giselle Borges Alves, ouvida por O Antagonista, o processo antitruste representa um instrumento fundamental de intervenção contra abusos do poder econômico. No caso do UFC, a organização foi acusada de:
Ameaçar atletas que tentassem migrar para eventos concorrentes;
Impor cláusulas contratuais restritivas, que limitavam a liberdade de negociação;
Manter controle excessivo sobre o mercado, enfraquecendo rivais e prejudicando a livre concorrência.
Essas estratégias permitiram que o UFC se consolidasse como quase monopólio do MMA mundial, restringindo oportunidades para os lutadores e impondo condições financeiras desfavoráveis à maioria deles.
Esse acordo, além da reparação financeira, escancara como um modelo de negócios, baseado em poder absoluto e contratos leoninos, pode prejudicar trabalhadores de uma indústria que movimenta bilhões de dólares em todo o mundo.
Se por um lado Anderson Silva e outros astros receberão indenizações milionárias, o que chama atenção é que centenas de atletas — que sustentaram o espetáculo em lutas preliminares ou sem grande exposição midiática — receberam valores relativamente modestos, revelando a desigualdade estrutural dentro do UFC.
Além disso, a indenização cria um precedente importante: mostra que a justiça pode intervir quando organizações esportivas abusam de sua posição dominante. Em um mercado altamente concentrado como o do MMA, esse tipo de ação serve de alerta para que práticas abusivas não se repitam.
Lições para a indústria esportiva
O caso deixa três ensinamentos centrais:
Indenização histórica – Lutadores, antes reféns de contratos desiguais, conquistaram compensações significativas.
Exposição de abusos – Ficou evidente que práticas anticompetitivas corroíam a concorrência e enfraqueciam os atletas.
Regulação necessária – Processos como esse reforçam a necessidade de mecanismos legais para equilibrar relações em indústrias dominadas por um único agente econômico.















