Autoridades da Ucrânia começaram ontem a distribuir comprimidos de iodo para moradores nos arredores da usina nuclear de Zaporizhzia, ocupada por tropas russas. Em meio aos combates perto do complexo, crescem também temores de que um possível vazamento de radiação cause uma catástrofe.
A medida foi tomada um dia depois de a usina ter sido temporariamente desligada da rede elétrica da Ucrânia, segundo os russos, por causa de danos provocados por um incêndio em uma linha de transmissão. O incidente aumentou o temor de um desastre nuclear em uma região ainda assombrado pela explosão do reator da usina de Chernobyl, em 1986.
Bombardeios contínuos foram relatados na área durante a madrugada de ontem, e imagens de satélite mostraram, nos últimos dias, focos de incêndios ao redor do complexo – a maior usina nuclear da Europa.
Comprimidos de iodo, que ajudam a bloquear a absorção de iodo radioativo pela tireoide, em caso de acidente nuclear, foram distribuídos na cidade, a 45 km da usina. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está tentando enviar uma equipe para inspecionar e ajudar a proteger as instalações, mas não está claro quando a visita deve ocorrer.
A usina de Zaporizhzia foi ocupada por forças russas em março, mas continua a ser administrada por funcionários ucranianos desde os primeiros dias da guerra. Os dois lados se acusaram de bombardear o local e se culparam mutuamente pelos danos na linha de transmissão que desconectou a usina da rede elétrica.
GERADORES
Não está claro o que exatamente aconteceu, mas o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, disse que os geradores a diesel de emergência da usina tiveram de ser ativados para fornecer eletricidade para operar o complexo – a usina requer energia para manter funcionando os sistemas de resfriamento dos reatores A perda de resfriamento pode causar um colapso nuclear.
A Ukrenergo, operadora do sistema de transmissão da Ucrânia, informou ontem que duas linhas principais danificadas que abastecem a usina com eletricidade retomaram a operação, garantindo um fornecimento de energia estável.
A agência de energia nuclear do país, Energoatom, disse que a usina foi reconectada à rede e estava produzindo eletricidade “para as necessidades da Ucrânia”. Mas autoridades instaladas pela Rússia na região de Zaporizhzia disseram que a usina estava fornecendo eletricidade apenas para áreas do país controladas pela Rússia – e não para o restante da Ucrânia.
Os reatores de Zaporizhzia são protegidos por grossas cúpulas de contenção de concreto armado que, segundo especialistas, podem resistir a um projétil de artilharia. Muitos dos temores se concentram em uma possível perda do sistema de resfriamento, e também no risco de que um ataque às lagoas de resfriamento, onde são mantidas as barras de combustível, possa espalhar material radioativo.
Ontem, o presidente francês, Emmanuel Macron, voltou a dizer que uma visita da AIEA deve ocorrer “muito em breve. “A energia nuclear civil não deve ser um instrumento de guerra”, afirmou Macron. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.