De acordo com o The New York Times e agências internacionais de notícias, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou nesta terça-feira (24) tanto Israel quanto o Irã de violarem o cessar‑fogo mediado por Washington e pelo Catar. O acordo, anunciado por Trump na noite de ontem (23), deveria entrar em vigor às 4h da manhã (hora local). “Não estou feliz com Israel. Não estou feliz com o Irã também, mas realmente não estou feliz com Israel”, desabafou o presidente.
A trégua foi costurada após uma ligação direta de Trump com o primeiro‑ministro israelense, Binyamin Netanyahu, segundo uma fonte da Casa Branca ouvida pela Reuters. Israel teria concordado em cessar ataques desde que o Irã não realizasse novas ofensivas. Teerã, por sua vez, deu sinal de que respeitaria o entendimento. As negociações aconteceram por múltiplos canais e contaram com a participação direta do vice‑presidente JD Vance, do secretário de Estado Marco Rubio e do enviado especial Steve Witkoff.
Apesar do entendimento, o clima continuou tenso. Um alto funcionário do governo americano revelou à Reuters que Trump e Vance discutiram com o emir do Catar uma forma de garantir que o Irã honrasse o cessar‑fogo, especialmente após um ataque iraniano contra uma base americana no país. No entanto, poucas horas depois, o chanceler iraniano negou que houvesse qualquer acordo firmado.
Os ataques não cessaram
Apesar do anúncio de trégua pela televisão estatal iraniana, mísseis continuaram a ser disparados contra Israel nas primeiras horas desta terça‑feira, enquanto Israel realizava ataques contra alvos iranianos durante a noite de segunda‑feira. O Exército de Defesa de Israel (IDF) pediu à população para evacuar dois bairros de Teerã após relatos de intensas explosões, confirmadas pela agência estatal iraniana.
Trump, nas redes sociais, pediu calma e exortou ambos os lados a não violarem o cessar‑fogo, mas momentos depois uma ofensiva iraniana atingiu um prédio residencial no sul de Israel, em Beersheba, deixando cinco mortos e oito feridos, com danos significativos à estrutura. Os serviços de emergência israelenses relataram que duas pessoas sofreram ferimentos moderados e seis apresentaram ferimentos leves.
Embora o governo de Israel tivesse confirmado sua adesão ao cessar‑fogo anunciado por Trump, o Exército israelense e a Força Aérea continuaram em alerta máximo. Duas horas após o horário marcado para o cessar‑fogo, Israel detectou o lançamento de mísseis iranianos e acusou o Irã de violar “completamente” o acordo. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, prometeu uma resposta à altura. O Irã, por sua vez, negou o disparo.
A fragilidade de acordos sob pressão
A quebra quase imediata do cessar‑fogo evidencia não apenas a volatilidade do confronto entre Irã e Israel, mas também a dificuldade de mediadores externos — mesmo uma potência como os Estados Unidos — garantirem uma trégua sólida e verificável quando a desconfiança mútua domina a relação. As múltiplas frentes de comunicação (Trump com Netanyahu, o vice‑presidente com o emir do Catar e com Teerã) não foram suficientes para garantir uma implementação eficaz do acordo.
O episódio mostra que, sem uma estrutura clara de fiscalização e sem compromisso direto das partes envolvidas, cessar‑fogos tornam‑se vulneráveis à mínima provocação ou acidente. O resultado não poderia ser outro: enquanto líderes fazem anúncios, soldados e civis continuam expostos ao risco, e a paz parece tão distante quanto antes.
Linha do tempo do fracasso
- Segunda‑feira (23): Trump anuncia cessar‑fogo para começar às 4h (hora local).
- Madrugada de terça‑feira (24): A televisão estatal iraniana confirma o entendimento e aponta para o cumprimento do cessar‑fogo, sob a condição de Israel não lançar mais ataques.
- Horas depois: O Exército iraniano realiza cinco ataques de mísseis contra Israel antes do horário previsto para o cessar‑fogo. O governo israelense responde com ataques contra alvos em Teerã.
- 4h (hora local): Começa oficialmente o cessar‑fogo anunciado por Trump.
- Primeiras duas horas: Os ataques continuam. Um míssil iraniano atinge um prédio residencial em Beersheba, no sul de Israel, deixando cinco mortos e oito feridos.
- Declarações contraditórias: O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, acusa o Irã de violar “completamente” o acordo, enquanto as autoridades iranianas negam terem disparado após o cessar‑fogo.