Vai de mal a pior a situação dos trabalhadores do Grupo Jari, hoje em recuperação judicial. eles não recebem seus salários há três meses e há quatro anos a empresa não paga outros direitos. Esse trabalhadores denunciam ao Ver-o-Fato que estão passando as maiores necessidades e não têm dinheiro sequer para comprar a alimentação diária. E afirmam que não aguentam mais “tantas humilhações”.
Em vista disso, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Papel e Celulose nos Estados do Pará e Amapá (Sintracel), enviou ofício no último dia 21 à direção da Jari, cobrando o pagamento dos salários e outros direitos, ameaçando inclusive pedir a falência da empresai.
Em longa resposta, a Jari faz uma digressão sobre as dificuldades financeiras que enfrenta, mas não diz se vai pagar e quando vai paga, os salários de seus empregados. A posição evasiva da empresa provocou a manifestação do presidente do Sindicato, Ivanildo Quaresma Uchôa, em áudio distribuído aos trabalhadores, juntamente com a resposta da empresa.
Veja, abaixo, o ofício do Sintracel ao presidente do Grupo Jari, Ricardo Aragonêsz, ao diretor financeiro, Hamilton Barbosaà, a resposta da Jari e o áudio aos trabalhadores:
O OFÍCIO
“Por mais uma vez insisto na sojicitaçao de que a empresa se manifeste no sentido de informar para os trabalhadores sobre as negociag6es em adquirir recursos papa pagar os trabalhadores e iniciar o- processo de produçao da fábrica. A!em de sermos trabalhadores, tamb6m somos credores.
A situação que estamos vivendo é com certeza análoga à escravidão, muitos trabalhadores estão com a energia elétrica cortada, e sem recurso para alimentação. A
empresa não cumpriu a sua obrigação com os trabalhadores, recorreu a recuperação judicial, e tão pouco estão cumprindo com a obrigação principal. que é a obrigação social.
Todos os trabalhadores fizeram a sua parte, comprometidos em trabalhar sem receber os pagamentos atrasados. Mesmo assim a empresa não tem o mínimo de respeito à classe trabalhadora.
Na última reunião que tivemos o assunto mais enfatizado foi a falta de informações aos trabalhadores. Estamos chegando ao ponto de dar credibilidade aos
comentários que são discutidos em nossa reunião que a empresa esta enrolando para ganhar tempos assim como também, tomarmos a decisão de seguirmos a linha do administrador judicial de pedirmos a falência.
Caso a empresa não comunique aos trabalhadores em que pé andam as negociações e a expectativa de pagamentos, vamos aderir ao movimento de pedido de falência e movimento para ninguém trabalhar se não receber o que está atrasado. Como diz o ditado papular no futebol; “perdido por 1 perdido por 10″. Não aguentamos tantas humilhag5es”.
A RESPOSTA DO GRUPO JARI.
“ntrodução
- A Jari vem, incansavelmente e sem medir esforços, trabalhando em alternativas de captações de recursos com a finalidade de retomar os pagamentos aos seus colaboradores, fornecedores de bens e serviços e, então, alcançar a tão esperada retomada da fábrica.
- Diversos recursos foram levantados e viabilizados pela nova gestão da empresa desde dezembro de 2022 e, em alguns casos, contando com a valiosa colaboração da Administradora Judicial. Citamos alguns casos de maior repercussão, como: Paineira, ICMS/PA, Klingele, Btg/Ambify, Clave e Quadra (essa última ainda pendente de conclusão e entrada de recursos). Todas essas captações foram feitas em um cenário de uma empresa em Recuperação Judicial, sem geração de receitas de produção.
- A partir do ingresso dos recursos acima listados foram pagos, até o momento, aproximadamente (i) R$ 42 milhões de verbas trabalhistas para os colaboradores diretos representados pelo Sintracel e (ii) R$ 9.5 milhões de verbas trabalhistas para os empregados terceirizados representados pelo Sintracomvaj.
- Com o esforço de toda a equipe de colaboradores do Vale do Jari e demais fornecedores, o comissionamento da fábrica foi concluído e a empresa ficou muito próxima de retomar suas atividades industriais na plenitude, tendo como destaques as Caldeiras de Força com campanha e geração de vapor muito acima das expectativas iniciais e dos anos que antecederam a interrupção da produção em julho/22. Adicionalmente, a Caldeira de Recuperação recebeu intervenções que apontam para uma performance esperada acima dos últimos anos.
- Muito embora se reconheça todo o esforço e empenho dos colaboradores e dos líderes da empresa, é necessário também dizer que as atividades estiveram suspensas na maior parte desse período sem produção, concentrando-se nos períodos de (i) janeiro a março/23, ainda assim com quase 50% de absenteísmo; e (ii) de 21 de agosto/23 até a interrupção feita em 17 de novembro/23, dessa vez contando com muito comprometimento e dedicação incansável de todos.
- Portanto, nos últimos 17 (dezessete) meses, foram pouco menos de 6 (seis) meses de atividades efetivas. Em todos os demais meses a imensa maioria dos colaboradores esteve dispensada do trabalho, em comum acordo com a empresa, refletindo a falta de caixa e sem que nenhuma hora que seja lhes tenha sido descontada. Em outras palavras, não há cabimento e nem espaço, sob qualquer hipótese sensata, de se falar em trabalho forçado ou usar expressões como aquelas utilizadas no Ofício em referência. II. Estruturação das Operações de Captação de Recursos
- Lamentavelmente, uma série de informações negativas e inoportunas, muitas vezes imprecisas e inverídicas, têm sido repercutidas na imprensa utilizando-se de alegações feitas de forma leviana por determinadas pessoas. Com efeito, na maioria dos casos, os veículos de comunicação envolvidos sequer dão o tratamento justo e leal que todo órgão de imprensa deveria dar a uma acusação/notícia e a gestão da empresa nem chega a ser convidada a dar a sua versão sobre os fatos alegados. Isso, reiteradamente, tem causado demora nos processos de captação da empresa, quando não acaba por inviabilizar determinadas tratativas em curso.
- Vale, ainda, ressaltar que no processo de estruturação dessas operações, a cada início de tratativas, fundos, bancos e demais agentes financeiros requerem a assinatura de Acordos de Confidencialidade que impedem a empresa de tornar público qualquer temos ou condição da negociação, em sua totalidade ou parcialmente. Daí o cuidado extremo da empresa em revelar as operações somente após a sua conclusão e tendo a autorização expressa da outra parte.
III. Estágio Atual das Operações de Captação em Curso A) Quadra - Encontra-se em curso a “Operação Quadra”, que consiste na venda/cessão onerosa de créditos futuros advindos de processos de natureza tributária, da Jari Celulose em face da União Federal, devidamente aprovada pelo Juízo da Recuperação Judicial e com manifestações favoráveis do Ministério Público e do próprio Sintracel, correspondendo a um valor total de R$ 15 milhões, em duas tranches, sendo a primeira e imediata de R$ 7.5 milhões, que será depositada após o cumprimento de 4 (quatro) pré-condições exigidas pela Adquirente/Cessionária.
- Dessas 4 (quatro) pré-condições, 3 (três) já foram cumpridas, restando a última delas, alheia ao controle da Jari, que é a manifestação da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN). A empresa não tem poupado esforços em busca dessa manifestação oficial no menor prazo possível, inclusive por meio da contratação de assessoria jurídica especializada para acompanhamento diário de tramitação. Essa manifestação da PGFN é esperada para acontecer a qualquer momento e a Jari já fechou acordo com esse Sindicato para o repasse de parte dos valores aos trabalhadores. B) Operação com Fundo
- Trata-se de uma operação de curto e médio prazo, envolvendo aquisição imediata de créditos de carbono e futura de ativos imobiliários, com pagamentos independentes. Essa operação vem sendo negociada pela Jari com extremo zelo e discrição, há mais de 20 dias. Esperávamos viabilizar o pagamento da primeira parte da operação (aquisição de créditos de carbono) ainda antes do final do ano, todavia esta operação sofreu um revés devido às notícias correntes e inoportunas sobre a continuidade da empresa, atrasando sua conclusão e tornando-a, nesse momento, bastante complexa. IV. Outras Operações de Captação
- Foram iniciadas, recentemente, mais duas negociações contingenciais, de curto prazo e que estão na fase de discussão. Traremos mais informações quando essas operações avançarem. V. Sobre a Continuidade da Empresa
- Em várias ocasiões a empresa e a região têm lidado com comentários sobre a continuidade da Jari. Reforçamos nossa crença na capacidade da empresa em se reerguer e tornar-se sólida novamente. Lamentavelmente, esses comentários, como já dito, causam lentidões nas negociações e até rupturas quando os comentários se tornam mais drásticos. Sobre isso gostaríamos de informar o seguinte: a) Uma eventual falência da Jari seria um evento catastrófico em que o maior prejudicado seria o trabalhador; b) Um estudo publicado no início de 2023, analisando mais de 6 mil casos de falência de empresas no Brasil, revelou que em média uma falência leva 16 anos para ser concluída. Do valor total da dívida dessas empresas analisadas (folha de pagamento, fornecedores, empréstimos bancários, impostos, etc) apenas 6% são recuperados. Ou seja, se um funcionário tem R$ 1.000,00 para receber, ele conseguirá receber apenas R$ 60,00 e ao final de 16 anos! c) Não há, em toda a história de falências de empresas, nenhum caso em que os interesses e valores a receber dos funcionários tenha sido preservado. Ao contrário, sempre houve um cenário desolador, de muita angústia, demora e perdas familiares.
- Resta evidente que o melhor e o único caminho pelo qual esta gestão está lutando – e continuará a fazê-lo incansavelmente – é viabilizar o retorno da empresa, a manutenção dos empregos e a restauração da qualidade de vida dos habitantes do Vale do Jari. Qualquer outro caminho diferente desse será catastrófico e caótico para o trabalhador, fornecedores e toda a comunidade local.
- Conclusão
- Por todo o exposto, a empresa renova, publicamente, o chamamento feito ao Sintracel para que siga trabalhando em conjunto com a empresa e demais atores principais do processo recuperacional, em especial o Juízo Universal, a Administradora Judicial e o Ministério Público, em busca do soerguimento da Jari Celulose e todo o Vale do Jari, na certeza de que este objetivo está mais perto do que nunca de ser alcançado!
- Como é de ciência deste Sindicato, a fábrica recebeu investimentos vultosos nos últimos 12 (doze) meses e está pronta para retomada imediata de produção, tendo apresentado performance nos testes produtivos capazes de afirmar que a fábrica está em sua melhor forma desde a conversão para produção de celulose solúvel! Aliando essa ótima performance industrial (já comprovada) com o bom momento do mercado internacional de celulose solúvel, não há dúvidas de que a superação deste atual cenário desafiador é apenas uma questão de curto prazo.
- Com base nesse espírito de confiança no breve retorno operacional e colaboração com o sindicato e seus representados, registrando solidariedade à delicada situação financeira de seus colaboradores, a Jari gostaria de propor ao Sintracel a construção de um programa de dação das casas, ora ocupadas por colaboradores da empresa, em pagamento de parte ou da totalidade dos créditos detidos pelos trabalhadores contra a companhia, sem prejuízo (i) da possibilidade de estabelecer um financiamento do saldo devedor porventura existente para aqueles que não tenham créditos suficientes para quitação do preço do imóvel, em prazo confortável e com carência a serem definidos oportunamente; e (ii) da definição pela suspensão do aluguel incorrido por aqueles que vierem a manifestar interesse inequívoco na adesão ao programa até que o mesmo possa estar apto a ser implementado, observado o abaixo indicado.
- Necessariamente, após a elaboração conjunta do programa supracitado, este deverá ser levado à apreciação e aprovação judicial antes de ser implementado, em respeito à legislação aplicável ao processo de Recuperação Judicial. “
OUÇA A RESPOSTA DO SINDICATO À RESPOSTA DA JARI: