Vivaldo José Breternitz *
Temos a percepção de que a polarização política nunca foi tão intensa em nosso país como nos dias atuais, e também de que boa parte dela se deve às redes sociais. Antes da existência destas, as discussões políticas limitavam-se a pequenos grupos, e acontecia o que é parte de um velho ditado em latim: “verba volant”, as palavras voam, raramente com consequências mais sérias.
Agora, com as redes, acontece o que prevê a outra parte do ditado: “scripta manent”, o que está escrito permanece, podendo ser visto, amplificado e distribuído, fomentando ódios.
Desconhecemos pesquisas que possam confirmar ou não essa percepção em termos de Brasil. Porém, pesquisadores do Stern Center for Business and Human Rights da Universidade de Nova York chegaram à conclusão de que isso é verdadeiro nos Estados Unidos. Como o cenário lá é parecido com o nosso, talvez seja válido considerar que também aqui as redes sociais contribuem fortemente para a dita polarização.
De forma quase literal, citando explicitamente o Facebook, a pesquisa afirma que as redes desempenham um papel importante no agravamento da polarização política que pode levar à violência. Os pesquisadores entrevistaram dezenas de especialistas no tema e pelo menos um executivo do Facebook, o francês Yann LeCun, seu principal cientista na área de inteligência artificial.
Embora o relatório que traz os resultados da pesquisa tenha o cuidado de apontar que as redes sociais não são a “causa original” da polarização, os autores dizem que o Facebook e outros como Twitter, WhatsApp etc., a intensificaram.
Defendendo-se, o Facebook diz que as redes sociais não são o principal fator de polarização e que a empresa tem adotado providências para lidar com esse problema, detectando e removendo contínua e proativamente conteúdo impróprio, como discursos de ódio e fake news, além de procurar conectar seus usuários a fontes confiáveis de informações sobre questões como eleições, pandemia e mudanças climáticas.
O relatório também afirma que esses problemas poderiam ser amenizados se as redes deixassem mais claros os critérios usados por seus algoritmos para classificar, recomendar e remover conteúdo. Também recomenda que o governo baixe um código de conduta para as redes e que essas aumentem substancialmente o número de pessoas que fazem a moderação das postagens recebidas, contratando-as como funcionários plenos e treinando-as para que possam tomar decisões mais consistentes.
O relatório é mais uma indicação de que o poder das big techs precisa ser diminuído, em defesa da democracia.
- Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.