crianças, foram até um trecho do rio Tapajós, considerado sagrado pelo
povo, para passar um recado para o mundo: “Barre a barragem. Mantenha o
rio Tapajós vivo”. Segurando faixas em diversas línguas, eles
protestaram no dia 18, com o apoio do Greenpeace, contra a construção de
barragens no rio que sustenta sua cultura e modo de vida, além de uma
rica biodiversidade.
Tapajós, sendo a maior delas a de São Luiz do Tapajós, próxima a
Itaituba, no Pará. Com 7,6 quilômetros de comprimento e mais de 53
metros de altura (o equivalente a um prédio de 18 andares), a barragem
planejada terá um reservatório de 729 km² (extensão maior do que a
cidade de Salvador). Se construída, São Luiz do Tapajós vai destruir 14
lagoas sazonais e perenes, mais de 7 mil hectares de pedrais (áreas com
pedras nos rios importantes por abrigar diversas espécies de peixes,
morcegos e aves), 320 ilhas e 17 corredeiras.
hectares da Terra Indígena Sawré Muybu, do povo Munduruku, que teve seu
processo de demarcação paralisado por conta dos interesses do governo na
área para a hidrelétrica. Ao não demarcar essa terra indígena, o
governo está negando aos índios um direito que lhes é garantido pela
Constituição. “Se essa usina for construída, os impactos
ambientais serão muito grandes e vão além da inundação da floresta. Os
peixes que hoje vivem no rio morrerão, várias plantas não vão resistir e
animais não terão o que comer. Uma coisa está ligada à outra. Quando um
rio morre, muita coisa morre com ele. Se o rio Tapajós morrer, nosso
povo ficará ameaçado”, diz Adauto Akay Munduruku, chefe dos guerreiros
do povo.
Tapajós excepcional até mesmo para padrões amazônicos. Cerca de 376 km²
de floresta vão desaparecer sob as águas. Espécies como o
boto-cor-de-rosa, a onça-pintada, o tatu-canastra, que precisam circular
livremente para procriar e se alimentar, sofrerão diretamente pelo
barramento do rio. Sem contar as espécies que só existem na região e
cuja existência ficará seriamente ameaçada.
“Ao
insistir na construção de grandes hidrelétricas na Amazônia, o Estado
brasileiro atropela direitos e ignora os riscos que o barramento dos
principais rios da bacia amazônica pode causar ao equilíbrio ambiental
de todo o bioma, ameaçando uma biodiversidade inestimável e vasta
riqueza cultural dos povos indígenas da região. O reflexo disso será
sentido por todos os brasileiros”, afirma Danicley de Aguiar, da
Campanha Amazônia do Greenpeace.
Impacto Ambiental (EIA/RIMA) realizada a pedido do Greenpeace por
pesquisadores referências em suas áreas de conhecimento, os problemas
identificados no EIA são considerados graves e inviabilizam a avaliação
dos efeitos da construção de São Luiz do Tapajós. Os cientistas
recomendam que o EIA/RIMA seja rejeitado pelo órgão licenciador, pois
não cumpre com o papel de auxiliar a tomada de decisão e informar a
sociedade sobre os reais impactos de uma obra com a dimensão de São Luiz
do Tapajós do ponto de vista técnico, econômico, social e ambiental.
realizado uma análise de mérito e apresentado pelo menos 180 pontos a
serem complementados. Para o Greenpeace, o processo de construção de
Tapajós já começou corrompido, com um EIA/RIMA tecnicamente contestado
por conter diversos erros e omissões, e que, por consequência, não pode
ser aprovado. A análise independente mostrou que os impactos previstos
pela barragem são inaceitáveis.
“O correto é que o
licenciamento da obra seja negado pelo Ibama. Do contrário, o governo
vai permitir a destruição de uma das mais importantes áreas para a
conservação da Amazônia. Além disso, é preciso aprender com Belo Monte,
que deixa como legado o desrespeito à população local, o caos social e
uma série de denúncias de corrupção. Os últimos acontecimentos do Brasil
têm mostrado que, por trás de mega construções há interesses políticos
que favorecem grandes empresas e alimentam um círculo vicioso de mau uso
do dinheiro público” afirma Aguiar.
Amazônia para gerar energia a qualquer custo. As energias
verdadeiramente limpas, como a solar e a eólica, já são uma realidade
para suprir as necessidades de abastecimento do país sem condenar as
florestas e suas populações”, completa ele.
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