a Polícia Federal voltou a agir contra a podridão que corrói a infância e a adolescência no Brasil. A Operação Albatroz II, deflagrada em Tracuateua, na região nordeste do Pará, resultou no cumprimento de um mandado de prisão preventiva contra um indivíduo acusado por abusar sexualmente do próprio sobrinho. O objetivo da ação, realizada no último final de semana, foi claro: combater os crimes de produção, armazenamento e compartilhamento de imagens e vídeos de abuso sexual infantojuvenil na internet.
O acusado, uma figura já conhecida pelas autoridades, havia sido preso em flagrante em janeiro deste ano, na primeira fase da operação, mas, em uma demonstração de leniência que beira o absurdo, foi solto em audiência de custódia. Agora, diante de novas evidências, ele permanece à disposição da Justiça – um desfecho que, embora tardio, é o mínimo que se espera diante de tamanha infâmia.
Esse caso é apenas a ponta de um iceberg sinistro. No Brasil, os abusos sexuais contra crianças e adolescentes não são apenas os crimes mais comuns nessa faixa etária; eles crescem como uma bola de neve, alimentados por uma cultura de silêncio, impunidade e, pior, pela traição perpetrada dentro do próprio lar.
Sim, porque o que torna essa realidade ainda mais repugnante é o fato de que, na maioria das vezes, o agressor não é um estranho na escuridão, mas sim um rosto familiar: pais, tios, avôs, padrastos – aqueles que deveriam proteger, mas que, em vez disso, violam a confiança mais sagrada.
Dados do Ministério da Justiça revelam que, em 2024, o país registrou 9 estupros por hora, sendo 61% das vítimas menores de 14 anos. E o lar, que deveria ser um refúgio, transforma-se em palco de horrores: a maioria desses crimes ocorre dentro de casa ou é cometida por parentes próximos.
Faceta sórdida
É revoltante pensar que, enquanto a sociedade se choca com manchetes esporádicas, o cotidiano de milhares de crianças e adolescentes é marcado por esse pesadelo silencioso. A operação em Tracuateua expõe uma faceta especialmente vil: o uso da internet para propagar e lucrar com a destruição da inocência.
O suspeito não apenas abusava do sobrinho, mas, segundo as investigações, produzia e disseminava material que eterniza o sofrimento da vítima. E o que dizer da Justiça, que o libertou meses atrás? A soltura de um criminoso já flagrado com evidências de tamanha gravidade é um tapa na cara de qualquer cidadão que ainda acredita em proteção para os vulneráveis.
Esse ciclo de abuso, perpetrado muitas vezes por aqueles que carregam o mesmo sangue das vítimas, é uma chaga aberta na moral brasileira. A família, que em teoria representa segurança, torna-se o epicentro da barbárie, e a impunidade só faz engrossar as estatísticas.
A Polícia Federal, com operações como a Albatroz II, até tenta estancar a hemorragia, mas enquanto a sociedade não encarar de frente essa epidemia – exigindo punições severas, apoio às vítimas e, sobretudo, a quebra do tabu que protege os agressores domésticos –, o Brasil continuará a ser um país onde a infância é roubada, violentada e descartada, muitas vezes sob o teto que deveria acolhê-la. Que vergonha, que indignidade.