Marcado por protestos e muita emoção, o enterro e sepultamento de Cosmo Ribeiro de Sousa, o “Manel”, José Luís da Silva Teixeira e Willian Santos Câmara, os três jovens torturados e enterrados na mesma cova, dentro da reserva indígena Parakanã, em Novo Repartimento, no sudeste paraense, deixaram no ar que as investigações sobre a autoria dos assassinatos precisam avançar para identificação e prisão dos autores.
Na região, pelo que se viu durante o enterro e manifestações nas redes sociais, a acusação recai sobre os indígenas, que por sua vez negam participação na atrocidade. Além disso, boatos se espalharam sobre uma possível retaliação de moradores “brancos” contra os índíos, criando um clima de apreensão e medo. Servidores da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que atuam nas aldeias parakanã, tiveram de ser retirados às pressas, temendo invasão.
Isso também aconteceu com estudantes da etnia matriculados no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFPA), chamados de volta da cidade de Novo Repartimento para as aldeias, pois familiares temem algum tipo de ataque contra eles.
Enquanto isso, por determinação do juiz federal Paulo Máximo Cabacinha, a Força Nacional de Segurança, que atuou durante uma semana ao lado da Polícia Federal na busca para encontrar os três caçadores desaparecidos, terá de permanecer na região por mais 5 dias. O juiz fixou multa diária de R$ 5 mil caso sua decisão não seja cumprida pela Força Nacional.
O pedido ao juiz para a permanência da força federal na reserva indígena foi feito pelo Ministério Público Federal (MPF). Pesou na solicitação o clima de revolta que domina muita gente na região, ensejando a possibilidade de confronto com os parakanã, também conhecidos em Novo Repartimento como awaeté.
Acusações e defesa
Em várias páginas das redes sociais, principalmente no Facebook e Whatsapp, os ataques e acusações aos indígenas, responsabilizando-os pelos crimes, acenam com vingança baseada na velha “Lei de Talião”, aquela do “olho por olho, dente por dente”, que não interessa a ninguém, a não ser aos contaminados pelo ódio, ainda sem comprovação de fatos que indiquem se os parakanãs tiveram ou não participação nos assassinatos.
Juliana Zanelli, por exemplo, postou: “gente, eles não morreram simplesmente porque entraram na reserva. Segundo o que se comenta em Novo Repartimento, um desses rapazes que morreu, esfaqueou um índio meses atrás numa desavença em um jogo de futebol. O índio esfaqueado passou dias no hospital, mas não morreu. E o rapaz foi avisado que estava proibido de entrar na reserva. Eles eram todos conhecidos. O rapaz ficou um tempo fora até a poeira abaixar e quando voltou, resolveu justamente entrar em área proibida, armado. Isso não justifica a morte de ninguém. Mas tudo isso não aconteceu à toa. E isso tudo infelizmente, vai resultar em muitas mortes de ambos os lados ainda porque na região, já foi avisado que vai ter represália. Só Deus para ter misericórdia”.
O comentário gerou diversas críticas de outros moradores de Novo Repartimento, dizendo que a postagem era “fake news”. Juliana rebateu, argumentando que não estava fazendo nenhuma afirmação, apenas relatando o que ouvia dizerem pela cidade. Gabriel Brock também comentou: “eu já trabalhei na Aldeia Parakanã, e digo que eles não são violentos, assim como tem “turia”, como é chamado quem não faz parte da aldeia, existem pessoas sem noção, os awaete são um povo simples e humilde. Não julgar todos por causa de alguns que fizeram isso”.
Outro comentário, de Queiroz Oliveira: “complicado, e pior que os índios só vivem na casa de um dos rapazes, o José Luis, que é filho de seu Antonio, um comerciante que mora há anos na beira da Transamazônica e compra e vende para os próprios índios”.
Vídeo do enterro e manifestações:
Cacique pede proteção
Em um vídeo ao qual o Ver-o-Fato teve acesso, um cacique das 17 aldeias parakanã faz um apelo às autoridades estaduais e federal, dizendo que seu povo “está ameaçado”, devido ao ocorrido com os três caçadores. “O branco está invadindo a nossa terra”, resume.
Veja, abaixo