O setor do agronegócio paraense enfrenta um de seus momentos mais sombrios, e a crise já está deixando marcas profundas na economia regional. O Grupo Portal Agro, uma das maiores empresas do ramo no estado, entrou com pedido de recuperação judicial na quarta-feira, 25, após acumular uma dívida de R$ 700 milhões.
Fundado em 2008, o grupo comercializa insumos agrícolas para cerca de 250 produtores na região de Paragominas, e sua situação reflete o momento delicado vivido pelo agronegócio brasileiro. A empresa Portal, comandada pelos irmãos Gilberto e Gilson Marachim, possui um vasto portfólio de negócios que inclui fazendas, lojas de insumos agropecuários e silos de armazenamento de grãos.
O grupo financia agricultores e lavouras nos municípios paraenses e maranhenses de Paragominas, Ipixuna, Mãe do Rio, Tomé -Açu, São Domingos do Capim, Ulianópolis, Dom Eliseu, Rondon do Pará, Abel Figueiredo, Goianésia, Jacundá e Tailândia, além de Açailândia, Itinga do Maranhão e Cidelandia, no Maranhão.
A crise que atinge o setor já vinha se desenhando há meses, mas ganhou novos protagonistas com o pedido da Portal Agro, uma semana após a distribuidora de insumos Agrogalaxy ter feito o mesmo movimento. A decisão do grupo paraense, tomada pela 2ª Vara Cível e Empresarial de Paragominas, destaca a combinação de fatores que levou a empresa a essa situação: o aumento dos custos de insumos, a queda dos preços das commodities e a inadimplência dos produtores rurais.
Nos últimos dois anos, o Grupo Portal Agro recorreu ao mercado de capitais para captar recursos por meio da emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), em parceria com as securitizadoras Opea e Ceres.
Entretanto, a queda inesperada dos preços das commodities na safra 22/23 e os problemas climáticos durante a colheita da safra 23/24 resultaram em perdas significativas, comprometendo a viabilidade financeira da empresa. As lavouras foram afetadas pelas chuvas excessivas, gerando prejuízos na secagem e perda de qualidade dos grãos, além de desvalorização contínua da soja.
Golpe duro e desemprego
Para muitos, o pedido de recuperação judicial da Portal Agro representa não apenas o colapso de uma empresa, mas um golpe duro para a economia local. A companhia financia grande parte da produção agrícola da região, fornecendo insumos e viabilizando o plantio. Agora, com as finanças deterioradas e as dívidas acumuladas, centenas de trabalhadores foram demitidos, agravando o cenário de desemprego em cidades como Paragominas, Dom Eliseu, Rondon do Pará e Tailândia.
Os reflexos dessa crise já são sentidos por pequenos e médios agricultores, que depositam seus grãos nos silos da empresa e agora correm contra o tempo para resgatar suas colheitas. A dependência de muitos produtores em relação ao financiamento da Portal Agro torna a situação ainda mais preocupante, especialmente em um contexto de juros elevados e dificuldades de crédito. A incerteza sobre o futuro da empresa levanta dúvidas sobre um possível efeito dominó no setor, com o risco de que outras empresas sigam o mesmo caminho.
Os maiores credores do grupo incluem as securitizadoras Ceres e Opea, além do Fiagro-FIDC Portal Insumos, voltado para investidores qualificados e gerido pela Milênio Capital. O montante da dívida e o cenário desafiador vivido pelo setor lançam sombras sobre a recuperação da empresa, deixando os trabalhadores e produtores em estado de alerta.
Essa crise expõe a fragilidade de um dos setores mais importantes da economia paraense e coloca em xeque a sustentabilidade de um modelo econômico que, por muitos anos, foi motor de crescimento para a região. Agora, resta saber se o Grupo Portal Agro conseguirá se reerguer ou se o impacto de sua queda será ainda mais devastador para o agronegócio local.