Lideranças indígenas, quilombolas e comunidades impactadas pela violência que domina a região entre o Acará e Tomé-Açu saem em defesa do cacique Paretê Tembé, que tem sido atacado, segundo elas, pela empresa Brasil Bio Fuels (BBF). Os ataques, afirmam, seria uma forma de desviar o foco da grilagem de terras, invasão de territórios para plantio de palma de dendê, além de diversos crimes ambientais.
Dizem elas que os conflitos passaram a aumentar depois que a empresa instalou uma segurança patrimonial ostensiva que vem criando obstáculos ao tráfego dos moradores. Foram cavadas valas, criadas barreiras físicas, impedindo o direito de ir e vir das comunidades. E questionam o escoamento de resíduos da atividade de extração de dendê, contaminando rios e igarapés que são fonte de água e alimentos para a região.
“Criminalizar as lideranças tem piorado o conflito com as comunidades. Os discursos carregados de racismo e ódio estimulam violações contra nossas comunidades e paralisa as ações do Estado que deveriam promover assistência, proteção e garantias de direitos. E agora, a empresa busca intimidar os povos indígenas em uma nítida tentativa de cercear nossa liberdade de expressão, que é a ferramenta mais importante para denunciar as violações de direitos humanos”, criticam. .
Para essas lideranças, páginas de notícias estão sendo pagas e perfis falsos foram criados nas redes sociais para “atacar e criminalizar as lideranças indígenas”. A escalada do conflito, apontam, “é de responsabilidade da empresa, por ter rompido unilateralmente o acordo de compensação”.
E mais: como esses crimes acontecem em territórios distantes dos olhares das autoridades “acaba ocorrendo uma fabricação de provas que incriminam as lideranças indígenas”. Isso ocorre porque são essas as lideranças que conduzem o movimento indígena de retomada da terra, de reconhecimento do território indígena. Por isso, elas são alvos preferenciais dos que têm seus interesses contrariados.
Em vista disso, ainda segundo a manifestação enviada ao Ver-o-Fato, as lideranças acreditam que a força federal, por estar mais distante dos conflitos que são travados no município, teria “maior isenção para empreender essas investigações na busca da verdade, na busca de saber a verdadeira motivação do crime, se tem alguma relação com a disputa pela terra e para evitar a incriminação de pessoas inocentes”.
Essa é a resposta que o Estado dá à luta pelos direitos indígenas. E tudo faz parte de um repertório mais amplo de repressão, com ameaças e assassinatos, implementados de forma mais conjunta. que seria “transformar os Indígenas, de heróis históricos, em criminosos, em pessoas contrárias às leis sociais e morais, portanto vândalos, mediante a adoção de artimanhas e o que é pior, usando do Poder Judiciário para tal fim”.
Sustentam também que esta é a demonstração inequívoca da intolerância e racismo que sofrem juntamente com toda a comunidade indígena do país. “Fomos e somos historicamente perseguidos, quando na verdade a única coisa que querem é ter as suas terras de volta, proteger nosso povo e a sua heroica história, sobretudo sua sobrevivência, inclusive sua cultura”, argumentam as lideranças.
O ataque a Paratê Tembé
Sobre os ataques e a campanha de assassinato de reputação empreendida contra o líder Paratê Tembé, que além de já pagar com seu próprio sangue e ser processado criminalmente por um mosaico de supostos crimes, tudo com o objetivo de “manchar o bom nome e a credibilidade de que desfruta no seio da comunidade, inclusive a indígena, não somente em território nacional, mas também internacional”, o manifesto afirma que o interesse oculto da BBF e de suas parceiras de arbitrariedades “visa exclusivamente, a tutela do povo e às terras indígenas, ainda que com o prejuízo de ter a liberdade de ir e vir tolhida”.
“É vergonhoso, é inadmissível não só do ponto de vista legal, como também sob o aspecto moral, o que estão fazendo contra os que defendem as terras indígenas e as comunidades da região do Acará e Tomé-Açu”, desabafa o documento..
“Hoje, ser líder de um povo é ser criminoso. Retomar nosso Território Tradicional, visto o Estado não cumprir com seu compromisso, virou esbulho possessório; agir coletivamente – marco tradicional de todos os povos indígenas – virou formação de quadrilha e lutar por nossos direitos negados pelo Estado Brasileiro, virou exercício arbitrário das próprias razões. Somos um povo, um povo guerreiro, temos nossa tradição e nossa forma diferenciada de ser e agir e queremos ser respeitados como tais”, resumem.